quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O otimismo e o berimbau

Tenho certeza que em toda a minha vida nunca vou conhecer outra pessoa tão otimista quanto a minha tia-avó Bezinha (o nome dela era Isabel). Eu era ainda criança e ela já tinha lá os seus 60 anos ou mais, viúva, sem filhos, tinha seu mundo todo dentro de uma mala e vivia viajando para longas temporadas nas casas dos parentes. Apesar da idade ela era toda moderna, usava meias de lurex bem coloridas - e não adiantava dizer para ela que não estavam combinando com o resto. As pessoas chegam numa certa idade em que quase tudo é permitido.

Ela achava homem de cabelo comprido o máximo. Enquanto minha mãe vivia digladiando comigo e com meu irmão mais velho para cortarmos aquela "indecência de cabelo", a tia Bezinha sempre saia em nossa defesa. Para ela tudo estava bom, tudo estava ótimo. Ela falava pausadamente e vivia com um sorriso enorme no rosto.

Uma vez minha prima começou a namorar um cara que tinha cara de maconheiro, não trabalhava, passava o dia inteiro em rodas de capoeira com uns amigos esquisitos e só faltava ter "malandro" tatuado na testa. Durante um almoço de família meu tio aproveitou para soltar o verbo. Minha prima chorando em um canto da mesa e meu tio, todo vermelho, chamando o namorado de "marginal" para pior. A situação já estava pra lá de preta quando a tia Bezinha levantou bem devagar, caminhou com seu passinho miúdo até o canto da mesa, passou o braço em volta da minha prima, olhou para o meu tio de forma desafiadora e disse "Ele toca um berimbau como eu nunca vi!"

5 comentários:

  1. Era uma figura de linguagem ou ele tocava o instrumento mesmo? De qualquer forma, adorei!

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  2. Sucesso sua tia.
    Pede pra ela fazer uma cartilha. Estamos precisando de gente assim.

    [j]

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  3. todo mundo ficou curioso com o berimbau dele srsrsr.

    Não sei qual é essa certa idade em que quase tudo é permitido, mas resolvi me permitir muita coisa. Ainda bem que não nasci muito preocupado com opinião alheia!

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