sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Carpe Noctem

Carpe Noctem significa "aproveite a noite" em latim, e é também o nome de um grupo secreto no facebook que reúne homens gays jovens para discutir problemas comuns. O grupo, que começou em São Paulo há 8 meses, já reúne 3.200 integrantes. O doutor Jairo Bouer entrevistou os criadores do grupo para o programa @saúde.

Se eu tivesse, aos 14 anos, descoberto um grupo de mais de 3 mil pessoas iguais a mim, eu certamente não teria sofrido tanto por tanto tempo por me achar tão diferente. A internet, que possibilita trocar ideias e encontrar apoio preservando a privacidade, é a melhor arma desta nova geração na mobilização pela afirmação da sexualidade e reconhecimento de direitos.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

It Gets Better. Does it?

Jamey Rodemeyer, este garoto da foto, se matou há 2 semanas por não mais suportar os insultos dos colegas. Ele era gay e tinha 14 anos de idade. Quando a irmã adolescente retornou à escola, os alunos que costumavam agredir Jamey cantaram durante uma homenagem ao garoto:"We're glad you're dead" (estamos contentes de você ter morrido) e "You're better off dead" (você morto é melhor).

Isto é tão cruel e tão absurdo que é difícil entender esta história à luz da razão. Como, neste mundo, garotos adolescentes conseguem permanecer insensíveis a uma tragédia que eles mesmos ajudaram a provocar, a ponto de se vangloriar da morte de um colega?

E ainda tem gente que acha que eu exagero quando me revolto sobre o quê a religião e o preconceito podem fazer com a cabeça das pessoas.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Capacidade de processamento

O limite de processamento do meu cérebro é de em média 6 pessoas ao mesmo tempo. Se uma delas fala muito, este limite cai para 4. Multidões, gente falando ao mesmo tempo, gente falando abobrinha - meu cérebro simplesmente não processa.

Eu talvez seja a primeira pessoa do mundo que não gosta de festa. Tenho aflição de ver gente com "cara de festa" - aquele sorriso obrigatório congelado na cara, falando meio mole por causa da bebida e soltando frases feitas. Normalmente fico acuado em um canto com um copo na mão fingindo que estou me divertindo.

O errado sou eu; o ser humano é programado desde cedo para se socializar. Este gene deve ter vindo com defeito em mim. Sou antissocial. Mas não sou um bicho de concha. Adoro reuniõezinhas de 4 ou 5 pessoas para tomar café com pão de queijo ou bolo de fubá, ou jantar seguido de uma sobremesa gostosa. Com 4 ou 5 pessoas eu consigo conversar, ouvir histórias e contar histórias - passar horas e me divertir bastante.

Não é que eu não goste de gente. É que eu gosto de um de cada vez.

Sem saída


E teve gente que saiu do cinema reclamando que Taylor Lautner é um péssimo ator. Como se as pessoas fossem a um filme de ação feito especialmente para explorar o sucesso e o corpinho do garoto esperando ver algum talento dramático. Pelo menos ele não é um ator de uma cena só. Ele consegue desempenhar, de forma convincente, pelo menos três reações bem definidas: sorriso com a boca aberta mostrando os dentes (usado para expressar alegria, determinação, surpresa, dúvida), olhar para baixo sem franzir a testa (usado para expressar tristeza, comoção, descontentamento, impaciência, ou para indicar que está pensando), e olhar para frente estufando o peito sarado (usado para expressar todo o restante da gama de emoções possíveis). E isto dá conta do filme. O talento fica por conta dos veteranos coadjuvantes: Sigourney Weaver, Alfred Molina, Maria Bello e Jason Isaacs.


Sem Saida (Abduction, 2011) é um genérico de Identidade Bourne - uma fuga vertiginosa do começo ao fim enquanto o gajo tenta descobrir sua verdadeira identidade e quem eram aquelas pessoas que se passaram por seus pais durante toda a vida. Taylor Lautner é bem treinado em artes marciais e mostra isto em cenas de lutas muito bem coreografadas. Quem estiver procurando um filme de ação e aventura para acompanhar uma pipoca quentinha sem precisar usar o cérebro não vai ter do que reclamar.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

E Cabral descobriu a televisão

Quem conhece o mínimo de pornô gay brasileiro (quem nunca?) certamente já perdeu o sono com o gaúcho Marcelo Cabral. E deve ter levado um susto ao vê-lo na TV aberta no último domingo se apresentando sob o nome de Alexandro em um destes programinhas da tarde onde um macho é disputado por três garotas desesperadas. O programa pode ser visto aqui embaixo. Mas quem quiser se lembrar do quê o Marcelo Cabral realmente gosta é só acessar aqui (link IPAT - impróprio para acessar no trabalho!)

Ah, a produção do programa alegou que não sabia, e que o candidato ainda afirmou à produção ser "machista". Então tá.

Quimeras

Qualquer pessoa que estivesse chegando à Terra hoje e deparasse com a visão ao lado teria a certeza que este é mesmo um planeta muito estranho. Um homem que trabalha para uma organização que prega a humildade e a pobreza usando uma fantasia feminina e um chapéu esquisito adorando um objeto de ouro.

