domingo, 31 de outubro de 2010

Paulo e as putas da Lapa

O novo filme do Arnaldo Jabor é chato, mas muito chato mesmo. O que é uma pena. A Suprema Felicidade tem cenas bonitas, reconstituição de época caprichada, bons atores, uma visão idílica do Rio pós Segunda Guerra - mas é impossível assistir a mais de 2 horas de atores declamando na tela em tom teatral numa história formada por fragmentos de memória em ordem não cronológica que a gente não tem a menor ideia para onde está indo.

É mais ou menos como uma coletânea de videoclipes. Alguns são mais interessantes, outros bem menos - mas assistir a uma sequência de videoclipes acaba cansando independente da qualidade. O filme tem uma certa grandiosidade e uma marcação meio amarrada que lembra em muito um grande musical. E faz a gente sair do cinema com a sensação que ficou faltando muita coisa - exatamente como se tivesse visto um grande musical onde ninguém canta.

E tem muita puta. OK, é esperado que nas memórias de um homem haja algum tempo dedicado a prostitutas, mas o filme parece não perder uma oportunidade de colocar uma puta em cena, às vezes muitas putas, às vezes uma multidão de putas. O tempo todo. Quase todas as personagens femininos são putas.

Marco Nanini e Elke Maravilha fazem os avós do personagem principal e conseguem deixar interessantes todas as cenas em que participam. João Miguel (de Estômago) faz um pipoqueiro tarado cujas cenas também conseguem elevar o filme. Foi graças a eles que eu consegui ficar acordado durante a projeção.


Agora só falta o papa...

Pastor Jim Swilley
Há um mês eu escrevi aqui sobre as histórias tão comuns de pastores evangélicos que acabam se revelando homossexuais. Mas a recente onda de suicídios de jovens gays americanos está alterando um pouco o roteiro desta velha história.

O pastor americano Jim Swilley, pai de quatro filhos e recém divorciado depois de 21 anos de casamento, surpreendeu seus fiéis no sermão durante o culto na semana passada ao anunciar: "Existem duas coisas na minha vida que representam uma certeza absoluta. Eu não pedi nenhuma delas; ambas me foram impostas. Eu não tive como controlá-las. Uma foi o chamado de Deus na minha vida. A outra foi a minha orientação sexual."

Jim Swilley confessou ser homossexual em frente a toda a congregação. Disse que já havia conversado com a família, que o apóia, e que sua ex-esposa sempre soube de sua condição. Disse que tentou esconder o quanto pôde, exatamente como alguém que usa lentes de contatos para esconder a verdadeira cor dos olhos - as pessoas estão vendo a outra cor, mas a cor verdadeira continua lá embaixo. E disse que tomou esta decisão depois de se comover muito com as histórias dos jovens gays americanos que se mataram recentemente. E assegurou aos fiéis que ser gay não é uma escolha, mas uma condição.

Pois é... agora só falta o papa...

sábado, 30 de outubro de 2010

Os candidatos de corpo inteiro

O último debate entre os candidatos a presidente só deixou uma certeza: é preciso encontrar uma nova fórmula que permita que este tipo de debate deixe de ser apenas mais uma oportunidade para o candidato desfilar um monte de frases de efeito decoradas. A Globo inovou no formato neste debate final, colocando os dois candidatos em pé no meio de um tablado formando uma arena, mas os ganhos não foram muito grandes.

A movimentação dos candidatos deixou o programa bem mais dinâmico. Mas cada um dos candidatos se portou como se o outro não estivesse ali a alguns centímetros de distância. Cada um deles foi solenemente ignorado pelo outro e não houve nenhum confronto direto. Eles nem se olhavam. Isso deixou o programa com um ar meio surreal.

Como sempre, os dois candidatos tinham respostas prontas para tudo, citando cifras e números que ninguém nunca vai checar mesmo. Serra fala melhor e consegue ser mais didático, e Dilma continua com quebras incômodas de discurso deixando falas inacabadas e sobras de frases no ar - mas nada que defina uma eleição.

No quesito estética, o formato privilegiou Serra em muito. Serra é muito feio e tem uma cara estranhíssima, e nos closes de rosto sempre perde disparado para Dilma, que teve a cara toda recauchutada e ficou mais fotogênica (desde que não esteja rindo, quando os dentes se projetam para fora e não a favorecem). Mas na imagem de corpo inteiro Dilma decididamente não se deu bem.

Serra usava um terno discreto de corte fino - é um padrão clássico que não tem como dar errado. Já Dilma ostentava uma silhueta muito bojuda para pernas muito finas, e o contraste era aumentado pelo tom claro da roupa. Em algumas tomadas o candidato era mostrado de costas, o que para Dilma foi um desastre - um corpo muito grande com ombros largos e uma bundinha minúscula realçada de modo errado pelo terninho claro. Lembrei-me de um desenho animado que tinha uma pulga meio fortinha com este tipo de corpo. Quando Dilma estava de costas eu cheguei a pensar várias vezes que ela tinha sido substituída pelo Hubert do Casseta & Planeta.

Cheiro de gente

Cheiro de gente é ruim? Por que as pessoas usam tantos produtos para disfarçar ou esconder o próprio cheiro?

Uma reportagem de hoje no New York Times informa que, apesar de ser mais fácil para uma pessoa admitir uma traição conjugal do que confessar que não toma banho com frequência, começa a crescer entre os americanos a ideia de que talvez o banho diário não seja uma necessidade assim tão grande. São pessoas que abandonaram desodorantes e xampus por uma vida mais natural, e que começam a assumir o próprio cheiro. O argumento utilizado é que não somos mais caçadores e fazendeiros como no passado, e que o banho diário deixou de ser uma necessidade.

