quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Um milhão de amigos

Existe uma figura muito interessante no ordenamento jurídico dos Estados Unidos: o amicus curiae, expressão em latim que signfica "amigo da corte" e que é usada para indicar pessoas ou instituições que podem ajudar qualquer tribunal em uma decisão importante. Funciona mais ou menos assim: quando uma sentença importante está prestes a ser decidida, qualquer pessoa ou instituição pode encaminhar uma petição (que é chamada de amicus brief, petição do amigo da corte) descrevendo aspectos relevantes do caso e sugerindo uma posição. Não basta ser uma descrição simples de preferência por esta ou aquela decisão; tem que ser juridicamente embasada em aspectos legais relevantes do caso - ou seja, os amicus briefs são documentos complexos normalmente muito bem redigidos por advogados renomados.

Como a Suprema Corte dos Estados Unidos está prestes a decidir dois casos importantes para a comunidade LGBT - o reconhecimento dos casamentos gays a nível federal e a constitucionalidade da Proposição 8 na California - os amicus briefs estão sendo protocolados e têm demonstrado fontes incríveis de suporte para a causa gay no país.

Um grupo de 40 nomes importantes dentro do partido Republicano - tradicionalmente conservador - apresentou um amicus brief em favor dos gays argumentando justamente em favor da tradição: que o casamento gay vai fortalecer a sociedade e a instituição do casamento como um todo. Nada como mudar rapidamente de ideia quando se percebe que se está do lado errado da História, mas tá valendo.

Mas o amicus brief que mais chamou a atenção esta semana foi o apresentado conjuntamente pelas grandes empresas do país, entra elas o Facebook, a Microsoft, a Intel, a Apple, o Google, e outras mais de 60 empresas tradicionalmente gay-friendly que têm lutado ativamente pela igualdade de direitos de seus empregados. Para se ter uma ideia, é mais ou menos como se no Brasil a Petrobrás, o Banco Itaú, a Rede Globo, a Editora Abril, e outras grandes empresas viessem a público exigir igualdade para seus funcionários LGBT. Seria pedir muito?

ATUALIZAÇÃO: No final desta quinta-feira o Presidente Barack Obama também protocolou um amicus brief em favor do casamento igualitário. Nada como um presidente que luta abertamente pelos direitos de seu povo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Dermot O'Leary convida

Dermot O'Leary é apresentador na TV britânica e tem também um programa de rádio na BBC Radio 2 nos sábados à tarde. O programa ganhou fama pelas apresentações ao vivo de cantores e bandas famosas ou iniciantes, e também pelas versões cover super inspiradas por cantores especialmente convidados para homenagear artistas que admiram. Os álbuns The Saturday Sessions normalmente reúnem as melhores apresentações do programa e não podem faltar na coleção de quem aprecia versões acústicas que privilegiam a voz.

O primeiro album duplo The Saturday Sessions saiu em 2007 e traz, entre as 44 faixas, uma versão super delícia de This Charming Man pelos The Stars, outra de The Boy With The Torn On His Side (também dos Smiths) pelo Scott Mattews, além de uma gravação surpreendente de I'm On Fire (do Bruce Springsteen) pela Bat For Lashes.

O segundo album duplo veio em 2010 e traz Will Young cantando Golden Slumbers (dos Beatles), Amy Winehouse (com uma versão exclusiva de Rehab), Ellie Goulding cantando Jolene (da Dolly Parton) e Imogen Heap com uma versão super cult de Thriller (do Michael Jackson) - tudo isto entre 40 faixas super inspiradas.

Pois esta semana está chegando a versão 2013 de Saturday Sessions em álbum duplo com 39 faixas que inclui uma versão de Eleanor Rigby pela Emeli Sandé, Into My Arms (do Nick Cave) com a Paloma Faith, e uma versão de arrepiar de A Case Of You (da Joni Mitchell) com o James Blake. Delícia ao cubo!

James Blake - A Case Of You:

Imogen Heap - Thriller:

Emeli Sandé - Eleanor Rigby:

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O dia em que Amanhecer - Parte 2 arrebatou todos os prêmios


No dia anterior à grande noite de entrega dos prêmios da Academia de Cinema de Hollywood são anunciados os vencedores do Framboesa de Ouro para os piores do ano. Sem muita surpresa, o episódio final da saga Crepúsculo arrebatou quase todos os prêmios: pior filme, pior atriz, pior ator, pior direção, pior tudo. Até eu, que estava me divertindo com a historinha água-com-açúcar dos vampiros e lobisomens, sou obrigado a admitir que o episódio final é pavorosamente ruim.