Trata-se de Timothy Dolan, arcebispo da diocese de Nova York, que encaminhou esta semana um ofício irado ao presidente Barack Obama (pode ser lido aqui). Preocupado com a aprovação da igualdade do casamento no estado de Nova York e a decisão federal de não mais defender a lei que protege o casamento convencional, o arcebispo clama que as atitudes do presidente "vão desencadear um conflito sem precedentes entre a igreja e o estado".

Tudo isto ao mesmo tempo em que o papa Ratzinga, em visita à Alemanha, seu país natal, marcada por protestos tão ruidosos quanto os de sua última visita à Espanha, conclama todos os fiéis a lutar contra o casamento de homossexuais.

A luz vermelha parece estar demorando para acender no Vaticano. Na sociedade mais esclarecida do século XXI grande parte das pessoas já consegue dissociar religião de fé. Muitos já vivenciam sua fé independente de qualquer religião e reconhecem que a religião é uma invenção dos homens que está com prazo de validade vencido. Há muito que o estado não depende mais da igreja, mas parece que o Vaticano ainda não percebeu. A cúpula da igreja está ficando risível. Hoje não passam de um bando de bichas velhas despeitadas vestidas de mulher, cegadas pela ilusão de poder e representando em um grande teatro a fantasia de salvar o mundo.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Protesto pelado


O estado americano de Utah é praticamente o quintal dos mórmons, que influenciam em tudo que rola no estado. Mas os moradores estão ficando cansados das leis conservadoras e da interferência da religião na vida civil das pessoas. Como forma de protesto fizeram ontem a Utah Undie Run - uma corrida onde todo participante só veste roupas de baixo. A corrida teve a impressionante adesão de cerca de 3 mil pessoas! (mais notícias aqui, aqui e aqui)

E por aqui, caso as coisas continuem como estão, que tal organizar uma corrida de pelados na Av. Paulista?




domingo, 25 de setembro de 2011

Não explique o acordar dos metais

As duas próximas semanas serão pródigas de lançamentos musicais para saudar a recente chegada da primavera aqui e do outono no hemisfério norte. Como soe acontecer, alguns já vazaram e estão disponíveis para downloads não autorizados nos melhores sites do ramo.
Don't Explain é uma coleção de covers de grandes músicas daquela área que fica entre o soul e o blues pela cantora americana Beth Hart acompanhada do músico Joe Bonamassa. Beth Hart e sua voz ácida, que evoca Janis Joplin em algumas passagens, revisita clássicos imortalizados por Billie Holiday e Nina Simone (Don't Explain), Etta James (I'd Rather Go Blind), Aretha Franklin (Ain't No Way) e até a mais recente Melody Gardot (Your Heart Is As Black As Night). Um barato viajante que tem lançamento oficial em 27 de setembro.

Beth Hart - I'd Rather Go Blind:
      


Os românticos incorrigíveis que curtem uma balada doce vão descobrir que não é só James Blunt que acha você bonito. James Morrison também. Em 4 de outubro ele chega com The Awakening (que tem uma versão especial iTunes Deluxe com sete faixas adicionais de gravações acústicas e ao vivo). Várias faixas têm potencial para explodir nas FMs light, virar trilha de novela e grudar na cabeça da gente.

James Morrison é ótima companhia para um passeio no campo numa tarde de primavera. Já está na minha trilha sonora para subir a Mantiqueira para São Francisco Xavier no próximo final de semana. Pena que eu não tenha um carro conversível - assim o clima de vídeo clipe ficaria perfeito.

Eu ainda curto The Limit To Your Love como se tivesse sido lançada ontem. Adoro a voz meio onírica da Feist, esta canadense que finalmente explodiu em 2007 com o ótimo album Reminder e que volta depois de 4 anos com Metals para lançamento em 4 de outubro.

Já escolhi a minha faixa favorita, que certamente vai me acompanhar nesta e em muitas primaveras: The Bad In Each Other.

Feist - The Bad In Each Other:

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Andei depressa para não rever meus passos

Cordel Encantado chegou ao fim hoje com o último capítulo da saga que reuniu cangaceiros, nobreza europeia, misticismo e sertão nordestino em clima de conto de fadas narrado como literatura de cordel. Tinha tudo para virar um samba do crioulo doido. Mas, ao contrário, foi uma história cativante e simpática emoldurada por cenários e figurinos deslumbrantes.

A novela acertou em tudo, até na trilha sonora. Entre as músicas que serviram de fundo para a história do destemido Jesuíno - o herói do sertão que passou de capataz a cangaceiro a rei - e seu amor por Açucena, estava a deliciosa Saga, de Filipe Catto. Eu ainda me assusto todas as vezes que ouço esta voz maravilhosa e completamente inesperada.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O fantasma no quadro

Ontem foi o Dia Internacional do Mal de Alzheimer, e eu tenho que confessar que perder o meu arquivo mental é uma das coisas que mais me apavoram. Eu tive uma memória fantástica quando era adolescente, e agora os lapsos mentais corriqueiros que são parte do processo normal de envelhecimento de qualquer pessoa já me deixam bastante preocupado. Felizmente meus pais, ambos com 83 anos de idade, têm excelente memória para a idade, então acho que posso dizer que tenho a genética a meu favor.