Em favor dos "sujinhos" está a comprovação que o banho frequente acaba por remover óleos naturais que protegem a pele - e a descoberta mais recente que bactérias úteis vivem na superfície cutânea e ajudam na produção de antibióticos que protegem o corpo de doenças. A remoção destas bactérias  diminui a imunidade e propicia o aparecimento de doenças.

Hum.... sei não se esta moda pega por aqui. Todo mundo sabe que o homem transpira o que come. E numa cultura de comida bastante condimentada como a nossa, os alimentos preparados à base de muita cebola e alho não produzem suores de aroma muito agradável. Soma-se a isto o fato de morarmos em um país tropical com alguns dias de sol senegalês, e a falta de banho pode produzir resultados desastrosos. Embora no reino animal existam espécies que usam o cheiro como atrativo sexual, eu continuo achando que para os humanos o cheiro do corpo na hora do sexo pode funcionar muito mais como fator de repulsa do que de atração.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

It's all over now, Baby Blue...

Hoje encerra-se a campanha eleitoral mais bizarra de que se tem notícia em toda a história do país. Durante algum tempo eu me peguei perguntando sobre o debate que nunca houve com os problemas do país e as propostas dos candidatos. Mas daí eu resolvi descer dois degraus abaixo das nuvens que fazem com que a gente ache que tudo deve ter um propósito nobre.

E me dei conta do óbvio: a principal função da campanha eleitoral para o candidato não é discutir propostas, mas angariar votos. E para angariar votos o candidato vai falar o que não acredita, prometer o impossível, apertar a mão de gente suja e suada na rua, beijar criancinhas remelentas, tomar dezenas de cafezinhos intragáveis, sentar-se com corruptos, e comer com ladrões. À noite o candidato chega em casa e toma um banho demorado para se livrar daquele ranço de povo e manda queimar as roupas encharcadas pelo suor do sacrifício feito pelo voto. Depois de eleito não vai ter o menor pudor em esquecer de tudo que disse - afinal, são só "promessas de campanha" mesmo. E em campanha vale dizer qualquer coisa para garantir votos.

Então, se você quer ver algum nexo nesta história toda, jogue toda a campanha no lixo. Esqueça tudo que viu e ouviu nestes últimos meses. O período da campanha não serviu para nada, senão para tentar vender uma falsa ilusão.

Eu voto no Serra, e esta tem sido minha posição desde o início. Estou ciente da pletora de defeitos que ele carrega, mas não tenho dúvida que ele é melhor, mais preparado e mais eficiente que a Dilma. Mas tenho que admitir que a campanha da Dilma foi muitíssimo mais bem elaborada. A ponto de vender melhor a falsa ilusão. Dilma continua a mesma mulher sem nenhum estôfo político do começo da campanha - só que agora com frases mais bem decoradas. E com um agravante - a campanha de Dilma é toda centrada em um produto que não vai ser entregue: o Lula!

        Leave your stepping stones behind, something calls for you
        Forget the dead you've left, they will not follow you
        The vagabond who's rapping at your door is standing in the clothes you once wore
        Strike another match, go start anew
        It's all over now, Baby blue....

                          (Bob Dylan)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Paixão de moleque

Diz a piada que o netinho perguntou assim: "Vovô, é verdade que quando você era criança não existia televisão?". E ante a confirmação do avô o netinho retrucou: "Então como é que vocês jogavam videogame?".

Deve ser realmente difícil para os mais jovens imaginar um mundo sem todas as facilidades que a internet trouxe para dentro de nossas casas. Mas todos com mais de 40 anos certamente vão se lembrar que houve um tempo em que a fotografia mais erótica de um homem a que se tinha acesso eram as ilustrações das embalagens de cueca. Alguns adolescentes daquela época desenvolviam paixões inconfessáveis pelos homens daquelas fotos.

O mundo era bem menos sexualizado. O cinema e a televisão não eram cheios de corpos sarados sem camisa em plena sessão da tarde. O padrão estético vigente era outro. Uma cena rápida com um ator gostosão que mostrasse uma nesga de peito cabeludo por debaixo da camisa já se transformava imediatamente em algo antológico. Tom Selleck e Burt Reynolds, que exalavam virilidade, encabeçavam as listas das "paixões de moleque" da época.

O site Boy Culture fez recentemente um levantamento das "paixões de moleque" mais comuns das últimas décadas. Você ainda se lembra da sua primeira?


















quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Irmãos & pais & mães & tios & sobrinhos

Gilles Marini
Será que alguém ainda continua assistindo Brothers & Sisters além de mim? A série entrou na quinta temporada depois de perder muito fôlego ao longo do caminho. Para renovar o ânimo os autores criaram um mega acidente no último capítulo da quarta temporada que sacudiu todo mundo. Um personagem importante morreu no acidente, outro perdeu a memória, e os rumos da história se alteraram. Acabou-se a empresa familiar e toda a chatice envolvida na administração do negócio, e foi-se também a outra chatice que era o envolvimento dos personagens com a política e as eleições americanas.

Ficou o que era a proposta inicial da série de focar no drama familiar, e um novo acontecimento interessante: o personagem Saul, um gay de cerca de 60 anos de idade que só se assumiu bem tarde, descobre que é HIV positivo e tem que lidar com os desdobramentos naturais que envolvem aceitação, rejeição, e apoio familiar.