Mas, para quem gosta de cinema, bom mesmo é a noite do Oscar. Nenhuma festa no planeta consegue reunir tanta estrela de primeira grandeza e só de olhar o auditório recheado das pessoas mais assediadas e desejadas do mundo já é uma festa para os olhos. O resto é tudo pura diversão.

O Oscar é um dos prêmios mais injustos que existem, pelo simples fato de ser impossível comparar bananas com laranjas. Com que critérios alguém poderia comparar os desempenhos de uma atriz como Emanuelle Riva com uma iniciante de 9 anos de idade como Quvanzhané Wallis? E como ter certeza que Jennifer Lawrence foi melhor do que as duas? O único critério que vale é realmente o do coração.

Em resumo, todos os indicados merecem ganhar o Oscar. E cada um de nós tem preferências pessoais que gostaria de ver premiadas. A grande torcida, no final das contas, não é pelo melhor, mas por quem a gente quer que ganhe. E a escolha de cada um de nós é quase inteiramente emocional.

Há filmes que eu adoro e reconheço a qualidade, mas não sinto vontade de rever. Vi filmes excelentes nesta temporada, mas nem todos me arrebataram. Se eu tivesse que escolher apenas dois filmes para rever nesta semana eu não tenho dúvida que escolheria As Aventuras de Pi e Os Miseráveis. Estes me extasiaram.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Nem um milímetro

Um dos aspectos que eu mais admiro na luta dos LGBT americanos pela igualdade é que eles não fazem nenhuma concessão. Lutam com unhas e dentes e não abrem mão de um milímetro ou um grama dos direitos, até mesmo em detalhes que poderiam, à primeira vista, parecer de pouca importância.

A batalha desta semana foi com uma das maiores agências distribuidoras de notícias do mundo, a Associated Press (AP), que existe desde 1846. Há cerca de uma semana a AP publicou em seu manual de estilo que apenas usaria as palavras husband (marido) e wife (esposa) para os casais homossexuais se eles já tivessem se chamado assim publicamente, do contrário se referiria a eles com outras expressões, como "companheiro" por exemplo. Foi o que bastou para o mundo vir abaixo em uma onda de protestos encabeçados por entidades e defensores dos direitos GLBT. Afinal, não se usam termos alternativos para os casais heterossexuais - ou alguém já viu alguma manchete do tipo "Barack Obama e companheira chegam para a solenidade".

O resultado veio hoje com a AP corrigindo o manual de estilo para que marido e esposa sejam usados indistintamente para casais homossexuais e heterossexuais. Ou seja, a partir de agora, a AP normatizou o estilo de redação para produzir manchetes do tipo "Jane Lynch e esposa estiveram presentes na recepção".

Pode parecer pouco, mas não é. Estamos criando as bases para a sociedade do futuro e devemos cuidar dos menores detalhes para que todo e qualquer resquício de preconceito seja sufocado para sempre. Os mesmos direitos com os mesmos nomes. Esta história de "igual mas com outro nome" é papo de aranha para permitir que o preconceito persista. Não se pode ceder um milímetro ou um grama. Igual é igual. E estamos conversados.

Kindle

O novo anúncio do Kindle joga com o fato de que o leitor eletrônico tem melhor visibilidade sob a luz do sol do que o rival iPad, da Apple. Mas o melhor está no diálogo final entre o casal de estranhos que acabaram de se encontrar na praia:

Ele: - A gente deveria comemorar!
Ela (pensando se tratar de uma cantada): - Meu marido já está me trazendo um drink agora mesmo.
Ele: - O meu também!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Future of Forestry


Se você curtiu o vídeo de casamento do Jason com o Tony no Plaza Hotel de Nova York postado aqui há três dias, então você já está mais ou menos familiarizado com a música do Future of Forestry. É a linda canção You que toca no fundo do vídeo.

     You are a promise
         You are a song
             Smooth like a waterfall
                 I see you in the corner
    You are the summer
          You are the sun
              You are the desert plain
                 Where the wild horses run...


Os vocais hipnóticos de Eric Owyoung, líder da banda que escreve a maior parte das músicas, são como massagem para ouvidos cansados. A banda já tem na carreira quatro álbuns de estúdio e alguns EPs lançados desde 2006. You é do álbum mais recente, Young Man Follow, lançado em julho do ano passado e que traz dez faixas que funcionam como um mantra para corações apaixonados.

Future of Forestry - You:

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

É hoje!