Histórias de perda de memória são sempre muito tristes. O corpo ali, a mente não. O filme Longe Dela (Away From Her, 1996), por exemplo, é uma fisgada no coração. A Julie Christie, lindíssima aos quase 60 anos de idade, perdendo toda a memória de uma vida enquanto seu marido a vê desaparecer embora ela continue lá.

Outra história comovente, esta real e recente, é do cantor Glen Campbell. Famoso nos anos 60 e 70, agora com 75 anos de idade, ele estava começando a preparar o novo disco no ano passado quando recebeu o diagnóstico de Alzheimer. Então ele fez de Ghost on the Canvas, lançado há 3 semanas, um disco de despedida. Ele sabe que será o último, e que daqui pra frente a vida começa a se apagar.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Idolo de barro

Ryan Idol foi um ator de filmes pornôs gays que ficou bastante famoso nos anos 80. Ele tem hoje 47 anos e vive vida de hétero na California. Foi condenado ontem por tentativa de assassinato por ter golpeado a cabeça da namorada com a tampa da caixa d'água da privada numa discussão no banheiro da casa da garota.

Fiquei triste por ele. Já tivemos uma relação muito íntima e curtimos muitos bons momentos. Eu fiz muito sexo com o Ryan Idol. Ele, obviamente, nunca ficou sabendo e nem desconfia que eu existo.


A presidenta, a chefa, a lida

Em homenagem à presidente do Brasil, que abriu a assembleia geral da ONU nesta manhã, vale reexaminar o trabalho do comediante Gustavo Mendes em produção do Kibe Loco. Eu aprendi palavrões que ainda não conhecia e aproveitei para matar as saudades da presidente antes da fase Lexotan com Prozac e Maracugina. Mas, atenção! A imagem é inocente, mas o áudio é IPAT (impróprio para acessar no trabalho) - use fones de ouvido.





terça-feira, 20 de setembro de 2011

Kodachrome


No final dos anos 30 os filmes Kodachrome eram caríssimos e raros. Só se tornariam populares muitas décadas depois. Mas desde cedo já eram utilizados pelo fotógrafo amador americano Charles W. Cushman para retratar o cotidiano das grandes e pequenas cidades dos Estados Unidos e de vários outros países ao redor do mundo.

Na semana passada o Mail Online dedicou reportagem ao fotógrafo com foco nas fotos de Nova York (veja aqui) feitas há 70 anos e que ainda guardam um realismo impressionante.

Já há alguns anos que a Universidade da Indiana mantém o acervo do artista em uma biblioteca digital que pode ser visitada online, com fotos catalogadas por cidade (aqui). O acervo inclui milhares de fotos feitas nas décadas de 30 a 60. Um registro de valor inestimável, como comprovam estas duas fotos abaixo, feitas em Londres e em Paris nos anos 60. Uma viagem deliciosa.

Charles W. Cushman era natural da Indiana e faleceu em 1972 aos 76 anos de idade.



Entendendo o mundo

Tem manhãs que a gente acorda e o mundo demora um pouco mais para fazer sentido. É quando eu me dou conta que vou precisar aumentar a dose de cafeína naquele dia. Como hoje, por exemplo.

Que o Bolsonazi tenha sido vaiado pelos alunos de uma universidade e tenha precisado de reforço policial para deixar o lugar é fácil de entender. O que é um pouco mais difícil é compreender o quê ele estava fazendo como convidado especial de um debate sobre homoafetividade.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Cowboys e aliens



Cowboys e Aliens não é o desastre que muita gente antecipou. Outra surpresa foi constatar que a bunda do Daniel Craig no cartaz do filme não é efeito de photoshop para atrair público. Ele realmente usa calça justa durante todo o filme a ponto de perturbar a atenção em algumas cenas.

Daniel Craig faz um herói lacônico que não fala mais do que cinco ou seis frases completas durante toda a história. E faz bem. É daquele tipo que vai lá e faz, não fica mandando recado e nem tem muita cabeça para conversa.

A produção inclui todos os clichês dos bons westerns: a cidade empoeirada no meio do nada, o saloon com bêbados mal-encarados, índios Apache. E tem também Harrison Ford. E discos voadores e alienígenas.

É divertido e cheio de aventura como uma sessão da tarde com pipoca. Mas o melhor mesmo é o resultado do mash-up de gêneros. Não sei como ninguém pensou nisto antes. Alienígenas, assim como vampiros e zumbis, são atemporais. Saí do cinema imaginando as possibilidades: "Zumbis no tempo de Cristo", "Vampiros na Roma Antina", "Gladiadores Invisíveis". O céu é o limite.

We're gay; get over it!