O gostosão francês Gilles Marini que foi alçado à fama mundial ao aparecer peladinho tomando banho em frente à casa da Samantha em Sex & The City virou personagem fixo interpretando Luc, um pintor que faz um bico como modelo e fica famoso ao posar para um providencial comercial de cueca. Uma das surpresas previstas para esta temporada está no episódio de Natal, com a chegada da mãe de Luc, ninguém menos que Sônia Braga - que se chamará - adivinhem!!! - Gabriela.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A linguagem do amor

O vídeo está no ar há cerca de uma semana e já virou um mega hit. É um rapaz que está aprendendo a linguagem de sinais para se comunicar com o namorado surdo. Mesmo com toda a dificuldade de quem está aprendendo, resolveu mandar uma mensagem em forma de vídeo para o namorado. Tem coisa mais fofa?


Estado de ódio

Alguém já ouviu alguma história de algum adolescente que tenha se matado por ser loiro? Ou por ter olhos azuis? Ou por ter o pé muito grande? Provavelmente não.

A onda de suicídios de jovens gays americanos está começando a gerar alguns bons frutos, apesar do alto preço. Houve um aumento enorme do debate e as pessoas estão começando a chegar a conclusões que podem  se reverter em mudanças positivas concretas, e que nos levam a entender melhor a origem do problema. Eu vi hoje um debate mediado pela jornalista Joy Behar, que incluía Jim McGreevey (aquele que era governador de New Jersey, casado, com filhos, mas se assumiu à força depois que descobriram  seu caso com um consultor para assuntos de defesa e acabou renunciando) e Dan Savage, o idealizador do fabuloso projeto It Gets Better. Neste debate eu ouvi duas expressões que resumem tudo que eu sempre pensei a respeito da situação dos gays na sociedade: cultura do ódio e estado de ódio.

Para entender melhor, é preciso recorrer a dois conceitos muito conhecidos no Direito. Estado de direito é o nome que se dá à condição em que as leis e as instituições são sólidas o suficiente para permitir as garantias e liberdades dos indivíduos - viver em um estado de direito é viver em uma sociedade onde as leis funcionam e o indivíduo se sente forte e protegido pelo estado, e não ameaçado por ele. O contrário é o estado de exceção, onde as garantias e liberdades individuais inexistem e o indivíduo é ameaçado pelo uso arbitrário da autoridade, como nas ditaduras tirânicas.

O que se começa a falar agora - e é uma visão que eu sempre tive - é no estado de ódio. Vivemos em uma condição em que o ódio pelos homossexuais é fomentado pela religião, pelo governo, pela sociedade, e pelas autoridades. Isso tudo forma uma teia complexa que precisa ser desmantelada, pedra por pedra, por meio de leis e políticas anti-homofóbicas severas. As religiões e o governo têm sido, na maior parte das vezes, os grandes incentivadores da homofobia. Estes dois setores são, sem nenhuma dúvida, os principais culpados pelas mortes dos jovens que não conseguem suportar o peso desta carga.

(A propósito, o Dan Savage é realmente fantástico e fala muito bem. Adorei quando a apresentadora menciona o clero e ele fala assim casualmente "eu sempre quis morar numa casa grande e poder usar saia e transar com homens - eu daria um excelente padre!").


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Por debaixo da burca


Enquanto vários países europeus debatem se proíbem ou não o uso do véu islâmico em público, novas polêmicas devem vir por aí. Os lindos olhos azuis que saltam da burca na foto acima são do ator pornô francês François Sagat, em foto para a capa de estreia da revista XNOTDEAD.

Dan Choi é gente que faz

Dan Choi é da Califórnia, tem 29 anos de idade, e é filho de um ministro da igreja batista. Era militar graduado formado em West Point e estava nas forças armadas desde 1999. Serviu no Iraque em 2006 e 2007 como primeiro tenente.

Em março do ano passado Dan Choi ousou dizer em rede de televisão três palavras que mudaram sua vida daquele momento em diante: "EU SOU GAY". Poucos dias depois foi exonerado das forças armadas e desde então tornou-se um dos mais obstinados ativistas pela causa gay e pela revogação da política do "Don't Ask, Don't Tell" que determina que os gays só podem servir nas forças armadas americanas se se fingirem de héteros.

Dan Choi fundou a Knights Out, uma organização formada por alunos, ex-alunos e docentes de West Point destinada a apoiar o direito dos gays servirem nas forças armadas. Já foi preso várias vezes, uma das quais por ter se acorrentado às grades da Casa Branca em protesto. Nestes dias em que a política do DADT está pendendo por um fio e que foi revogada e restabelecida várias vezes, Dan Choi não teve descanso. No momento da revogação ele foi um dos primeiros oficiais a tentar o realistamento em um posto de recrutamento de Times Square na semana passada - e até a equipe do Jornal Nacional da Globo estava lá e noticiou o fato. Dan Choi virou um símbolo na luta pela revogação do "Don't Ask, Don't Tell" e pelo direito dos gays não precisarem se fingir de héteros nas forças armadas ou no dia-a-dia.

Dan Choi é gente que faz.

domingo, 24 de outubro de 2010

A carreata

Tem muita coisa que eu não entendo em uma eleição. Mas uma que me desafia a lógica de forma especial é a carreata. Por que os políticos gostam tanto de uma carreata? Será que eles acham que algum indeciso vai passar e ver aquela zona e subitamente mudar de opinião?