Sabe aqueles mapas que são publicados em jornais e revistas mostrando em diferentes cores os países ou estados onde o casamento entre casais homossexuais é permitido e onde não é permitido? Pois é... a partir de hoje, 18 de fevereiro, o estado de São Paulo ganha uma nova cor no mapa. Todos os cartórios de registro civil do estado estão obrigados, a partir de hoje, a aceitar a documentação de casais homossexuais para casamento civil da mesmíssima forma que aceitam para os casais heterossexuais - sem tirar nem por. E não tem Malafaia, Bolsonaro ou Ratzinger que consiga mudar isto!!


ATUALIZAÇÃO: Confirmando a informação que o Tony Goes passou pelos comentários (obrigado, Tony!), a data foi adiada em duas semanas e a medida entra em vigor em 1º de março. Isto não é ruim. O atraso foi para que houvesse tempo de implementar uma série de recomendações propostas por várias organizações que lutam pelo casamento igualitário, garantindo que tudo ocorra de forma ainda mais padronizada.

Rogéria, a diva


Rogéria, a travesti mais famosa do Brasil, estreou em participação super especial na novela Lado a Lado na semana passada. Rogéria interpreta uma mulher, Alzira, que na história é a mãe de Diva Celeste (Maria Padilha).

Fiquei impressionado com a presença marcante que ela tem em cena. Um bônus super especial nesta novela que já é tão gostosinha de assistir.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Barbara, a valente

Continua fazendo ondas o texto fantástico assinado pela Barbara Gancia na Folha de S. Paulo de sexta-feira passada. Sob o título Bento, o Arregão, Barbara Gancia escreveu sobre a renúncia do papa em tom quase confessional, e perto do final usou uma frase profunda que mostra o rumo que resolveu dar à sua vida quando confrontada pelos dilemas da convivência com a família católica: "Bem, pessoalmente, opto por ser fiel a mim, da forma mais digna e transparente possível, caminhando no sentido contrário das farsas, da impostura e das trevas que me foram impostas pela herança de uma educação católica".

Barbara foi mais além, e confessou publicamente sua homossexualidade nas páginas do jornal de maior circulação no país: "O que significa impedir que esses malucos de batina queiram me afastar de Cristo sentenciando que minha homossexualidade não se encaixa no conceito que eles fazem de amor".

Segundo a ombudsman da Folha de S. Paulo, em coluna publicada hoje, a homossexualidade de Barbara não era propriamente um segredo, mas nunca tinha ido parar na primeira página do jornal. A ombudsman Suzana Singer conclui: "O único receio de Barbara é ter sua imagem reduzida ao fato de ser gay. "Não quero ter apenas essa dimensão. Tenho outros defeitos", brinca. Deve ter mesmo, mas covardia não é um deles."

Nosso país está precisando de mais gente como Barbara Gancia.

No Plaza Hotel

O Plaza Hotel é um dos símbolos da cidade de Nova York e lugar disputadíssimo para casamentos. Em junho do ano passado, este hotel que já serviu de locação para muitos filmes abriu suas portas pela primeira vez para um casamento gay. E Jason e Tony - na presença dos dois filhos, das famílias, e dos amigos - conseguiram realizar o sonho de ter um casamento de cinema.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Saiu o sol

Muita gente ao redor do mundo comemora hoje o Dia de São Valentim, o correspondente mais próximo que têm do dia dos namorados. Reza a lenda que há quase dois mil anos o jovem bispo Valentim fazia casamentos às escondidas depois que os casamentos foram proibidos pelo rei Cláudio II, que acreditava que os homens solteiros eram melhores combatentes nas guerras. Desde a Idade Média que o nome de São Valentim é associado ao amor romântico. No Dia de São Valentim os amigos e namorados trocam cartões, chocolates, e pequenas lembrancinhas românticas para celebrar o amor.

Vários artistas prepararam presentes para os fãs. A Rumer (falei dela aqui) gravou uma versão especial de Here Comes The Sun, dos Beatles, para presentear os fãs no dia de hoje. Para baixar, é só clicar aqui. Para ouvir juntinho e abraçadinho.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Our wedding song


Este vídeo lindo me deixou emocionado. São quatro casais incríveis de uma casa de repouso para idosos em Nova York que ganharam uma apresentação especial ao vivo da música que embalou o romance de suas vidas. O primeiro casal está junto há setenta anos!! O segundo, um casal gay, está junto há 57 anos - bem antes que a própria palavra "gay" tivesse este significado. O terceiro casal está junto há 66 anos. E o quarto, um casal de octogenários, se conheceu há apenas 2 anos em um serviço de encontros pela internet!

