terça-feira, 31 de maio de 2011

Boys will be boys

O Tony publicou há pouco a explicação sobre o título enigmático do curta Não Gosto dos Meninos (leia aqui) pelo próprio André Matarazzo, idealizador do projeto. A explicação me fez reviver claramente duas fases muito distintas que atravessamos em relação ao sexo oposto.

Quando muito pequenos, antes de qualquer indício de sexualidade, meninos e meninas se comportam como seres de planetas diferentes. Não se misturam. Competem. Raramente brincam juntos. Nesta fase meninos gostam de meninos sem nenhuma conotação sexual.

É depois que crescemos que a coisa muda de figura. Os meninos se juntam para jogar futebol, para falar de azarar meninas, para encher a cara escondidos, para matar aula, e para se gabarem de suas façanhas sexuais que normalmente não passam de histórias inventadas, mas nesta idade a gente acredita em tudo. É nesta fase que o garoto homossexual descobre que não gosta dos meninos. O papo das meninas é mais interessante - elas falam de novela, de artistas de cinema, de romance, de comidas, e também não gostam das brincadeiras violentas e sem graça dos meninos. Nesta fase nascem as grandes amizades do homem gay com a menina que ainda não tem namorado - um suprindo a carência do outro. São geralmente amizades muito fortes que continuam pela vida toda.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Eu gosto dos meninos

Eu tinha 14 ou 15 anos quando passei a ter consciência que os meninos eram muito mais excitantes do que as meninas. A primeira sensação foi de um pavor enorme. Eu achava que a qualquer instante eu ia começar a requebrar, desmunhecar, e falar fino. Comecei a me policiar o tempo todo, andava com as mãos nos bolsos, e monitorava meu andar em algum espelho para ver se não estava rebolando. Uma tortura que eu tinha certeza me acompanharia pela vida toda.

Eu ficava em êxtase quando ouvia alguma notícia sobre alguém famoso que se revelara gay. O rosto viril do Rock Hudson habitou minha cabeça durante muito tempo. Um homem famoso, com cara de homem, jeito de homem, que era gay. Eu tentava me convencer de todas as maneiras que talvez fosse possível esconder aquele segredo hediondo para o resto da vida. Se eu fosse cuidadoso ninguém notaria. O Rock Hudson era meu único modelo, mas estava distante demais da minha realidade.

Acho que minha história não é nem um pouco diferente de milhares de outras de homens da minha idade. Por isso o grande mérito do curta Não Gosto dos Meninos dirigido pelo André Matarazzo e pelo Gustavo Ferri está justamente em apresentar, de uma só vez, uma série de pessoas que vivem em paz com sua sexualidade e conseguem comunicar tranquilidade e orgulho de ser o que são. É um verdadeiro libelo para a conquista desta mesma tranquilidade e orgulho pelos garotos e garotas que estão na fase do pavor causado pela primeira constatação da homossexualidade.

Eu também não entendi o título do filme - imagino que seja uma frase tirada de algum depoimento. Eu teria escolhido um título diferente, mais assertivo, que não fosse uma frase negativa. Sinto-me até mal em fazer esta pequena crítica em face do belíssimo resultado apresentado no vídeo. A exibição deste vídeo deveria ser obrigatória nas nossas escolas. Este deveria ser um dos itens do kit anti-homofobia.

domingo, 29 de maio de 2011

Não gosto dos meninos


Não Gosto dos Meninos from Mirada on Vimeo.

Nunca te vi, sempre te amei

Eu conheço a Marta Matui há dois anos, desde que ela começou o blog que leva o seu nome. Nossa relação se dava em uma dimensão abstrata que chamamos de blogosfera e nossos contatos aconteciam nas postagens e nos comentários do blog dela e aqui do Muque. Nunca havíamos nos encontrado. Até ontem, quando a Marta veio para o interior para um compromisso pessoal e conseguiu um tempinho para tomarmos um café. Conversamos como pessoas que se conheciam há anos, rimos muito, trocamos histórias divertidas e, é claro, fizemos planos estratégicos para dominar o mundo com nossos blogs.

A situação me lembrou muito 84, Charing Cross Road (que no Brasil virou Nunca Te Vi, Sempre Te Amei), a história verdadeira de Helene Hanff, uma americana que durante décadas trocou correspondência com um livreiro de Londres, com o qual desenvolveu uma linda amizade. O livro virou filme com Anne Bancroft Anthony Hopkins em 1987, e é uma delícia de ver. O nome do livro é o endereço da livraria onde Frank Doel (Anthony Hopkins) era gerente e para onde Helene enviava suas correspondências. Quando estive em Londres em 1989 fiz questão de visitar o local, que ainda é uma livraria, e lá comprei o livro, que guardo até hoje com a nota fiscal de compra grampeada na primeira página mostrando o mesmo endereço do título.

Um dos maiores presentes proporcionados pela vida na blogosfera é justamente a oportunidade de fazer novas amizades e conhecer pessoas interessantes e encantadoras. Já  Helene Hanff e Frank Doel não tiveram a mesma sorte. Quando ela finalmente conseguiu ir a Londres Doel já havia falecido.

sábado, 28 de maio de 2011

Emmett Tinley

Depois de dois discos lançados como vocalista da banda The Prayer Boat, Emmett Tinley partiu para a carreira solo com o lançamento de Attic Faith em 2005. De lá pra cá Emmett Tinley vinha se dedicando a shows na Europa, principalmente na Irlanda - onde cresceu.

Mas o hiato na carreira está chegando ao fim. O site do cantor anuncia que o novo disco já está quase pronto para lançamento em setembro. E eu estou aguardando ansiosamente.





Emmett Tinley - Two Years On:

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Casamento já?

O Brasil avançou hoje mais um grande passo em direção à igualdade no casamento. A ARPEN (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil), que congrega todos os cartórios de registros civis do Brasil e é a organização habilitada para oficializar os registros vitais (nascimento, casamento e óbito) no país, divulgou nota oficial afirmando que apóia e recomenda a conversão das uniões homoafetivas em casamentos civis (leia aqui). A foto simpática que ilustra esta postagem é copiada do próprio site da ARPEN-SP.

Estou morrendo de vontade de comer bolo de casamento. Aceito convite para ser padrinho de amigos que resolvam atar o nó.

Bolsonaro's Sex Party

Aquele deputado tanto pediu que vai finalmente receber uma homenagem à sua altura, e quem tiver viagem programada para Nova York no próximo mês não pode perder esta. O artista plástico brasileiro Fernando Carpaneda levará para a Leslie-Lohman Gay Art Foundation em Nova York, de 25 de junho a 2 de julho, a mostra Fernando Carpaneda: Queer.Punk. A mostra inclui uma instalação intitulada Bolsonaro's Sex Party que homenageia o ilustre deputado mostrando-o em meio a uma orgia gay, fazendo sexo oral e anal com rapazes (muito) bem dotados.