Eu já encontrei com uma carreata enquanto dirigia e a minha vontade foi de acelerar e passar por cima de todo mundo, de tanta raiva. Independente de a carreata ser promovida pelo seu partido ou pelos adversários, é sempre um entrave para o trânsito de uma cidade grande que normalmente já não é dos melhores. E não há nada pior do que estar no volante, atrasado para um compromisso, enquanto dezenas de pessoas pululam ao redor do seu carro em uma frequência que não é a mesma em que você está. Eu odeio gente saltitante.

Será que carreata garante votos?

sábado, 23 de outubro de 2010

Matt Duke

Eu acho formidável ver um garoto assim de apenas 24 anos tão talentoso como compositor e como cantor, cantando com este jeitinho gostoso, falando de sexo de uma forma tão natural. Matt Duke mora atualmente na Filadélfia e tem cara de quem realmente não está nem aí para o sucesso.

E ele é tão fofo, tão gracinha, que merece uma apresentação em dose dupla.




"In 30 some days I'm back on a plane
But wherever I am, the feeling's the same
And you'll bide your time
We'll be okay
Cause in 30 some days
I'm back on a plane home
So we could be like before..."



Matt Duke - 30 Some Days: 



Matt Duke - Sex And Reruns (acoustic version): 

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

3 graus de separação

A Irlanda, atualmente presidida pela ultra simpatizante Mary McAleese (já falei dela aqui), também está em campanha para troca de presidentes com eleições agendadas para novembro. O candidato que está na dianteira, com larga vantagem, é David Norris. David Norris está prestes a se tornar o primeiro presidente gay da Irlanda. O fato de ele ser assumidamente gay é tão natural que nem entra em discussão na campanha.





No Brasil os dois candidatos mais votados no primeiro turno fazem alianças com deus e com o diabo em troca de votos. Ignoram toda a história de luta pela igualdade de direitos dos homossexuais e se curvam às demandas da extrema direita religiosa.


Na Uganda, onde ser gay é praticamente uma sentença de morte, um jornal publicou as fotos de 100 homens gays do país. Assim a própria população pode se encarregar de caçá-los e linchá-los, poupando a polícia do trabalho de ter que prendê-los e executá-los na cadeia.








Eu cresci acreditando que todos os homens são iguais. Mas nunca conseguiram me explicar porquê alguns homens são muito menos iguais do que outros.

Orgulho

Nunca me ensinaram a ser assertivo na infância ou adolescência. Muito pelo contrário. Em Minas - onde nasci e cresci - é considerado rude ser muito direto ou falar o que se pensa. Os assuntos delicados são tratados com excessivo tato e muito rodeio.  Meu primeiro choque com uma sociedade assertiva foi nos Estados Unidos, uma cultura que prega desde o berço a se dizer com firmeza o que se pensa.

No final de um jantar delicioso a anfritriã americana trouxe um pudim lindíssimo que me encheu a boca de saliva só de olhar. Quando ela me ofereceu eu recusei, é claro. Porque em Minas é falta de educação aceitar algo assim logo de cara - dá a entender que a gente está morto de fome. O costume em Minas é recusar, porque a anfitriã sempre vai insistir duas ou três vezes - e na terceira o convidado aceita com aquela cara de já-que-você-insiste-então-eu-vou-provar-um-pedacinho. Fazer um pouco de cu-doce faz parte da boa educação mineira.

Pois a anfitriã americana me ofereceu um pedaço do pudim e eu recusei por educação. Ela virou e guardou o pudim na cozinha e no resto da noite não se falou mais nisso. E eu voltei para casa e ainda penso naquele pudim até hoje. Porque na lógica deles se eu quisesse o pudim eu deveria ter dito. Americano não consegue processar o ato de fazer cu-doce. Um americano é capaz de olhar para você e dizer que não gostou da sua camisa, assim, sem mais nem menos, sem você perguntar nada. E para eles isso não é rude. Porque eles aprendem desde cedo a dizer claramente o que estão sentindo doa a quem doer.

Por isso para os americanos gays é tão difícil viver no armário. Por isso existem lá garotos de 14, 15 ou 16 anos, completamente assumidos e resolvidos. Por isso existem também outros garotos mais tímidos que se matam por não terem estrutura para suportar sozinhos um segredo tão grande numa sociedade onde deveriam ser tão diretos. Por isso os americanos em geral têm orgulho de ser como são e baseiam a campanha da igualdade na palavra PRIDE.

Eu sempre fui tímido, quieto e reservado. E muitas vezes me perguntei: "por que eu?". E já desejei ser diferente. Mas hoje eu não mudaria absolutamente nada em mim. Levei muito tempo para descobrir que se tivesse a oportunidade de nascer de novo eu queria ser exatamente do mesmo jeito. Porque eu também aprendi a gostar de mim e a sentir orgulho de ser como eu sou.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Extra! Extra! Extra!

Extra! Extra! Extra!
Cientistas gays na Inglaterra conseguem isolar o gene cristão.

Convenções sociais prêt-à-porter

O comprimento das camisetas que eu uso termina invariavelmente dois ou três dedos abaixo do cós da calça. Curiosamente, algumas pessoas já me perguntaram onde eu compro camisetas com o comprimento tão adequado à minha altura. Acho incrível que nunca tenha ocorrido a estas pessoas mandar cortar e fazer a barra da camiseta como fazem com as calças. Eu faço isso com todas as camisetas que compro.