Lembre deles naqueles dias difíceis quando você se sentir velho. Porque a vida está sempre apenas começando.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Um novo papa, um novo tempo

O papa Bento XVI acaba de anunciar ao mundo que renunciará do pontificado e deixará a posição vaga a partir do próximo dia 28, em pouco mais de duas semanas. A fragilidade natural da idade (o papa tem 85 anos) começa a impor restrições ao desempenho pleno da função.

Além da fragilidade física, para uma pessoa de 85 anos de idade fica cada vez mais difícil acompanhar as mudanças de um mundo dinâmico e de uma sociedade em constante evolução. A igreja católica perdeu muitos fieis nos últimos anos por não ter aprendido a acompanhar os ventos dos novos tempos. O novo papa terá um trabalho maravilhoso pela frente, principalmente o de trazer a igreja católica para o século 21.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Bromance

Não é para deixar a imaginação voar longe ao ver dois gostosões solteirões convictos de Hollywood como Bradley Cooper e Leonardo DiCaprio assim tão à vontade e com pouca roupa na sacada de um hotel em Miami?


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Momentum tum tum...

No final do ano passado escrevi aqui sobre o momentum que a luta LGBT adquiriu nos últimos meses. A sensação é que não dá mais para segurar. Nos Estados Unidos, onde a Suprema Corte está prestes a dar a palavra final sobre dois aspectos importantíssimos do reconhecimento do casamento igualitário em nível federal, vários estados começam a correr para não ser o último a reconhecer os casamentos gays. De repente, muita gente está começando a perceber o preço que se paga em ficar do lado errado da História.

Reino Unido e França atravessam momentos importantíssimos. O próprio Vaticano, sempre renitente em assuntos desta natureza, começa a desmoronar. As declarações do Ministro para a Família, suavizadas através de um comunicado emitido em seguida, são mostras de desentendimentos internos. Em outras palavras, o Vaticano está encurralado.

O Oriente também não está parado. Embora recebamos menos notícias do lado de lá, a rede de televisão Al Jazeera (que tem sede em Doha, no Qatar, um país árabe, pasme!!) apresentou hoje um programa bastante completo sobre as conquistas LGBT nos países do Oriente.

Não dá mais pra segurar. A barragem rompeu!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Fique por dentro

O meu consolo é saber que logo o sr. Malafaia vai estar morto e as ideias dele vão estar bem enterradas e apodrecendo tão rápido quanto o seu esqueleto fétido.

Se você não costuma assistir a GloboNews, não perca este especial de quase meia hora apresentado hoje, que cobre os avanços recentes da luta pela igualdade de direitos, começando pela votação que acontece na Inglaterra hoje e voltando para a situação atual no Brasil, com participação do André Fischer e do Jean Wyllys.

Mais uma vez, há que se tirar o chapéu para o Jean Wyllys pela perseverança e pela lucidez dos argumentos.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Clinton e Callum


Clinton e Callum são australianos. Tinham decidido esperar a legalização do casamento igualitário no país para se casarem, mas depois resolveram que quem tem que decidir a hora de casar são eles, e não as autoridades. E eles queriam unir as duas famílias pelo casamento agora. Nunca houve qualquer hesitação dos pais, amigos, ou parentes em apoiar a felicidade do casal. E a celebração foi realmente linda!

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Lado Bom da Vida

O Lado Bom da Vida cumpre uma única função: comprovar que Bradley Cooper é mais do que apenas o rosto masculino mais bonito de Hollywood na atualidade. É difícil entender como este drama cômico (ou seria uma comédia dramática?) conseguiu 8 indicações para Oscar. Fez-me lembrar de Os Descendentes no ano passado, aquela comediazinha dramática com George Clooney que foi injustamente inflada com indicações a 7 Oscar (ganhou apenas um). Mais um caso de hype sem justificativa.

Bradley Cooper e Jennifer Lawrence são dois sociopatas borderline - daquele tipo que consegue conviver em sociedade medicados por drogas tarja preta pesadas e sob rigorosa vigilância da família, que correm o risco de internação no primeiro escorregão. Cada um está se recuperando de um drama familiar diferente e juntos eles vão, sem perceber, acabar se ajudando.

Passar duas horas na presença de personagens que vivem em estado alterado constante não é fácil. Em alguns momentos chega a ser desagradável. Mas no final tudo vai dar certo e não será necessária nenhuma grande revelação ou reviravolta para isto. Exatamente como Os Descendentes: levemente divertido, e facilmente esquecível.