As ocorrências do Google para Bolsonaro + sex já começam a ligar irremediavelmente o nome do ilustre deputado às fotos da mostra. Agora o deputado vai finalmente descobrir o verdadeiro significado do termo "liberdade de expressão" que ele tanto tem usado. Talvez ele perceba que a liberdade de expressão só é boa quando é no dos outros.


"Gosté pra caramba!"

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Desconstruindo a heterossexualidade

Eu li uma notícia no jornal de ontem que me tirou do prumo e me deixou enojado durante o dia todo. Era sobre um caso acontecido perto daqui, na cidade de Lorena, envolvendo o estupro de um garoto de 3 anos de idade. Não, você não leu errado. Uma criança de 3 anos de idade foi estuprada e barbaramente torturada até a morte. A notícia está aqui se você tiver estômago para ler.

Mas o que aumentou a minha perplexidade foi ler que os responsáveis por esta barbaridade inominável foram a própria mãe e o padrasto do garoto, e uma amiga do casal. Ou seja, o cenário de pais heterossexuais que é a única conformação recomendada para a criação de uma criança segundo a visão tortuosa das igrejas. Esta restrição descabida e leviana das igrejas se baseia na falácia que a heterossexualidade é uma condição natural.

Divagando sobre as implicações da atrocidade desta notícia me vi pensando no artigo do Prof. Leandro Colling da Universidade Federal da Bahia publicado na Folha de S. Paulo da última terça (aqui para assinantes) sobre a desnaturalização da heterossexualidade. O artigo do Prof. Colling leva a reflexões interessantes sobre a constatação que uma grande parcela do padrão heterossexual é composta de construções culturais e não de traços inatos. Resumindo, a heterossexualidade é bem menos natural do que fazem crer.

E isto tudo me levou a refletir sobre um outro assunto intimamente relacionado: no Canadá uma família decidiu não revelar o sexo de seu bebê para ninguém (notícia aqui). A criança se chama Storm e os pais pretendem criá-la livre de padrões comportamentais masculinos ou femininos para que a criança exercite suas escolhas sem pressões e desenvolva sua sexualidade com naturalidade. Isto sim é desconstruir o padrão de sexualidade dominante em prol de uma sexualidade realmente natural. A ideia é formidável, principalmente considerando que a maioria dos pais começa a construção da "sexualidade pretendida" bem antes do nascimento com a escolha da cor e do estilo das roupas do bebê.

Colocando tudo isto no mesmo pote e adicionando o sentimento de orgulho cada vez mais forte e sólido da comunidade homossexual, é natural concluir que em um futuro não muito distante a heterossexualidade pode perder seu caráter de "invejável" ou "desejada" mesmo que continue sendo o padrão sexual numericamente prevalecente. No futuro muitos pais conscientemente desejarão ter filhos gays.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cúmplices!

É dando que se recebe

Algumas pessoas chamam de toma-lá-dá-cá, outras de uma-mão-lava-a-outra, outras de é-dando-que-se-recebe. Eu costumo chamar de filhadaputice mesmo.

A bancada evangélica se recusou a votar qualquer coisa no congresso enquanto o kit anti-homofobia do Ministério da Educação não fosse cancelado. E no caso de conseguirem o cancelamento, ainda ofereceram, assim de lambuja, impedir a convocação do ministro Palocci para explicar seu enriquecimento fabuloso.

Como consequência da pressão a presidente Dilma mandou suspender definitivamente o kit anti-homofobia.

Agora está tudo explicado. Estamos oficialmente em uma teocracia liderada pela bancada evangélica, um bando de gente feia e mal-comida ajudada por um deputado nazista que sofre de retenção anal. O que mais será que nos espera?

Cartão postal do Limbo


Eu fiquei um pouco chateado com o fim do mundo na semana passada. Não exatamente pelo fim do mundo, mas por eu ter perdido um evento para o qual eu havia contribuído diretamente. Segundo o pastor Camping os gays estavam entre os principais responsáveis pela ira do todo-poderoso. 

Eu tinha resolvido tirar uma soneca pouco antes das seis imaginando que acordaria com o barulho do terremoto. Quando acordei já passava das sete e meia. Deve ter sido tudo muito rápido. Como eu sou fã de carteirinha de filmes como Os Passageiros, O Sexto Sentido e Os Outros, percebi na hora que tinha morrido e que estava no Limbo e que levaria algum tempo para me acostumar com a ideia. Tudo bem, eu sei que não adianta reclamar. Eu também odeio aqueles personagens que são os últimos a perceberem o que aconteceu enquanto o cinema inteiro já sacou o lance e está bocejando. Gente morta que ainda não percebeu que morreu, se não for um político dinossauro tipo Sarney ou Maluf, ou a reprise de Lost, então é personagem de filme dos anos 90. Totalmente fora de moda. Isola!

Liguei para a casa da minha mãe e foi com um certo alívio que descobri que lá também estão todos mortos. Pelo menos estão no mesmo Limbo que eu. Minha mãe disse que na hora do terremoto estava em pé na cozinha e realmente sentiu tudo tremer. Mas também pode ter sido só mais uma crise de labirintite. Estas têm sido cada vez mais comuns.

Pelo menos aqui também tem Internet, facebook, blogs e sexo. Com a vantagem que não precisa fazer regime. Desde domingo que estou comendo tudo que sempre tive vontade. Porque de uma coisa eu tenho certeza: morto não engorda.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Fica, vai ter bolo!

O TONY GOES está completando 4 anos. O blog, não o blogueiro. E eu ainda me lembro como se fosse hoje do impacto que os textos do Tony causaram em mim quando descobri o blog por acidente. Minha reação imediata foi localizar a primeira postagem e vir lendo tudo que havia sido escrito até aquele momento.

Acho que foi a primeira vez que travei contato com textos que tinham uma forte dose de orgulho inerente. E eu digo "orgulho" não no sentido de soberba, mas no sentido de dignidade pessoal, brio, algo que em português também atende pelo nome soturno de "pundonor". A cada postagem que eu lia eu encontrava mais coincidência com o meu jeito de pensar, como se aquele estranho tivesse lido meus pensamentos mais recônditos.

Talvez o Tony nem saiba, e eu nunca disse isto a ele (mas aproveito agora a oportunidade de fazê-lo em público), mas ele foi o grande responsável por reafirmar em mim o sentimento de amor-próprio, a certeza que chegou a hora de parar de ficar me desculpando por ser assim. Este crescimento pessoal foi tão gratificante que a necessidade de compartilhá-lho gerou o Muque de Peão, que é apenas mais um entre os muitos spin-offs gerados pelo blog do Tony.