Esta introdução é só para chegar ao tema deste texto: a constatação que muita gente segue regras e convenções sociais e se esquece de usar a cabeça para adequá-las às suas necessidades próprias. Vivemos em uma sociedade majoritariamente hétero-cristã, então é normal que as regras e convenções criadas por esta sociedade sigam tendências e influências hétero-cristãs. Que, por isso mesmo, podem não ter nada a ver com você.

Tenho amigos que sofrem muito com relacionamentos em relação aos quais têm expectativas erradas baseadas no que eles acham que é esperado deles.  Eu acredito que em um relacionamento existem três valores fundamentais: amor, respeito e cumplicidade. A partir daí, o casal define as convenções que atendem às suas necessidades e nas quais os dois acreditam, nunca perdendo de vista que existe uma grande diferença entre namorado e bichinho de estimação.

Eu tenho cabeça suficiente para saber o que serve e o que não serve para mim. Eu odeio que tentem me padronizar. E não preciso de padrões hétero-cristãos prêt-à-porter pautando a minha vida. Como no caso das camisetas, eu antes 'corto e faço a barra' em muita convenção social que existe por aí. E olha que tem sobrado muito pano.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

As esperanças vãs de Puck

Mais conhecido como Puck, o bad boy de corte moicano de Glee, Mark Salling lança na próxima segunda-feira seu primeiro disco solo. Nas 12 faixas de Pipe Dreams impera uma certa atmosfera setentista e oitentista - épocas em que ele ainda nem tinha nascido ou estava recém saído dos cueiros (ele nasceu em 82). Achei assim meio Simon & Garfunkel meio Seals & Crofts, mas não no bom sentido. Acho que faltou um pouco de sal - talvez fique melhor no vídeo com a carinha dele enfeitando a música.



Mark Salling - Lone Ranger: 

O arco-íris do Google

Eu adoro o Google e tudo que eles fazem. O Google Street View, o Orkut, o Picasa, o Google Earth, o Blogger - sempre achei tudo muito maneiro. E conhecendo um pouco mais do Sergey Brin e do Larry Page - os fundadores do Google - fica fácil entender como eles chegaram até aqui. Deve ser uma delícia trabalhar com gente assim. Nesta apresentação no TEDTalks o Sergey Brin começa dizendo mais ou menos assim: "Vou começar logo de cara tirando uma dúvida que eu sei que está na cabeça de muitos de vocês. Estou usando cueca samba-canção". Ele me ganhou nesta frase.

O Google é considerado uma das melhores empresas para se trabalhar. E também uma das mais gay-friendly. Não deve ser à toa que o logo da empresa lembra um arco-íris.

Eu achei muito legal este vídeo que os funcionários LGBT do Google fizeram em solidariedade aos garotos que sofrem bullying homofóbico no mundo inteiro. Alguns depoimentos são emocionantes. E tem até uma funcionária transexual que dá seu depoimento. Eu não consigo pensar em uma outra empresa onde os funcionários gays se sentiriam tão confortáveis para se expor assim.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Tiririca deles

Christine O'Donnell, a tiririca deles
Quem pensa que Tiririca é exclusividade do Brasil se engana. Os Estados Unidos têm eleições para deputados e senadores no próximo dia 2 de novembro e entre os candidatos abundam os equivalentes do nosso Tiririca. A tiririca que está causando mais furor atende pelo nome de Christine O'Donnell, é candidata do partido republicano a senadora pelo estado de Delaware, e tem uma plataforma toda voltada para a inclusão dos princípios bíblicos nas escolas públicas e na vida civil. Entre outras coisas, é contra os gays e contra a masturbação.

As visões políticas de Christine O'Donnell são tão distorcidas que ela chega a ser cômica. Seu desempenho em debates e entrevistas está no nível de uma Weslian Roriz. Ela já desmentiu várias vezes a afirmação de que é bruxa. E no último debate, quando alguém questionou sobre a laicidade do estado e a separação de estado e religião ela soltou a pérola "mas onde é que está escrito isso?". O pior de tudo: ela provavelmente será eleita. Todo mundo sabe que para eleger alguém assim só é preciso muitos eleitores burros. E os Estados Unidos, assim como o Brasil, são um grande pasto.

Esta semana a atriz Cassandra Peterson, a eterna Elvira do cinema, fez uma sátira engraçadíssima da propaganda da tiririca na TV. "I'm not a witch. I'm you, except with bigger tits". Parabéns a Cassandra Peterson pela ousadia e pela boa forma - a atriz faz 60 anos no ano que vem!

 

De héteros, cachorros e cadelas

Casamento de cachorros é uma coisa muito comum. Existem por aí um monte de madames com tempo sobrando e um monte de gente que gosta de torturar cachorrinhos de estimação, e que promovem grandes festas. Existem até buffets para este tipo de evento. Aqui e em outros países como os Estados Unidos existem centenas de lojas especializadas em organizar o evento e vender as roupinha e os apetrechos e adereços que os bichinhos usam no grande dia. Casamento de cachorros já é coisa bem antiga por aqui.

Agora, alguém me responda por favor: já viram algum político ou religioso reclamando de casamento de cachorros? Ou exigindo que este tipo de evento seja chamado de "união civil" para preservar a santidade da palavra "casamento"? Obviamente que não. Um cachorro e uma cadela podem se "casar" - duas pessoas do mesmo sexo é que não podem, porque aí é falta de respeito.

A "união civil" é a prima pobre do "casamento". É o casamento de segunda classe. Aceitar a "união civil" é aceitar que a ligação entre duas pessoas do mesmo sexo é algo menor.