Capa do Marine Corps Times de hoje celebrando oficialmente o fim da política Don't Ask Don't Tell que discriminava os gays nas forças armadas dos Estados Unidos. E quem não gostar que coma menos!

domingo, 18 de setembro de 2011

Antes do Emmy virar gay

Jane Lynch e a esposa Lara Emby comemorando o
Emmy no ano passado
Hoje à noite todo mundo que curte televisão vai provavelmente estar sentado em frente da própria. A razão é a entrega do Emmy, o prêmio mais importante da televisão. Na lista de candidatos ao prêmio há várias séries, personagens e atores abertamente gays. A apresentadora principal da noite é Jane Lynch (que faz a treinadora Sue Sylvester em Glee), que nunca escondeu que é lésbica e faz questão de levar a esposa em todos os eventos especiais. Mas nem sempre foi assim.

Norman Sunshine, que ganhou o Emmy pela arte gráfica de Addie and the King of Hearts em 1976, celebra a abertura do Emmy em artigo muito inspirador publicado ontem no New York Times com o título Before The Emmys Were Gay (original aqui). Há 35 anos Normam era obrigado a se referir a Alan Shayne como seu "amigo", embora vivessem juntos há 18 anos. E se viu obrigado a arrumar uma companhia feminina para acompanhá-lo à cerimônia.

Norman escreve sobre as mudanças com um misto de emoções. Espanto e inveja de ver os novos profissionais com seus parceiros nas novas edições do prêmio, e orgulho pela abertura da sociedade. Quando ele ganhou o Emmy seu parceiro não estava do seu lado para que celebrassem juntos aquele momento. Muitos anos depois o próprio Alan Shayne concorreu a um Emmy pela produção da série The Bourne Identity, e o casal se sentiu finalmente com a liberdade para comparecer juntos à festa.

Na noite de hoje pode-se dizer que o Emmy já estará totalmente fora do armário. Certamente haverá muitos casais unissex acompanhados de seus respectivos maridos e esposas, muitos agradecimentos emocionados, e beijos orgulhosos - todos sem medo de ser feliz.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Tony Bennett - Duets II

Em 1951 Tony Bennett já estava no topo das paradas. Teve uma carreira sólida com alguns tropeços (em 1979 quase morreu de overdose de cocaína) e no final dos anos 80 era praticamente desconhecido das novas gerações. Estava caminhando para o ostracismo para o qual o novo invariavelmente empurra o velho. Até que em 1994 foi "descoberto" pela geração MTV através do excelente Tony Bennett: MTV Unplugged que incluía duetos com Elvis Costelo e k. d. lang e desde então passou a ser uma espécie de queridinho da nova geração de músicos.

Tony Bennett tem uma voz tonitruante inconfundível, e canta com potência e vivacidade que não entregam seus 85 anos de idade completados no último dia 3 de agosto. O primeiro Duets: An American Classic saiu há exatos 5 anos para comemorar as oito décadas de idade do cantor e incluía duetos com Stevie Wonder, Elton JohnPaul McCartney, Barbra Streisand e George Michael, entre outros, interpretando deliciosos standards do cancioneiro americano.

O novo disco de duetos tem 17 faixas com um desfile de astros de primeira grandeza. Michael Bublé e k. d. lang, que estavam no primeiro, dão novamente as caras. E tem também Norah Jones, Aretha Franklin, Willie Nelson, e até Mariah CareyLady Gaga. Mais eclético impossível. A voz deliciosa de Tony Bennett alinhava todas as gravações e dá unidade à obra.

Duets II certamente será também lembrado por incluir a última gravação oficial de Amy Winehouse. O dueto em Body and Soul resultou sublime e passa a certeza de ter sido feito, literalmente, com corpo e alma. Impossível não se emocionar.

Duets II tem lançamento oficial para a próxima terça-feira  nos Estados Unidos, mas já pode ser ouvido aqui na íntegra, faixa por faixa, sem precisar baixar nada.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Eu quero uma casa no campo

Está pensando em comprar um sítio, mudar para a roça, criar porcos e vacas, e respirar o ar puro do campo? O designer Jeremy Scott tem a sugestão perfeita de roupa para a sua nova vida pastoril dedicada às bucólicas atividades campestres.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Amigo de fé, irmão, camarada


O grande sucesso do Roberto Carlos está intimamente ligado à falta de sobressaltos. Entra ano e sai ano, entra década e sai década, todo mundo sabe o que esperar. Roberto Carlos é a personificação da mesmice, um dos valores mais arraigados na tradicional família brasileira.

Por isso é bastante significativo o seu apoio público ao casamento entre homossexuais anunciado no Programa do Jô que deve ir ao ar em breve. Sinal que os valores da tradicional família brasileira também estão mudando.

"Todo ser humano tem direito a felicidade. Se um gay casa com outro e não me causa problema algum, sou a favor. Porque ser contra o que é felicidade é loucura. São pessoas do mesmo tipo que nós. Temos que parar com esse tipo de preconceito", disse o cantor. É isso aí, meu amigo de fé, meu irmão, camarada.