Eu espero que o Tony tenha gás e paciência para continuar blogando por mais 40 anos, pelo menos.

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*Do dicionário Houaiss:
Pundonor -> matéria ou ponto de honra, aquilo de que não se pode abrir mão, sob a ameaça de ser ou sentir-se desonrado; sentimento da própria honra, do próprio valor; amor-próprio, brio, altivez.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Gagachrome

Descobri que tenho algo em comum com a Lady Gaga. Nós dois usamos o navegador Chrome e estamos muito satisfeitos. Este comercial que ela gravou para o Chrome vai ficar mais famoso que o clipe oficial da música. E a participação de milhares de fãs mostra, mais uma vez, o poder de integração da Internet que ninguém nem podia imaginar há dez anos atrás.


Coming Out


Dizer que o New York Times é simpatizante é pouco. O New York Times é ativista e militante na causa dos direitos GLBT e tem publicado reportagens e editoriais corajosos baseados em opiniões bastante sensatas e sólidas. Hoje o jornal lançou o projeto Coming Out, que vem na esteira de outros grandes projetos americanos como o It Gets Better idealizado por Dan Savage.

Durante uma semana, Coming Out descreverá histórias emocionantes de homens e mulheres gays em busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Histórias que certamente servirão de inspiração para adolescentes em luta pela própria aceitação, histórias que podem cumprir um importante papel de esclarecimento para a sociedade preconceituosa e mal-informada.

Atravessamos um momento de transição em que o esclarecimento pode ser uma estratégia poderosa. Que histórias reais e corajosas como estas ocupem o espaço dos textos religiosos que tentam incutir em nossos jovens conceitos pseudo-moralistas hipócritas e ultrapassados.

domingo, 22 de maio de 2011

Porque é que eles estão tão felizes?

Se há um programa que tem tudo de tradicional é A Grande Família. Por isso achei bacana como conseguiram inserir o assunto da união estável entre casais do mesmo sexo no contexto do programa. Em rodas de cerveja entre amigos é muito comum se lamentar da prisão em que os casamentos se transformam, mas o texto inteligente levou o assunto para a conversa de botequim sem resvalar para a baixaria.


sábado, 21 de maio de 2011

Robinella

Eu gosto muito dos dias frios e ensolarados do outono. Hoje acordei ouvindo Robinella, esta americana do Tennessee com uma voz tão singular que parece fazer o mundo todo se mover em câmera lenta.

Robinella consegue fazer a gente fechar os olhos e acreditar que a vida lá fora parou por alguns instantes. Tem vezes que a gente precisa disto.





Robinella - Break It Down Baby:

Foi dada a largada

O Supremo Tribunal Federal não teria apreciado a causa que levou à equiparação das uniões estáveis homoafetivas se o governo do Rio de Janeiro não tivesse feito um pedido por meio de uma ação jurídica. O STF não se move por conta própria, não acorda um belo dia e fala "ah, vamos fazer uma lei para ajudar os gays, coitados, tão sofridos e tão injustiçados". Não. Na justiça, tirando algumas honrosas ações empurradas pelo Ministério Público, a coisa normalmente funciona na base do "quem não chora não mama".

Durante muito tempo os homossexuais não exerceram seus direitos de cidadãos. Por vergonha, por medo de intimidação, para evitar o escárnio que muitas vezes começava pelo próprio delegado. Mas os tempos mudaram e entramos na era do gay cidadão. Antes tarde do que nunca. E é isto que está incomodando muita gente. Os coitados não estão mais de cabeça baixa esperando o golpe.

Não vejo a hora de começarem os rios de ações de difamação contra as igrejas que pregam o ódio e a discriminação. E, boa notícia: ontem em São Paulo o casal Luis Ramiris e Guilherme Amaral Nunes formalizou o primeiro pedido de conversão de união estável em casamento (a notícia aqui). O ato vai forçar o estabelecimento de um procedimento. Ou o pedido é aceito - gerando o precedente, ou será negado e deverá haver uma fundamentação justificando a recusa, com base na qual se pode iniciar uma ação para que um tribunal dê a palavra final. Considerando que o nosso Código Civil diz que a justiça deve facilitar a conversão das uniões estáveis em casamento esta parece ser uma causa já ganha. Parece que muito em breve teremos mais motivos para comemorar.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Austrália tem talento. E que talento!

Depois desta apresentação ninguém vai ter dúvidas que a Austrália tem talento. E que talento!

Agora, é impressão minha ou o jurado do programa realmente não conseguiu esconder a excitação acima do normal que sentiu pelo candidato gatinho? E ainda perguntar se ele tinha colocado uma meia dentro da sunga ou se o volume era real... Uhm, sei não...  Mas, está desculpado. Até eu que sou mais bobo não conseguiria esconder a animação.


Quantos gays mais Deus vai precisar criar?

Tentar argumentar com um fanático religioso é impossível. Todo mundo sabe que é muito mais fácil fazer uma porta de aço recitar um poema de Camões do que convencer um fanático que as visões dele podem estar erradas.

Steve Simon
Eu sou ateu e jamais usaria um argumento religioso para justificar a homossexualidade. Mas o melhor método para se conseguir pelo menos chamar a atenção deste tipo de gente é usar os próprios elementos de sua crença para colocá-los em xeque.


Foi o que fez Steve Simon, deputado pelo estado americano de Minnesota. Steven era contrário à igualdade de direitos para os homossexuais, mas refletiu sobre o tema e acabou mudando de lado. Em um discurso feito há duas semanas Steve Simon foi muito aplaudido ao lançar para os presentes a brilhante pergunta que havia feito a si mesmo e que o levou a apoiar o movimento gay: "Se é verdade que a orientação sexual é algo nato, uma dádiva de Deus, então quantos gays mais Deus vai precisar criar para que vocês se convençam que Ele quer que os gays existam?"

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A liberdade religiosa no Brasil não pode ser ameaçada!


Um dos principais argumentos daqueles que lutam contra a aprovação da lei anti-homofobia é que a liberdade religiosa não pode ser ameaçada no Brasil. Taí um argumento com o qual eu concordo inteiramente. Mas infelizmente eles estão usando o argumento de forma errada.

Liberdade religiosa é um direito fundamental. Mas não significa o que eles pensam. Liberdade religiosa é o direito que cada um tem de ser livre para seguir a religião de sua escolha, ou até de não ter religião nenhuma. Em muitos países não é assim. Mas no Brasil a liberdade de religião é assegurada pela constituição, e é ótimo que continue assim.