Os dois candidatos a presidente dizem que são a favor da união civil e que casamento é assunto de religião. Errado. Erradíssimo. Casamento é assunto de cartório de registro civil - é lá que são registrados os atos e emitidas as certidões de casamento. Quando duas pessoas se casam todos os direitos e deveres previstos no código civil e na lei são automaticamente estendidos aos cônjuges. A união civil somente concede alguns dos direitos do casamento.

Eu queria muito fazer duas perguntas para os candidatos, para os políticos, e para os religiosos:
1. Você aceitaria anular seu casamento e trocar por uma união civil?
2. Por que você acha que casamento é coisa só para héteros, cachorros e cadelas?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A música mais gay

Aproveitei o dia chuvoso de hoje para ouvir músicas antigas da minha adolescência nos anos 70 e quase levei um susto quando cheguei a "Ain't Nobody Straight in L.A.". Eu não lembrava mais que já diziam estas coisas abertamente nas músicas em 1975. E esta música fez um certo sucesso até no Brasil, e foi incluída na trilha sonora internacional da novela "Pecado Capital" (a primeira versão).



"La, la, la. Ain't nobody straight in LA.
It seems that everybody is gay.
Homosexuality is a part of society.
I guess that they need some more variety, Freedom of expression is really the thing, Almost everyone is AC/DC..."


The Miracles - Ain't Nobody Straight in L.A






Agora, se você está tentando entender o quê que a foto do Chris Nogiec tem a ver com a música, não perca tempo. A foto está aí só para enfeitar o post mesmo.

Vivi só. Sem amigo com quem pudesse realmente conversar.

Quando meus primos e eu éramos todos muito pequenos e passávamos as férias na casa do meu avô costumávamos ouvir um disco com a história triste de um aviador perdido no meio do deserto que fica amigo de um principezinho misterioso que aparece do nada. Era a única coisa que fazia com que ficássemos absolutamente quietos e atentos, paralisados até. Ouvíamos aquilo dezenas de vezes durante as férias e terminávamos sempre com lágrimas nos olhos. Só muito tempo depois fui ter contato com a versão escrita de O Pequeno Príncipe que todo mundo obviamente conhece. Não é preciso ter sido miss para se ter lido ou ouvido falar do livro.

A velha casa continua lá. Está mal conservada, escura, com cheiros que já não me são mais familiares - e tudo parece bem menor do que como eu lembrava. Fui revirar uma caixa com coisas antigas armazenadas em um quarto e encontrei exatamente o disquinho com a história que marcou minha infância com tanto impacto. E ao analisá-lo me dei conta do que tinha em mãos: o original da versão dramatizada da obra de Exupéry gravada em 1952 pela turma de teatro do Paulo Autran, ele próprio interpretando o aviador que narra a história. Com trilha sonora assinada por ninguém menos que Antônio Carlos Jobim!

A gravação provocou em mim adulto um outro sentimento. A identificação começou logo na primeira frase do relato: "Vivi só. Sem amigo com quem pudesse realmente conversar." E eu, que quando criança me via no principezinho misterioso, agora me enxerguei no aviador solitário. Mas no final eu chorei do mesmo jeito.


O Pequeno Príncipe (com Paulo Autran) - Parte 1: 


O Pequeno Príncipe (com Paulo Autran) - Parte 2: 

sábado, 16 de outubro de 2010

Overdoses

Nem bem me curei desta overdose de política que tem me deixado quase doente, encontro-me agora exposto à overdose de família. Estou em Minas, lutando com um wi-fi lento, o cansaço pela festa de família de ontem e os preparativos para o casamento de hoje.

Foi quando recebi o convite com o meu nome cuidadosamente caligrafado que comecei a me dar conta da grande importância que as familias em geral atribuem a este rito de passagem. É quase uma obrigação para a família toda participar - e você acaba sempre encontrando com aquela ala estendida da família que só se vê em casamentos e enterros.

Eu passei as últimas horas cumprimentando as tias velhas, fingindo atenção ao ouvir cada um dos nomes dos filhos dos primos que ainda não conhecia, e repetindo sem parar "nossa, quanto tempo!", "nossa, como o tempo passa!". Não é que não seja bom. É gostoso rever todo mundo. Mas, considerando que sou extremamente antissocial, este não é o programa que eu normalmente escolheria para o meu final de semana.

Uma mulher que se preze jamais repete um vestido em casamentos. Casamento é festa que requer roupa nova e inédita. E elas sabem que as amigas vão reparar e lembrar exatamente onde foi que o vestido mostrou a cara antes. O que comprova que as mulheres se vestem para as outras mulheres e não para os homens, que normalmente não prestam atenção a este tipo de coisa. Tenho certeza que vou me divertir um pouco com os arroubos de criatividade feminina: os grandes casamentos sempre têm pelo menos uma mulher vestida com algo que lembra um abajur.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dilma subiu no telhado

Os resultados das últimas pesquisas de intenção de voto acenderam luzes vermelhas e sirenes de alerta na campanha da Dilma. Os dois candidatos estão agora em posição de quase empate técnico, embora ainda com vantagem para a candidata do PT. E sobram motivos para um verdadeiro barata-vôa entre os marqueteiros de campanha:

1. As pesquisas costumam tradicionalmente pender mais para os candidatos de esquerda do que depois se comprova nas urnas. Os tucanos sempre tiveram mais pontos na urna do que previam as pesquisas, e  para o PT sempre foi o contrário. Inclusive nas eleições de duas semanas atrás.