ATUALIZAÇÃO EM 17/09/2011: Agradeço ao amigo Eduardo pela publicação do trecho da entrevista, que incluo abaixo:

O novo hétero

O vídeo foi postado no começo da semana passada. São dois soldados americanos em missão no Iraque. Que aproveitaram para esclarecer que são héteros. E eu acredito. Mesmo.

Houve um tempo em que a atitude hétero era o padrão masculino. Os gays tinham que se fingir de héteros para evitar a hostilidade e o preconceito. Depois os gays avançaram terreno, conquistaram o direito de ser diferentes, e estabeleceram um certo estilo. Aí alguns héteros começaram a copiar e adotar alguns sinais dos gays. E o que vai prevalecer no futuro é, certamente, a liberdade de ação sem que ninguém esteja preocupado se aquilo parece gay ou não.

Existem atualmente pessoas atravessando cada uma das fases acima. Muita gente ainda nem saiu da primeira. Os dois soldados do vídeo, por outro lado, já estão na última. A ordem é soltar a franga e não estar nem aí para o que estão pensando. A vida é curta demais para ficar fritando as caspas com o calor da cabeça. Ainda por cima, eles são mesmo uma gracinha. Ah, e se eles fossem realmente gays certamente dançariam e dublariam muito melhor!

Lidando com a morte na novela

As novelas brasileiras são, no geral, um produto muito bom. E mesmo sem ter feito nenhum curso é possível apontar as várias formas de interpretação, desde o jeitão escrachado e mais caricato dos personagens dos núcleos cômicos até a interpretação mais contida dos atores dos núcleos sérios que lidam com os grandes dramas do roteiro.

Mas tem uma coisa que até hoje eu não consegui entender como a teledramaturgia brasileira ainda não aprendeu: as cenas de alguém recebendo uma notícia muito ruim - de alguma morte, por exemplo. Todos os resultados que tenho visto são, para mim, risíveis. Por que será que o personagem grita, esperneia, estrebucha, e se debate daquele jeito? E fica repetindo "diz que não é verdade!!". Sinceramente, me dá vontade de rir.

Eu já recebi e já dei notícias muito tristes. Também já vi outras pessoas recebendo notícias terríveis. A primeira sensação é normalmente de incredulidade. A pessoa fica parado por alguns segundos esperando um desmentido, como se aquilo fosse só uma pegadinha. Logo se dá conta de que o assunto é muito sério para ser motivo de piada. Aí vem uma espécie de estado de choque. A pessoa pede mais detalhes, fica com um nó na garganta, as pernas falham, vem um aperto enorme no peito, uma sensação de desorientação, a voz falha, vem um princípio de soluçar, talvez um choro contido ou descontrolado. Mas sair gritando com as mãos para o céu? Só na novela.

E não é só coisa de gente pobre escandalosa. Insensato Coração teve uma cena com o Jônatas Faro no velório da mãe que ficou involuntariamente cômica. Pensei até que ele fosse derrubar o caixão da falecida, tamanha a comoção. Tudo bem que ele é um ator inexperiente (eufemismo para canastrão), mas o diretor deve ter pedido aquilo e acho que nenhum outro ator teria conseguido salvar a cena.

O pior é que acabaram lançando uma moda. Muita gente vê aquilo e deve achar que é normal. Quando há coberturas de grandes tragédias nos telejornais a gente percebe que muita gente começa a gritar e se espernear quando as câmeras se aproximam. Mas, grito e choro escandaloso nunca foram parâmetros para se avaliar a dor.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Lição de uma vida

Fiquei particularmente tocado com o artigo publicado no New York Times ontem (original aqui) pelo Dr. Manuel A. Eskildsen, médico geriatra. O Dr. Manuel descreve a tristeza e frustração ao perder um paciente de quase cem anos de idade por quem ele havia desenvolvido um carinho muito especial.

O paciente em questão era professor de história aposentado e havia lutado na Segunda Guerra. Era um homem muito culto, refinado, e extremamente gentil. E o que mais doeu no Dr. Manuel foi vê-lo morrer só, sem sequer um familiar por perto para lhe fazer companhia.

Mas a relação especial entre médico e paciente foi despertada quando o Dr. Manuel percebeu que seu paciente era gay, embora nunca tivessem discutido este fato abertamente.

O Dr. Manuel A. Eskildsen também é gay e vive uma vida tranquila com seu marido e dois filhos. É médico geriatra respeitado e professor assistente no curso de medicina da Universidade Emory de Atlanta. No artigo ele descreve de forma emocionada a dor de perceber que uma pessoa tão digna e nobre como seu paciente não tenha tido a oportunidade de viver sua sexualidade com a mesma abertura a que muitos, como ele, o médico, já têm acesso nos dias de hoje.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

No sex after take off, please!

Ontem, enquanto as várias festividades para comemorar o aniversário do 11 de setembro aconteciam em terra, um grande temor ainda pairava nos ares dos Estados Unidos. As agências de segurança estavam em alerta quando receberam o aviso de que 3 passageiros haviam se trancado no banheiro do avião fazendo a rota San Diego - Denver. Os sistemas de defesa foram acionados e caças militares deixaram as bases para escoltar o avião suspeito.