Por algum motivo tortuoso começaram a chamar de 'liberdade religiosa' no debate o argumento de que as igrejas possam pregar qualquer ensinamento proveniente de seus livros. Alto lá! As igrejas não estão acima da constituição e da lei, e jamais poderão pregar ilegalidades. Ou alguém acha que se alguma igreja começar a pregar a inferioridade dos negros e a volta da escravidão ela não será enquadrada rapidinho?

O STF já disse que os homossexuais constituem famílias comparáveis às famílias convencionais. A medicina já disse que homossexualidade não é doença. Isto já é evidência suficiente para que alguém muito ofendido inicie um processo de difamação contra alguma igreja. Com que base um juiz vai decidir que uma igreja tem o direito de difamar os homossexuais depois de todos os argumentos apresentados pelo STF que versavam principalmente sobre dignidade e justiça?

Eu sou de opinião que a as igrejas precisam, sim, ser impedidas de continuar difamando os gays. E que só vão aprender quando forem processadas e tiverem que começar a desembolsar gordas indenizações por danos morais.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

If only...


Existem várias formas de preconceito. Uma delas é a omissão.

Adorei este vídeo de Cingapura lançado para celebrar o Festival "Pink Dot" em prol da diversidade, que acontece em um mês. Fiquei emocionado. Talvez seja pelos vários anos vendo tanta coisa e tendo que segurar o nó na garganta, mas ultimamente tenho me sentido um pote até aqui de lágrimas. O YouTube me tem feito chorar muito. E este vídeo lindo é todo trabalhado no sentimento de arrependimento pela indesculpável omissão - um sentimento que todos conhecemos tão bem.


Você sofre de FOMO?

Há algum tempo que as redes sociais deixaram de ser um instrumento de integração para se tornar uma ferramenta de autopromoção. Segundo reportagem na Folha de S. Paulo de hoje a popularização das redes sociais acabou criando a figura do Carente 2.0 - aquele cara que está sempre com a impressão que todo o mundo está se divertindo horrores menos ele. Esta sensação, que pode se transformar em coisas mais sérias e até depressão, já tem nome: em inglês é "Fear Of Missing Out" (medo de estar perdendo alguma coisa), comumente abreviado para FOMO.

O medo de estar perdendo algo importante é um sentimento curioso. Pois para quem tem pelo menos 50 amigos no facebook é perfeitamente natural que em um dado momento qualquer um deles esteja realmente curtindo um programa muito legal. Mas a sensação que se abate sobre o Carente 2.0 é que todos os 50 amigos estão se divertindo, menos ele.

Mas o que ainda mais me impressiona é aquele tipo que acorda cedo e corre para o computador e posta "Bom dia !!!!!!" assim mesmo, com seis exclamações e ainda deixando aquele espaço entre a última palavra e o sinal de pontuação - o que é errado, exceto se você estiver escrevendo em francês (a tipografia da língua francesa é diferente). E em seguida fica checando a cada minuto para ver quantos "Curti" recebeu. Como costuma dizer meu amigo Kleber estas pessoas não têm amigos, têm seguidores. É duro quando se descobre que a vida virtual ficou mais interessante que a real.

Dias melhores virão

Quem passou por aqui ontem viu o Muque de Peão vestido de rosa para comemorar o Dia Internacional de Combate à Homofobia. Embora algumas notícias contrárias tenham ganhado destaque nos últimos meses, há motivos de sobra para comemorar. A conscientização que a homofobia deve ser combatida, o voto histórico do Supremo Tribunal Federal, a maior visibilidade conseguida pelos gays, o engajamento de deputados e até governadores - são o resultado de muitos anos de uma luta por igualdade que já custou até vidas.

Os que estão na corrente contrária começam a se sufocar. Alguém ainda se lembra daquela horrorosa que se dizia psicóloga que curava gays? Aquele deputado cujo nome começa com B de "bosta" e rima com "tupamaro" está começando a ficar com cara de broa. Sinal que o discurso dele está passando do prazo de validade. E aquele pastor evangélico radical ortodoxo cujo nome começa com M de "merda" e rima com "alfaia", que já tinha cara de broa, agora está ficando com cara de cascão varizento.

Não tem choro nem vela, quem decide sobre as escolas é o Ministério da Educação e não estes deputados ridículos. Portanto, o material contra a homofobia vai ser exibido nas escolas públicas no segundo semestre. Até no jornal aqui do Vale do Paraíba já noticiaram, sob a manchete Vale entra na guerra à homofobia, que o material foi aprovado pelos educadores. Ah, e a notícia trouxe uma foto enorme de um beijão do Toni Reis e do David Harrad. Na boca. Beijo gay. Em jornal do interior. Acho que vou mudar o título desta postagem para Dias melhores já chegaram.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Dia Internacional de Combate à Homofobia

Em 17 de maio de 1990 a homossexualidade deixou oficialmente de ser considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde. Por isto este dia foi escolhido como o Dia Internacional de Combate à Homofobia. A homofobia, esta sim uma doença muito grave, é uma manifestação hedionda que precisa ser combatida diariamente.

Em comemoração a este dia tão especial o Muque de Peão hoje se veste de rosa.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cansei de ficar pedindo perdão

No último sábado o cantor mexicano Christian Chávez recebeu em Los Angeles o prêmio de melhor artista musical em língua espanhola da GLAAD (Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação). Eu não gosto do Christian Chávez, nunca assisti à novela mexicana Rebelde e não conheço a banda RBD, e também não faço a menor questão de tentar descobrir o que tenho perdido com isto. Realmente, não é a minha praia. Mas eu aplaudo de pé quando um artista gay usa sua condição de celebridade para lutar pelo que acredita, batendo de frente com a sociedade e principalmente com a igreja.

Então eu confesso que adorei, muito mesmo, os 35 segundos iniciais do vídeo da música Libertad. O resto do vídeo pode até ser um lixo, mas o diálogo de confessionário nestes segundos iniciais é brilhante:
- Perdoe-me, pai, porque pequei.
- A graça e o perdão de nosso senhor não têm limite. Confessa teus pecados e serás livre.
- Este é o problema, padre. Já não há nada para confessar. Cansei de ficar pedindo perdão.



domingo, 15 de maio de 2011

Andrew Belle


Mesmo depois do lançamento de seu segundo trabalho, o album The Ladder, no início do ano passado, Andrew Belle continua ainda pouco conhecido. Encontrá-lo cantando em algum bar de Chicago não seria algo muito improvável. Mas agora que suas músicas começaram a tocar em séries famosas como One True Hill, The Vampire Diaries e 90210, é só questão de tempo até o belo virar uma estrela de primeira grandeza.