2. Sempre houve um consenso entre os analistas políticos que havia um teto de crescimento para a Dilma além do qual ela não conseguiria passar. A rejeição alta forma um bloqueio impenetrável. Estima-se que este teto foi alcançado e inflado pela euforia dos eleitores pelas pesquisas que antecederam a eleição. A tendência agora é desinflar.

3. Dilma está caindo e Serra está subindo, o que coloca o tucano em uma posição muitíssimo mais confortável. Resta saber até quando um cai e até quando o outro sobe. É um momento ou é uma tendência?

4. Deixar a campanha resvalar para o lado religioso foi um erro. Nenhum dos dois candidatos está sabendo muito bem como sair agora deste atoleiro. O Serra tem levado alguma vantagem pois está conseguindo ser menos cobrado e consequentemente está fazendo menos promessas estapafúrdias. A Dilma acabou entrando em uma arapuca e não está conseguindo retomar as rédeas da situação - quanto mais mexe mais afunda. Bem lá no fundo, tanto a Dilma quanto o Serra têm mesmo é vontade de explodir toda esta extrema direita religiosa - os dois já demonstraram que estão bem acima desta ignorância toda. Mas falar isso abertamente para milhões de eleitores potenciais são outros quinhentos.

5. A ajuda do Lula, que foi essencial para Dilma chegar até onde chegou, está virando um estorvo. Na empolgação o presidente não tem falado coisa com coisa e tem dado munição para ataques. E ninguém consegue convencê-lo que a overdose de remédio também mata o paciente.

6. Dilma está cansada. Muito cansada. E já não está dando para disfarçar mais. Ela está inchada e irritada, e quando está parada do lado de alguém discursando ela tem demonstrado exaustão.

** Daqui a pouco viajo para Minas para um casamento de família e fico por lá durante o final de semana. Vai ser ótimo fazer uma sondagem sobre como andam as opiniões políticas por aquelas bandas. Minha família toda sempre respirou política de forma apaixonada desde os tempos de MDB e ARENA.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dilma decide hoje se assina atestado de hipócrita



Em 2008 o presidente Lula deu a entrevista acima. O trecho fala especificamente sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. E Lula disse textualmente "Eu a vida inteira defendi o direito à união civil. Porque eu acho que nós temos que parar com esta hipocrisia neste país, porque a gente sabe que existe...". E fala muito mais - externando uma posição bastante coerente e sensata.

Agora, pressionada pelas igrejas evangélicas e em troca de votos, Dilma está prestes a assinar uma carta aberta se comprometendo a não apoiar novas políticas para a questão do aborto e da igualdade no casamento. Na atual circunstância, conforme definido pelo próprio chefe e mentor da candidata, um autêntico atestado de hipócrita.

Os atributos do homem

Eu odiava aquelas calças com preguinhas que foram moda há algum tempo. Era vestir e a gente ficava todo reto na frente que nem uma tábua - parecendo que não tinha pinto. Ainda bem que estas calças sumiram - alguém deve ter tido a brilhante ideia de fazer uma montanha com elas e tacar fogo.

Assim como as mulheres sempre se preocuparam em escolher sutiãs que realcem o busto, os homens agora também começaram a se preocupar com o tipo de cueca e de calça que realcem seus... digamos... atributos. Mas a escolha entre usar cueca slip, samba-canção, boxer, ou nada, é muito mais que só uma questão de conforto ou de realçar o físico. Depende também da companhia e das intenções.

O debate sobre realçar os atributos, no entanto, está em: até que ponto? E quem está na crista do debate é o gostosão Jon Hamm, que parece gostar de criar o bicho solto. Agora estão reclamando no estúdio de gravação que todos perdem a concentração quando Jon está por perto. É só olhar para ele que fica impossível... assim... o que que eu estava falando mesmo?

Mais provas aqui.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Joshua Radin

Embora esteja na estrada desde 2004, o nome deste americano de Ohio só agora começa a se popularizar, mas sua voz já é bastante familiar em episódios das séries BonesScrubsHouseGrey's Anatomy, Brothers & Sisters e outras.

Joshua Radin lançou ontem seu 3º album de estúdio - The Rock and the Tide, confirmando o jeitão de poeta romântico incorrigível com olhos carentes que nunca perdem a capacidade de inspirar.

"What if you could wish me away
What if you spoke those words today
I wonder if you'd miss me
When I'm gone..."






Joshua Radin - What If You




terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sai o sol

É normal que depois de se tornar fã do trabalho de um cantor a gente busque conhecer mais sobre sua vida. Comigo em relação à Shakira a coisa aconteceu no sentido inverso. Comecei gostando da pessoa, e depois fui descobrir a artista.

Era 1997 e eu era gerente para o mercado argentino de uma multinacional alemã do setor automotivo no Brasil. Na manhã daquela 3ª feira de sol eu saí da fábrica, deixei meu carro para revisão em uma concessionária de Guarulhos e tomei um taxi até o aeroporto. Já estava resignado a ter os próximos 2 ou 3 dias em Buenos Aires com negociações complicadas e reuniões chatíssimas. No embarque, entre os passageiros habituais, havia umas 8 a 10 pessoas com camisetas pretas escrito SHAKIRA na frente. Logo vi que se tratava da banda mais a equipe de apoio da cantora. Eu já tinha ouvido falar de Shakira, muito vagamente. Assim mais ou menos como uma Wanessa Camargo - a gente sabe que existe mas não tem a menor ideia que apito toca e nem está interessado em saber.