No final das contas descobriu-se que os 3 passageiros, dois homens e uma mulher, estavam apenas espantando o marasmo do vôo com a mais velha das diversões: o sexo. Êta mulher de sorte!

Os três saíram algemados do avião mas foram logo liberados. Não há lei contra adultos fazerem sexo, desde que consentido e de forma discreta sem atentar contra o pudor, como em um banheiro de avião, por exemplo, mantendo a porta fechada. Nunca na história daquele país uma trepada deixou tanta gente nervosa.


domingo, 11 de setembro de 2011

A arte de não esquecer


O brasileiro médio não consegue entender a comoção que envolve o aniversário de dez anos dos ataques terroristas do 11 de setembro. Muitos acham mais chique ficar blasé e simular espanto com tanto abalo. Eu não sou particularmente fã da cultura estadunidense, mas se há algo que eu admiro muito neles é a habilidade para criar grandes eventos com o objetivo de engrandecer fatos e pessoas e fortalecer a nação. E não esquecer jamais.

O culto à memória é muito presente na sociedade americana e tem reflexo em todas as instituições do país. Os americanos celebram o Memorial Day, o Homecoming, o Veteran's Day, o Independence Day, o Thanksgiving, e todos os outros feriados de forma muito mais efusiva e significativa que qualquer celebração oficial no Brasil. Qualquer aluno de uma High School americana conhece detalhadamente todos os rituais e significados envolvidos nestas datas. O ensino médio americano se encerra com o baile de formatura (the Prom) que é um verdadeiro rito de passagem para qualquer adolescente. Todas estas celebrações têm impacto nas vidas dos americanos.

Os eventos que provocam grandes comoções têm até fases que são de difícil tradução para o português, como o reckoning (algo como interiorizar a dor) e o closure (fazer as pazes com o luto).

Em termos de premiação, então, ninguém supera os americanos, e o Oscar é só um exemplo. Nenhuma sociedade festeja o valor dos feitos de seus membros como a americana. Nenhuma outra sociedade cultua e registra tanto a própria memória.

Hoje, meus amigos americanos trocaram mensagens consternadas de apoio e confiança em um futuro melhor. Alguns colocaram bandeiras nas varandas das casas. Ninguém pretende deixar que o passado seja varrido para debaixo do tapete.

No Brasil a situação é muito diferente. Se alguém colocou uma bandeira na janela na última quarta-feira para celebrar a independência certamente foi taxado de idiota. Quase não se fala mais no mensalão, por exemplo, e pouca gente ainda deve lembrar do que se trata. Para quem não se lembra, foi uma tragédia que deve ter matado muito mais do que os ataques terroristas aos Estados Unidos. Porque a corrupção surrupia dinheiro público que deixa de construir hospitais, estradas, escolas - e indiretamente acaba matando muito mais gente. O estado do Maranhão está caindo de podre embora tenha sido o estado que mais verbas recebeu do Ministério do Turismo (mais que o próprio Rio de Janeiro, que vai sediar uma Olimpíada). Mas ninguém quer ficar lembrando destas coisas porque dá muito trabalho.

Muita gente está perdendo uma ótima oportunidade de aprender com os americanos. O brasileiro parece que está confundindo "ser blasé" com "ter preguiça mental". Ainda temos muito chão pela frente.


sábado, 10 de setembro de 2011

Risoto para que te quero


O desastre começou quando descobri que o restaurante Barbaresco do shopping ValeSul, não muito longe de onde eu moro, tem um Festival do Risoto. O lugar é bem gostoso e tem um serviço nota dez, e os risotos são servidos em uma 'estação de risotos' - um balcão especial onde o cliente pode fazer o pedido e observar a preparação enquanto vai ficando com a boca cheia d'água. O risoto de tomate seco com mozarela de búfala beira o divino. O de bacalhau é de virar os olhinhos.

Eu já estou começando a sonhar com risotos. Sinto que em poucas semanas vou ser obrigado a declarar minha falência financeira e minha ruína física.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

I love Kate

Kate Winslet não é apenas uma das melhores atrizes da atualidade. Aos 35 anos ela é também dona de rara beleza, atestada pela lente do mestre Mario Testino nas fotos publicadas na revista V em ensaio que homenageia a inesquecível Elizabeth Taylor.

E é reconfortante, para dizer o mínimo, ver que Kate Winslet é também dotada de grande beleza interior. Na reportagem ela declara que não pretende criar os filhos sob uma redoma protetora e gosta da ideia de expor as crianças à cidade e à diversidade do mundo.

"Eu não pretendo viver correndo e me escondendo. Esta não seria eu, não é quem eu sou. Eu gosto da cidade. Gosto da diversidade a que meus filhos se expõem todos os dias. Adoro o jeito como a cabeça deles funciona. O Joe virou pra mim outro dia e disse "—Um dia eu vou ter uma namorada. Ou um namorado, se eu for gay". E ele tem só 7 anos de idade! Daí eu disse pra ele: "— Então você vai ter uma namorada ou um namorado, meu amorzinho". E ele me perguntou, "— Qual que você vai gostar mais?" E eu respondi pra ele: "— Meu amorzinho, a escolha vai ser só sua, e para mim não vai fazer nenhuma diferença". Mas disto ele já sabe. Isto é um privilégio. Esta sim é a melhor educação que se pode dar."