Natural do estado de Illinois, Andrew Belle se mudou para Nashville, Tennessee, em 2009, logo depois de lançar seu primeiro trabalho All Those Pretty Lights, um EP com cinco de suas composições. Bastam as primeiras frases de qualquer de suas músicas para a gente sentir que está diante de um artista especial. Este cara ainda vai muito longe.


Andrew Belle - Static Waves (feat. Katie Herzig):

sábado, 14 de maio de 2011

Hudson Taylor e Ben Cohen são gente que faz


Se você nunca ouviu falar de Ben Cohen então você deve estar chegando à Terra hoje. Sinta-se bem-vindo, fique à vontade, o planeta é assim meio estranho mesmo mas depois você acaba se acostumando.

Cansados de conviver com o preconceito nos esportes, Ben Cohen, jogador de rúgbi da Inglaterra, e Hudson Taylor, lutador americano, começaram há algum tempo campanhas contra o bullying nos campos esportivos e a homofobia nos esportes. Apesar de parecerem um casal mais que perfeito, Ben e Hudson são héteros e nunca haviam se encontrado até a semana passada.

O New York Times destaca esta semana a atuação dos dois atletas no combate ao preconceito e como suas mensagens têm obtido excelente resultado, principalmente por meio de palestras em escolas e universidades. No início do ano Hudson Taylor lançou a Athlete Ally, um manifesto pelo fim da homofobia nos esportes que já foi assinado por milhares de atletas. E Ben Cohen é o fundador da Ben Cohen Stand Up Foundation que apoia as organizações esportivas que lutam pela igualdade e contra o bullying homofóbico.

As campanhas pelos direitos dos homossexuais atingem um novo grau de maturidade quando deixam de ser uma causa pessoal e ganham a adesão de cidadãos esclarecidos, independente de orientação sexual, em busca de um mundo melhor. Parece que a sociedade está começando a entender que não é preciso ser negro para ser contra a escravidão.

A doutora e o palhaço

Fiquei imaginando um evento hipotético que reunisse representantes do nosso judiciário e do nosso legislativo e que colocasse na mesma mesa, lado a lado, a ministra Ellen Gracie e o Tiririca. Sobre o quê será que eles conversariam?

Ellen Gracie é doutora em Direito, além de ter se formado também em Antropologia, já ocupou os cargos de procuradora e desembargadora, foi bolsista do programa Fulbright na American University e foi jurista em residência na Biblioteca do Congresso nos Estados Unidos - e este é só o começo de seu currículo. E Tiririca é um analfabeto funcional que virou deputado.

A reunião hipotética serve para se entender o enorme fosso que separa o Supremo Tribunal Federal, que votou a favor das uniões homoafetivas há pouco mais de uma semana, e o Congresso Nacional, onde nenhuma lei de proteção aos homoafetivos foi apreciada no últimos 15 anos.

Muita gente vai dizer que temos o Congresso que merecemos pois os deputados e senadores foram eleitos pelo povo e o Congresso é o reflexo da sociedade e assim que deve ser em uma democracia. Errado. Este é um conceito idealizado que se desfaz em um Congresso pontuado por frentes e agremiações que adquirem peso parlamentar muito maior do que seu peso na sociedade. O melhor exemplo é a frente evangélica e os ultra direitistas religiosos que bloqueiam os avanços referentes a direitos humanos principalmente dos gays. Este grupo tem um peso no congresso que é desproporcional à sua importância na sociedade do país como um todo. Em resumo, as igrejas evangélicas não me incomodam em nada e convivemos pacificamente, mas no Congresso elas barram os meus direitos e me prejudicam, além de tentar estender seus preceitos para todos os cidadãos civis do país. Isto é uma democracia distorcida, quase caminhando para uma ditadura religiosa.

Democracia realmente é uma forma de governo teoricamente espetacular. Mas eu me recuso a aceitar que o retrato do nosso povo seja este congresso de merda.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Love x Hate

Amor e Ódio são duas reflexões diferentes do mesmo sentimento. Você precisa escolher em que lado do espelho quer estar.













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S

Da sigla GLS talvez o grupo que melhor pode sensibilidar a sociedade são os representados pela letra S - os simpatizantes. Uma sociedade preconceituosa, tacanha e inhenha como a nossa quase nem presta atenção nas palavras de um gay. Mas não resiste ao apelo de uma mãe, um irmão, um amigo, que conseguem com poucas palavras mostrar que os homossexuais são normais como todo mundo.

Por isso gostei muito da estratégia deste material da campanha pela igualdade no casamento no estado de Nova York. O apelo é irresistível.

Desculpem a nossa falha

Depois de mais de 24 horas fora do ar o Blogger, plataforma que hospeda esta blog, voltou a funcionar. Mas os eventos postados na data de ontem não foram recuperados - e não há nenhuma confirmação se serão. Isto significa que a última postagem Papai Urso do Interior encontra-se perdida em algum lugar do éter cibernético e eu sinceramente espero que o Blogger consiga recuperá-la. Se isto não acontecer até a próxima semana faço questão de reescrevê-la com o que me resta na memória e republicá-la.

Foi um transtorno imenso que afetou centenas de milhares de usuários, mas há que se entender que neste mundo cada vez mais dependente da tecnologia estas coisas sempre poderão acontecer. A ordem dos planetas não foi alterada e a fome na África continua do mesmo tamanho.

Como já previsto no filme Duro de Matar 4.0 nas guerras do futuro serão usadas poucas armas e muita tecnologia. Afinal, todo mundo já percebeu que se a Internet for desligada a nível mundial por uma semana metade da população enlouquece.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Papai Urso do Interior

Goran Visnjic, que interpreta o jovem namorado, e Christopher Plummer
O título desta postagem é uma homenagem ao amigo leitor Papai Urso do Interior que passa por aqui com frequência e deixa suas impressões sempre com bastante paixão. Lembrei-me dele, que já revelou ter sido casado e ter filhos, quando li sobre o filme Beginners, lançado recentemente nos Estados Unidos diretamente em DVD.

Com grandes atores (Ewan McGregor, mais gato do que nunca, e Christopher Plummer, sempre digno), o filme trata de dois temas muito tocantes: doença terminal e saída do armário de um pai depois de um casamento de 44 anos. Ainda não vi o filme, mas o trailer me deixou atiçado. Se revelar a homossexualidade aos pais não é fácil, imagine revelá-la aos filhos. O filme deve dar muito o que pensar. Imagine alguém que resolve exercer plenamente sua sexualidade sabendo que tem pouco tempo de vida.

Gostei do trecho no trailer quando o pai acorda o filho no meio da noite para perguntar sobre house music. Gostei da alegria quase adolescente do pai idoso redescobrindo a vida e podendo finalmente ser ele mesmo. E gostei da frase perto do final: "Das pessoas como a gente, metade acha que nada vai dar certo e a outra metade acredita em mágica".