Foi só durante o vôo que eu realmente vi a Shakira. Estava acompanhada de um casal mais velho que parecia ser os pais. Aparentava ter pouco mais do que 20 anos ou talvez nem isso, cabelos ainda pretos como a asa da graúna, muito bonita, e uma simpatia tão grande que quase não cabia na cabine. Sorridente o tempo todo, caminhou várias vezes pelo avião quase vazio talvez testando a própria notoriedade, e toda vez que era reconhecida parava, dava autógrafo, conversava, sorria muito. Mas um sorriso muito natural, não era aquela coisa mecânica e congelada. Sorriu para mim de um jeito que me fez pensar que estava sendo paquerado, como devem ter pensado todos os outros homens do avião. Mas não era nada sensual ou provocante - era uma coisa simpática e quase ingênua.

Na chegada ao aeroporto de Ezeiza havia umas 20 adolescentes histéricas com faixas e flashes. E ela foi de uma simpatia indescritível com o fã clube adolescente. Fiquei apaixonado pela Shakira, a pessoa. Quando voltei de Buenos Aires fui procurar os discos e conhecer a artista. Gostei muito, talvez motivado pela admiração prévia. Ela ainda era pouco famosa e só cantava em espanhol. Hoje talvez a fama internacional a tenha transformado em uma pessoa diferente.

Lembrei de tudo isso agora, ouvindo o disco novo que vazou hoje na internet e sai oficialmente na semana que vem. Sale El Sol tem músicas em inglês e espanhol, tem baladinhas românticas, faixas dançantes - e deve satisfazer os fãs. Mas acho que nunca vou conseguir ver a Shakira como ídolo. Para mim, ainda durante bastante tempo, ela vai continuar sendo a garota simpática do avião.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Filme de mulherzinha x Filme de homem

No sábado foi o dia de Comer, Rezar, Amar. A crítica especializada já tinha detonado: a adaptação do livro é fraca e a personagem central ficou desinteressante. Eu achei que ela ficou muito mais do que desinteressante - ficou muito chata! Eu odeio gente depressiva, chata, pra baixo, que não está satisfeita com nada - e a Liz do filme é tudo isso junto e mais um pouco. Quando ela chega à India eu fiquei torcendo para ela pegar logo uma leptospirose para livrar o público daquele martírio. Não fosse por uma mosca teimosa e algumas mordidas cenográficas no pescoço da Julia Roberts, a India do filme seria mais asséptica que uma sala cirúrgica. O rapaz sentado à minha frente dormiu da metade do filme em diante, e roncou alto. A moça do meu lado chorava copiosamente toda vez que Julia Roberts vertia uma lágrima. Acho que é isso que se costuma chamar de filme de mulherzinha.

No domingo foi o dia de Tropa de Elite 2. Ao final do filme tive a impressão que as pessoas iam ficar de pé e aplaudir. Mas todos saíram do cinema completamente mudos, e eu estava com a sensação que tinha levado um soco no estômago. Vou precisar de muito tempo para digerir todo o filme - seguramente, um dos melhores que assisti nos últimos anos. É muito difícil tentar apontar um único defeito no filme. Acho que nenhum filme nacional conseguiu até hoje chegar a este nível de enredo bem amarrado, mesmo com toda a complexidade da trama. O filme leva exatamente 1 minuto e meio para começar a ficar interessante, e daí para a frente a gente não consegue piscar um único segundo. O filme é violento, cruel, real, verdadeiro, corajoso, contundente - tudo na medida certa, e Wagner Moura tem um desempenho a nível de Oscar. No final dá vontade de vomitar toda aquela sujeira que a gente viu em duas horas mas sabe que vem engolindo há muitos anos.

sábado, 9 de outubro de 2010

Rir é o melhor remédio

Eu tenho uma dificuldade muito grande com comédias. Pouquíssimas coisas me fazem rir. Não acho a menor graça, por exemplo, em humor que se baseia em caretas, vozinhas supostamente engraçadas ou esquetes sempre iguais somente com o cenário variando a cada semana. O que vale para explicar que, para mim, programas do tipo Zorra Total ou A Praça da Alegria são absolutamente constrangedores, para dizer o mínimo.

Eu costumo gostar muito do tipo de humor que explora de forma inteligente as trivialidades do mundo pop, principalmente com referências de cinema, moda e televisão. Este tipo de humor tem um público muito específico pois quem não identifica a referência não vai achar graça. Como o grande público brasileiro não é muito bem informado este tipo de programa é sempre um grande risco.

Agora, uma coisa é certa: quer testar um novo estilo de humor? Apresente o programa para um grupo de gays. Não existe grupo que seja, em termos gerais, mais bem informado, mais ácido, sagaz, perspicaz, irônico, sarcástico, cheio de malícia, capcioso, ou manhoso. Tudo isto junto e misturado. E isto não é uma teoria, é um fato.

Vi ontem pela primeira vez o novo humorístico da Globo Junto & Misturado. Gostei. Não gostei tipo de rolar no chão de tanto rir, mas gostei gostando - de um jeito apropriado para um programa que começa quase à meia-noite de sexta-feira. Rolar de rir neste horário assustaria os vizinhos, ou provocaria uma congestão. O programa tem um elenco jovem e bonito, simpático até, e é ágil. Tem um formato diferente: cada bloco tem um tema, e o diálogo dos personagens sobre aquele tema vai sendo entremeado com encenações rápidas das absurdidades que estão passando pela cabeça dos atores. Abaixo, o bloco mostrado ontem sobre o famoso ato de brochar. Com exceção do querido leitor e de mim, sabemos que todo o resto do mundo já deve ter brochado um dia.