Kate, descobri que te amo e te admiro ainda mais.




quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Morte aos zumbis!


O jogo Tea Party Zombies Must Die já é um sucesso na internet. Quem não sentiria enorme prazer de matar, mesmo que virtualmente, a escória dos políticos do país? O jogo inclui até Sarah Palin e Michele Bachmann.

Fica aí a dica para os programadores brasileiros embarcarem nesta onda e lançarem uma versão tupiniquim. A adaptação no caso brasileiro deve ser muito mais fácil. Não vai precisar nenhuma caracterização adicional para fazer Sarney, Magno Malta ou Apolinário ficarem com cara de zumbis. Aqui o jogo já nasceu pronto.

Seu dentista adverte: música dá cárie

O que faz uma música ficar grudenta e açucarar de vez? Um refrão fácil e sem criatividade? Uma batida monotônica e repetitiva?

Algumas músicas não conseguem envelhecer com dignidade. Ficam chatérrimas e insuportáveis com o tempo. Ou alguém ainda consegue ouvir Asa Morena com a Zizi Possi sem sentir uma comichão no estômago?

A revista Rolling Stone pesquisou entre os leitores quais as 10 músicas mais chatas dos anos 90. Embora eles tenham chamado de 'the ten worst songs of the nineties' eu não classificaria estas músicas de as piores da década. Elas já foram boas um dia - tanto que galgaram as paradas - mas em algum momento passaram do ponto e desandaram. Ficaram grudentas. Viraram chatas.

Lá no meio da listagem está o tema de Titanic My Heart Will Go On, CD que vendeu trilhões de cópias e hoje deve estar servindo de porta-copos em muito restaurante de periferia. Destino parecido deve ter tido a repetitiva Macarena. Mas, segundo os leitores da revista, nenhuma destas bate o chatérrimo e único sucesso do grupo Aqua, Barbie Girl. Para ouvir de novo e chorar. De raiva.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Avô é tudo igual, só muda de endereço

Lembro-me de um filme do qual não recordo mais o nome e que tinha um gangster perigosíssimo que só tinha medo da própria mãe. Ele mandava matar por quase nada e todo mundo tinha medo dele. Mas a mãe dava tapas na cara dele toda vez que ele fazia alguma malcriação e ele baixava a cabeça e ficava quietinho.

Os laços que unem cada família são uma coisa realmente difícil de avaliar e mensurar. Até ditadores facínoras como Saddam Hussein e Muammar Kadafi devem ter brincado de bilu-teteia na bochecha dos netinhos com aquela cara abobalhada de vovozão coruja. Para logo depois entrar no gabinete e dar a ordem para a morte de mais algumas dezenas de opositores do regime sem a menor misericórdia.

Cenas de intimidade da família Kadafi começam a vir à tona agora com a divulgação de alguns vídeos caseiros encontrados nas casas abandonadas pela família, como este do ditador brincando com a netinha. Não acho que o vídeo torne o ditador mais humano, mas serve bem para mostrar que na intimidade a maioria das famílias é mesmo muito parecida. Kadafi pode ter sido muito duro com os filhos, mas com os netos na intimidade deve ter sido um bobalhão pasmado com aquela eterna cara de trouxa.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Nunca vi rastro de cobra nem couro de lobisomem

Um dos maiores benefícios da recente visibilidade conquistada por todos os espectros das diferentes sexualidades é, sem dúvida alguma, a coragem que muitos têm tido de se assumir e mostrar a cara - coisa impensada num passado recente. Tome os transexuais, por exemplo. Até bem pouco tempo atrás ninguém nem imaginava que era possível que alguém pudesse nascer no corpo do sexo errado. Mas nos últimos tempos, do participante no Big Brother argentino a Lea T., a exposição positiva de transexuais tem ajudado a desmistificar estas pessoas tão mal compreendidas.

Nesta semana, Chazz Bono, o filho da Cher, está no centro de uma grande polêmica nos Estados Unidos depois de ter confirmado sua presença no programa Dancing With The Stars. Grupos conservadores acham que a presença do rapaz que já foi menina vai incentivar a "prática do transexualismo". Tá bom. Eles acham que as crianças vão olhar para ele e subitamente desejar trocar de sexo. Não tem nem como responder a isto.

Da Austrália, outra surpresa. Paige Elliot Phoenix, candidato no programa The X Factor, confessa, para surpresa de todos, que já foi mulher e está completando a transição para a forma masculina.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Pisando na unha encravada da Madonna

Existem rumores não confirmados de que esta assistente de vestido preto foi encontrada degolada e com todas as unhas arrancadas na manhã seguinte.


domingo, 4 de setembro de 2011

Zora deixou de ser bastarda

Acabo de ter uma desilusão amorosa tão grande que mal tenho forças para me levantar. Vou botar um disco de tango na vitrola e tomar um litro de cuba-libre até apagar de vez.