There's a fire starting in my heart

Adele não precisa de Glee. Seu último disco está vendendo mais do que picolé na praia em dia de sol e já é considerado um fenômeno. Merecidamente. Mas não há nada demais em tirar proveito da sinergia quando os dois lados saem ganhando.

Embora raramente apresente músicas recentes, Glee preparou um número com a belíssima Rolling In The Deep que vai ser usada para reintroduzir o personagem do gostosinho Jonathan Groff, que enganou Rachel na primeira temporada mas agora volta com boas intenções. BTW, Jonathan Groff é gay assumido e participa com frequência de eventos contra a homofobia e pela igualdade.

Ah, você já baixou a irresistível versão a capela que o John Legend fez para Rolling In The Deep?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Pamonha em Nova York

Gisele Bündchen arrasou mais uma vez em Nova York em menos de 15 dias. Desta vez foi no baile de gala beneficente promovido pela Robin Hood Foundation, que teve show de Lady Gaga e presenças de Sarah Jessica Parker, Donald Trump, e outros.

Tá, também achei ela linda. Mas eu só queria que alguém me explicasse o que a Carolina Diekmann está fazendo lá no fundo com aquele crachá enorme e aquela cara de pamonha!?

Casa de ferreiro

Cher e o filho Chaz (à direita), que já foi Chastity (à esquerda)
Quando Cher foi escolhida musa dos gays ela jamais poderia imaginar que enfrentaria um problema de disfunção de gênero dentro de sua própria casa. Sua filha, que nasceu Chastity e durante muitos anos foi uma garotinha loira engraçadinha, virou o rapagão Chaz. O problema é muito mais complexo do que qualquer um de nós pode imaginar, e a metamorfose não foi fácil. O fato de ser filho da Cher não ajudou muito, e Chaz encontrou muita resistência e dificuldade de aceitação na própria família.









Verdade seja dita, os transgêneros não são considerados homossexuais por não sentirem, teoricamente, atração pelo mesmo sexo, mas por habitarem um corpo com o sexo oposto. Sentir atração pelo mesmo sexo não é fácil; viver no corpo trocado é com certeza infinitamente mais complicado.

Embora sua história esteja longe do fim, Chaz parece ter encontrado a felicidade e feito as pazes com a mamãe famosa. O documentário Becoming Chaz, que descreve a transformação de Chastity em Chaz, estreia hoje nos Estados Unidos.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Melody Gardot


Quando eu ouvi Melody Gardot pela primeira vez, há cerca de dois anos, fiquei absolutamente e perdidamente apaixonado pela sua voz. A ponto de ficar ouvindo seus discos ininterruptamente durante todo o dia. Com um nome de batismo lindo destes, esta americana de Filadélfia parecia mesmo predestinada a alcançar o sucesso por meio da música. Melody Gardot completou 26 anos em fevereiro, mas apesar da pouca idade já tem uma história de vida comovente.

Quando tinha 19 anos Melody Gardot sofreu um atropelamento violento enquanto andava de bicicleta, e teve que ficar presa a uma cama de hospital por mais de um ano se recuperando de lesões graves no cérebro e na coluna vertebral. Melody Gardot precisou reaprender a se comunicar de forma coerente, e teve a ajuda de terapia musical para estimular o cérebro - o que acabou contribuindo para que ela desenvolvesse suas habilidades e se transformasse na artista completa que é hoje. Ela tem, seguramente, uma das vozes mais bonitas entre as cantoras da atualilidade.

Melody Gardot - Baby I'm A Fool:


Melody Gardot - Your Heart Is As Black As Night:

domingo, 8 de maio de 2011

Minha mãe

Minha mãe e eu, no começo
dos anos 60.
Eu não sei dizer exatamente quando percebemos que poderia ser um problema sério, mas logo notamos que minha mãe tossia mais do que o normal, estava constantemente sem fôlego e se cansava muito facilmente. Os primeiros exames revelaram uma mancha enorme no lugar de um dos pulmões. Exames mais cuidadosos revelaram uma fibrose avançada, o pulmão havia se petrificado de forma irreversível. Nunca vou me esquecer do momento em que os dois médicos reuniram-se comigo e meus irmãos em uma salinha e explicaram que não havia muito a ser feito, e que minha mãe provavelmente não viveria mais do que 6 meses.

Isto foi há onze anos. Acho que os médicos não contavam com o fato de que minha mãe decidira que não estava na hora de morrer. Ela se dedicou de corpo e alma às sessões de fisioterapia, começou a fazer caminhadas, mudou a alimentação. Hoje, aos 83 anos de idade, ela continua cheia de vida. Às vezes precisa parar e recobrar o fôlego ao subir uma escada ou fazer um esforço maior, mas não reclama, não lamenta, não se lastima. Ela está muito ocupada em viver para se preocupar com estas coisas menores.

Somos seis filhos e uma infinidade de genros, noras, netos, e agregados. E hoje ela fez questão de organizar mais um almoço de dia das mães. E eu me peguei olhando para meus irmãos ao redor da mesa, e me perguntando se porventura eles teriam algum ressentimento pelo fato de minha mãe sempre ter me tratado como o filho favorito. Foi então que subitamente eu me dei conta que meus irmãos provavelmente estavam pensando o mesmo. Minha mãe soube fazer cada filho se sentir o predileto.

sábado, 7 de maio de 2011

De dedo em riste

Camilo Gomes Jr. é mineiro, mora atualmente na Paraíba, é hétero, casado, escritor, músico, estudante de direito, e gato. Ele acaba de publicar o artigo A Constituição, o Moralismo Religioso e a Vitória do Bom Senso, em que faz um apanhado da história das inconsistências trazidas pelo moralismo religioso no Brasil desde o tempo da escravidão até o histórico pronunciamento do STF há 3 dias.

Camilo discorre, com maestria, sobre a necessidade da intervenção do judiciário face à berrante, covarde e interesseira omissão do legislativo. Confessa que a decisão do STF foi, para ele, inesperada, apesar de extremamente bem-vinda. E termina com um desabafo: "Parabéns aos ministros do STF! Aos congressistas “bolsonaristas” de plantão, desculpem-me por, num breve ato indecoroso, eu agora lhes estender meu dedo médio em riste. O impulso foi mais forte do que eu."

Recomendo a leitura do texto do Camilo, e o faço com veemência. Há ali muito que nos ajuda a entender o porquê de sermos assim, e de vivermos em um país assim.

E agora, com licença, que para este final de sábado de outono eu já separei alguns filmes antigos e já encomendei uma comidinha gostosa. Meu programa é curtir minha relação estável e minha família de dois.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Yes, we can!