108 razões para continuar lutando

Você sabia que no Paraguai o número 108 é associado a veados e considerado maldito? Normalmente os hotéis não têm quarto com este número (pulam de 107 para 109), ninguém compra esta centena na loteria, ninguém usa esta combinação nas placas dos carros.

A razão? Durante a ditadura, Alfredo Stroessner mandava publicar listas com nomes e endereços de homossexuais que eram afixadas em lugares públicos e arruinaram as vidas de muitos cidadãos e suas famílias. A primeira destas listas continha 108 nomes.

Eu não tinha conhecimento deste fato até hoje, quando li um artigo sobre o filme Cuchillo de Palo (Faca de Madeira, em tradução livre, expressão pejorativa usada para se referir a pessoas inúteis), produzido em 2010 por Renate Costa, paraguaia que atualmente mora na Espanha. O filme é um documentário sobre a vida dupla e a morte misteriosa de seu tio Héctor Costa Torres, o número 41 da lista, e o legado homofóbico herdado pelo próprio pai de Renate, irmão de Héctor.

Nunca imaginei que a Uganda estivesse tão perto.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis


Lembro-me que quando assisti a Evita no cinema, um rapaz se levantou no meio do filme e saiu indignado reclamando "ai, que cantoria chata que não termina nunca!". Azar dele, que pagou para assistir a um musical sem saber o quê esperar. Em um musical há normalmente pontos altos e baixos, números extraordinários seguidos de outros nem tanto, e a história é contada em uma linguagem musical que tende mais para a poesia do que a prosa, requerendo atenção um pouco diferente. O espectador precisa saber o quê esperar.

Eu sempre adorei musicais. Cheguei a Os Miseráveis preparado para as duas horas e meia de projeção, inclusive para aturar um ou outro momento enfadonho quase inevitável numa obra desta duração. Fui completamente arrebatado na abertura com a grandiosidade da cena dos prisioneiros içando um navio para a doca, quando somos apresentados aos personagens Jean Valjean (Hugh Jackman, quase irreconhecível neste momento) e Javert (Russel Crowe). Jean Valjean é libertado em seguida e começa sua saga de sobrevivência, sem conseguir emprego, até ser recolhido em um convento. Os anos passam depressa e cerca de oito anos depois ele já é um homem rico, com outra identidade.

É quando surge na tela Fantine (Anne Hathaway), mulher pobre que luta para sustentar a filhinha Cosette. Fantine perde o emprego e é obrigada a vender os cabelos e a se prostituir para não morrer de fome. A participação dela na história é relativamente curta, mas no momento em que Fantine entoa I Dreamed a Dream, a música mais conhecida da obra, onde descreve toda sua história de sonhos desfeitos e inocência perdida, não aguentei e desabotoei o peito. Chorei feito criança.

Isto tudo é só o começo. O filme ainda traz muita emoção e outros números memoráveis e, surpreendentemente, nunca fica enfadonho. Tem outras atuações brilhantes, como Eddie Redmayne (interpretando Marius, que participa da revolta dos estudantes e se apaixona por Cosette adulta), o jovem ator que já surpreendera em Sete Dias Com Marilyn com seu semblante frágil. E o que dizer então do garoto Daniel Huttlestone, de apenas 13 anos de idade, com uma interpretação impecável do endiabrado Gavroche?

Resumo da ópera: Os Miseráveis saiu muitíssimo melhor do que eu estava esperando. É emocionante e lindamente interpretado. Não fica enfadonho em nenhum momento. O fato de os artistas terem realmente cantado durante todas as cenas e não simplesmente dublado a si mesmos sobre uma trilha pré-gravada contribuiu muito para dar veracidade à emoção. E a cena com Anne Hathaway (atriz que eu já adorava não só pelo talento mas também pelas posições pessoais) sem dúvida alguma vai entrar para a lista das cenas antológicas do cinema e vai arrancar lágrima pelo mundo afora. Os Miseráveis é cinema com C maiúsculo.

Nó matrimonial

As fichas corridas de Marcela e de Kelly não são invejáveis - uma cumpre pena por assassinato e a outra por extorsão mediante sequestro. Mas isto não as impediu de protagonizar um momento histórico: a primeira união estável homoafetiva oficial dentro do sistema prisional do estado de São Paulo. A julgar pela animação das noivas, das famílias, e das outras detentas, outras uniões se seguirão. Houve um tempo em que isto causaria espanto - mas este tempo é enterrado cada vez mais fundo em nossa História.