Li que o Cheyenne Jackson, que agora está no elenco fixo de Glee, casou-se de papel passado com Monte Lapka, seu namoradão de 11 anos (de relacionamento, não de idade, obviamente). Eu passei estes anos todos me guardando pra ele e agora levo este balde de água fria na cara!

Depois do casamento em Nova York, Cheyenne Jackson postou no Twitter: "Agora é oficial. Depois de 11 anos juntos, casei com o melhor cara que já conheci. Zora deixou de ser bastarda". Zora é a cachorrinha deles. E, para celebrar a união, postou a foto do casal feliz.

Como eu não sou de guardar rancor, já sacodi a poeira, dei a volta por cima, esqueci do tango e da cuba-libre e já estou saindo para o cinema, feliz com a felicidade do casal. Porque felicidade é algo muito contagioso. Dá pra olhar para a foto e não sentir muita alegria por estes dois felizardos e muita esperança de que dias melhores virão?

 

sábado, 3 de setembro de 2011

Guilty pleasures

Minha amiga Cissa era fãzona do Wando. E morria de vergonha disto. Quando queria comprar um disco do Wando ela inventava histórias mirabolantes na loja - dizia que estava comprando um presente para a empregada - coisas assim.

Ainda bem que nossos impulsos interiores nem sempre obedecem à imagem que queremos transmitir de socialmente ou moralmente corretos, ou seríamos insuportavelmente chatos.

Todo mundo tem um ou vários esqueletos no armário. Pode ser uma transa-baixaria, um casinho secreto, um desejo condenável, ou um simples gosto inconfessável. Eu, por exemplo, adoro a música e o clipe de Easy com a Paula DeAnda. Eu sei que é brega, rasteiro, veadíssimo, medíocre, vulgar, ordinário - mas é mais forte do que eu. Toda vez que vejo o clipe eu me lembro da Eunice com o Ismael em Insensato Coração - a gente morre de medo de alguém descobrir e toda vez jura que vai ser a última!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Gays 50ões, 60ões, 70ões

A única forma de manter um corpinho sarado e trincado para sempre é morrendo cedo, e isto ninguém quer. Se você pretende ter vida longa então é bom se preparar para a velhice.

Existem poucos registros de gays idosos. Barrigas flácidas, rostos enrugados, cabelos brancos e ralos não rendem boas fotos. Mas esta é a realidade dos gays que lutaram pelas primeiras aberturas do movimento há décadas atrás. E vai ser a realidade de todos nós que almejamos uma vida longa.

Há quarenta anos atrás a cena gay não era dominada por corpos talhados em academia usando calças jeans justas e sem camisa batendo cabelo na pista da boate. Há quarenta anos atrás não havia cena gay. Os homens gays da época, senhores respeitáveis que usavam calça de tergal e camisa social, identificavam seus pares na rua por meio de uma série de códigos secretos que incluíam olhares furtivos e gestos de duplo sentido.

Tudo isto está relatado de forma fascinante no premiado curta Bailão, de 2009, do diretor Marcelo Caetano, sobre um dos primeiros lugares na cidade de São Paulo onde homens gays se reuniam para namorar e dançar música lenta de rostinho colado. O filme tem duração de 16 minutos e pode ser assistido online mesmo, sem precisar baixar ou instalar nada no computador, por este link, clicando em "Assista". O documentário é uma preciosidade e contém relatos emocionantes de homens gays que viveram em uma época em que os encontros eram marcados pela clandestinidade. Sim, ser gay já foi muito mais difícil.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Em defesa dos donos de casa desesperados

Confesso que não entendi muito bem o propósito do André Fischer com o texto Gay 50ão carente: isca fácil para psicopatas em referência ao duplo homicídio da rua Oscar Freire. Se o objetivo é alertar para o perigo, então tudo bem. Mas desnecessário. Um gay cinquentão conhece muito bem os perigos da vida.

Se o objetivo é transferir culpa para a vítima, então discordo da abordagem. Durante muito tempo os gays já carregaram uma pesada sensação de culpa inerente à própria condição, culpa esta que sempre foi reforçada de forma muito cruel pelas religiões. Esta visão religiosa de culpa e punição é muito rasteira, e lembro-me bem como foi muito explorada principalmente na eclosão da epidemia de AIDS.

Se uma pessoa procura sexo pago em algum beco escuro e perigoso, ou se caminha pela Av. Paulista às 3 da madrugada, obviamente está correndo um alto risco. Mas não se pode associar a eventual desgraça ao fato de a vítima ser isto ou aquilo. O infortúnio da vítima não é mais ou menos justificado pelo fato de ele ser um gay cinquentão carente. Estes são detalhes policiais para auxiliar nas investigações que não devem ser usados para juízo de valor moral da vítima.

Uma vítima se envolver em uma situação arriscada não dá razão ou justificativa para o criminoso. E se não tivermos este cuidado na divulgação deste tipo de crime só estaremos fortalecendo na cabeça das pessoas a ideia de que alguns gays estão pedindo para serem mortos. Algumas religiões já estão pregando isto.