Apesar da relatividade da vitória de ontem, é inegável que a decisão do STF é um passo enorme e histórico. Principalmente em um país que há apenas 6 meses atravessava um processo de eleição presidencial que não soube se desvencilhar do maléfico ranço religioso e se enveredou por discussões improdutivas sobre o aborto e o "casamento gay" (em tom pejorativo). As palavras dos ministros da mais alta corte do país nos últimos dois dias deram um recado muito claro às igrejas que tentam governar a vida civil dos cidadãos do país, e jogaram as discussões da campanha presidencial de volta para o lugar de onde nunca deveriam ter saído: o fundo do poço do obscurantismo e da ignorância.

Para comemorar, fica decretado que hoje é o dia nacional de dançar na frente do espelho. Por que? Porque nós podemos! É chegada a hora de sambar na cara da humanidade. Como trilha, a excelente 50mila da Nina Zilli  (que pode ser baixada aqui para dançar também no carro, na academia, no saguão do prédio, ou na rua). As cenas do clipe são de O Primeiro Que Disse (Mine Vaganti, 2010).

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Deputados, tirem a bunda da cadeira!


"A conquista de direitos é curiosa. Depois de sedimentado o direito, quando se olha para trás, às vezes temos a impressão de que era banal. Mas é na hora da conquista que se vê quais eram as dificuldades para se conquistar os direitos. Há direitos a serem conquistados porque a violência é perpetrada exatamente pela ausência de direitos".  Ministra Cármen Lúcia, ao proferir seu voto favorável à união estável homoafetiva. 
Não, gente, a batalha não chegou ao fim. Não, a coisa não é simples como parece. Não, a união estável para casais do mesmo sexo não está aprovada no Brasil.

Muita gente pensou que com a decião do STF basta agora ir a um cartório e regularizar a situação com seu parceiro. Infelizmente, não. A decisão do STF é uma decisão jurídica que vincula e obriga as decisões judiciais de todos os tribunais brasileiros. Ou seja, uniformiza as decisões de ações em andamento ou futuras reconhecendo a união homoafetiva como núcleo familiar. Mas só no campo jurídico, só para ações em curso ou futuras. Quem quiser ou precisar ter seus direitos reconhecidos ainda precisa procurar um advogado, iniciar um processo, protocolar uma ação, esperar alguns anos, e por aí vai.

Cabe ao Congresso Nacional agora, sabendo que o STF entende a união homoafetiva como núcleo familiar e que isto não fere a Constituição, criar as leis que definam novos procedimentos civis para a população (como por exemplo, estabelecer o procedimento para que um casal homossexual possa ir a um cartório e registrar a união). Neste sentido o Ministro Peluso aproveitou para dar um puxão de orelha no Congresso: "O Poder Legislativo, a partir de hoje, tem que se expor e regulamentar as situações em que a aplicação da decisão da Corte seja justificada. Há, portanto, uma convocação que a decisão da Corte implica em relação ao Poder Legislativo para que assuma essa tarefa para a qual parece que até agora não se sentiu muito propenso a exercer”.

No Congresso as batalhas se anunciam mais difíceis e mais sangrentas, mas não menos gloriosas.

Que situação!

A foto tirada na sala de situação durante a operação que matou Osama Bin Laden foi a mais vista dos últimos dias, e é considerada bastante forte e contundente. É o que bastou para transformá-la no novo meme da internet, que viralizou mais rápido do que notícia ruim.

A ordem é usar de criatividade para transformar a foto, deixando-a mais interessante. Já existem várias versões circulando. A minha favorita é esta:


Um regalo da natureza

Dizem que de bolsa de mulher e de cabeça de juiz pode sair qualquer coisa. Então a decisão que o Supremo Tribunal Federal deve dar hoje à ação que pleiteia estender o instituto da união estável aos casais do mesmo sexo continua uma incógnita até o voto do último ministro - mas há razões de sobra para comemorar.

A sessão teve início na tarde de ontem e foi transmitida ao vivo pela internet, com audiência que surpreendeu. Conforme a notícia do evento foi se espalhando via Twitter e via facebook os canais de transmissão foram se multiplicando, e no final do dia até o UOL e o G1 haviam disponibilizado links de transmissão do evento. Quem assistiu se surpreendeu com a maturidade e a profundidade do debate.

Os advogados que falaram pelas instituições que buscam a aprovação das ações fizeram defesas sólidas com base na legislação nacional e internacional e na luta contra o preconceito. Quando chegou a vez de os advogados representantes das instituições contrárias à aprovação da ação (entre elas a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) ocuparem a tribuna, um momento de vergonha alheia: os dois advogados estavam mal preparados, não tinham argumentos, tergiversaram o tempo todo. Um deles começou a falar em crucifixos, Adão e Eva, falou de maconha... uma vergonha imensa transmitida ao vivo. Ponto para nós!

Ao final da noite começou a votação com o Ministro Ayres Brito, relator, dando seu voto. E aí vem outra grande razão para celebrar. O ministro leu seu voto pela aprovação da ação na forma de um documento preparado, de 49 folhas, que é um verdadeiro manifesto pela igualdade de direitos homoafetivos. O documento pode (e deve!!) ser lido na íntegra aqui, e merece ser impresso e emoldurado para ser colocado na parede.

Ayres Brito fala tudo que a igreja não quer ouvir. Que a sexualidade é um prêmio e não um castigo, e que um grupo de pessoas não pode ser punido pelo seu desejo sexual, que não deve ser motivo para vergonha. Nas suas 49 páginas, o texto usa a palavra "sexo" 38 vezes, "preconceito" 17 vezes, "entidade familiar" 12 vezes, e não faz uma única menção sequer a "religião", "bílbia", "Adão", "Eva", ou "Deus". A palavra "deuses" é empregada 2 vezes em sentido geral, como na belíssima passagem "[A sexualiade] corresponde a um ganho, um bônus, um regalo da natureza, e não a uma subtração, um ônus, um peso ou estorvo, menos ainda a uma reprimenda dos deuses em estado de fúria ou de alucinada retaliação perante o gênero humano."

Ao final da página 12 o ministro introduz uma das mais brilhantes definições de preconceito que já li: "Mas é preciso lembrar que o substantivo “preconceito” foi grafado pela nossa Constituição com o sentido prosaico ou dicionarizado que ele porta; ou seja, preconceito é um conceito prévio. Uma formulação conceitual antecipada ou engendrada pela mente humana fechada em si mesma e por isso carente de apoio na realidade. Logo,  juízo de valor não autorizado pela realidade, mas imposto a ela. E imposto a ela, realidade,  a ferro e fogo de u’a mente voluntarista, ou sectária, ou supersticiosa, ou obscurantista, ou industriada, quando não voluntarista, sectária, supersticiosa, obscurantista e industriada ao mesmo tempo. Espécie de trave no olho da razão e até do sentimento, mas coletivizada o bastante para se fazer de traço cultural de toda uma gente ou população geograficamente situada. O que a torna ainda mais perigosa para a harmonia social e a verdade objetiva das coisas."

Ayres Brito termina seu voto com "Pelo que dou ao art. 1.723 do 49 Código Civil interpretação conforme à Constituição para dele excluir qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como “entidade familiar”, entendida esta como sinônimo perfeito de “família”. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas conseqüências da união estável heteroafetiva. É como voto."

Logo após o voto do ministro a sessão foi suspensa devido ao adiantado da hora. Recomeça hoje a partir das 14 horas. E, acreditem, vale a pena ver ao vivo este momento histórico. Onde vai ser a comemoração?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Have you any dreams you'd like to sell?

Vez ou outra um projeto musical avança as fronteiras da genialidade. Na história da indústria fonográfica podemos apontar alguns álbuns que atingiram este ápice do que se definiu chamar de "genial". É o caso do album Faith (1987) de George Michael, Thriller (1982), do Michael Jackson, ou de The Dark Side Of The Moon (1973) do Pink Floyd, e de talvez não mais que uma dúzia de outros.

Este é também o caso de Rumours (1977) do Fleetwood Mac. Um disco que desafia todas as classificações convencionais, e que recebeu uma merecida homenagem no último episódio de Glee, com a especialíssima participação de Kristin Chenoweth cantando Dreams em dueto com Matthew Morrison.



No mesmo álbum temos a magnífica Songbird, que na versão original na voz da Christine McVie me traz lágrimas até hoje, e que em Glee foi bravamente defendida pela personagem Santana em um comovente momento homorromântico:

terça-feira, 3 de maio de 2011

@enviado da minha vassoura Nimbus T3000

Há muito tempo atrás, quando a Vera Fisher ainda era referência de mulher gostosa e desejável, alguém escreveu que se um homem se visse em uma ilha deserta sozinho com a Vera Fisher provavelmente morreria de aflição em poucas semanas. Ficar toda noite com a Vera Fisher seria ótimo, o problema era não ter para quem contar.

Somos assim. Temos uma necessidade quase aflitiva de compartilhar nossas glórias e conquistas. Felizmente, as modernas traquitanas eletrônicas, elevadas à posição de símbolos de status, já vêem programadas para espalhar a novidade. Ou você nunca recebeu uma mensagem que termina com "@sent from my Blackberry"? É claro que é possível desabilitar esta mensagem cafona, mas daí ninguém vai ficar sabendo que o remetente é o feliz possuidor de uma das sensações do momento.

No ano passado eu fiz parte por algum tempo de um grupo de discussões na internet. A maioria das mensagem vinha com rótulos "@enviado do meu iPad" ou "@sent from my Android", coisas assim. Para entrar na brincadeira comecei a adicionar às minhas mensagens rótulos do tipo "@enviado do meu secador de cabelos", "@sent from my electric iron" ou "@enviado da minha cafeteira".

Diverti-me sozinho só de imaginar a cara de quem estava lendo aquilo, até que um dia recebi um e-mail sério perguntando "Sua cafeteira manda e-mails mesmo?" Não me contive. Respondi "Além de fazer café, minha cafeteira manda e-mails, toca mp3, cerze, cose, hachura, e prega botões.". Nunca mais recebi resposta nenhuma.

Isto me fez lembrar uma das coisas mais horrendas que já vi na minha vida. Na Arábia Saudita, em uma loja, em cima de uma banco, estava um ventilador que terminava em um receptáculo de plástico transparente usado como vaso de flores e no corpo tinha um dial de rádio AM e lâmpadas para funcionar como lanterna na falta de luz. Eu juro.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

The End

Nos últimos dias o príncipe casou com a moça simples, o papa virou santo, e o facínora sanguinário finalmente foi morto. De repente me caiu a ficha: estamos no último capítulo! Estou morrendo de medo de o dia não amanhecer na semana que vem. Acho que ao olhar para o céu vamos ver só um enorme letreiro com o "The End". Lembram de O Show de Truman?

Quem sabe somos só coadjuvantes e a partir da semana que vem ninguém mais vai estar se importando com a gente. Todo mundo vai mudar de canal e a gente vai perder a razão de existir. Ou será que esta é uma daquelas histórias que ainda reserva uma reviravolta no último minuto?

Te contei??

Você já ouviu falar do Randy Rainbow? Se ainda não conhece, corre lá no canal dele no YouTube e morra de rir com os vídeos engraçadíssimos. Nos vídeos ele faz sempre a bicha venenosíssima, fofoqueira e sem noção, e conversa ao telefone com celebridades que ele trata com muita intimidade. O mais engraçado é que as falas das celebridades são todas verdadeiras, tiradas de trechos de entrevistas e depoimentos reais e editadas para encaixar na conversa dele.


Hoje ele acordou com a macaca, falando com todo mundo que é alguém no mundo das celebridades para trocar impressões sobre o casamento real. Além do telefone ele usou até o Skype para falar com a Victoria Cara-de-Cu Beckham, com imagem e tudo. Simplesmente hilário.










Quando a Proposição 8 foi temporariamente suspensa na California, Randy Rainbow resolveu se casar. O problema era encontrar um noivo, o que para Randy Rainbow era apenas um pequeno detalhe.

domingo, 1 de maio de 2011

Além do arco-íris

Em dez dias chega às lojas o disco do Matthew Morrison, o professor mais gostosinho da televisão. O que me faz lembrar que o seriado Glee enfrenta nos Estados Unidos no momento uma acusação muito parecida com a direcionada ao kit contra a homofobia que o Ministério da Educação pretende distribuir nas escolas brasileiras - a de que o material é "propaganda gay". Como se existisse um "estilo de vida gay" que pudesse ser glamurizado a ponto de ser incutido na cabeça de adolescentes héteros que subitamente se tornariam gays. Francamente, esta turma do contra é muito mais burra e muito mais demente do que eu imaginava...

Mas o disco do Matthew Morrison promete ser bastante curtível, como dá para perceber por esta gravação de Somewhere Over The Rainbow que ele canta em dueto com a Gwyneth Paltrow. Baixe aqui para curtir a dois no friozinho das próximas semanas. Gwyneth Paltrow é muito melhor cantora do que atriz, o que não significa muito, mas mandou bem. Até Liza Minelli aprovou a gravação dizendo que sua mãe Judy Garland teria gostado.