Contardo Calligaris é psicanalista e doutor em psicologia clínica. Também escreve para a Folha de S. Paulo, onde publica hoje um artigo imperdível sobre "Lobby cristão e casamento gay" (link para assinantes UOL). O artigo traz um subtítulo que resume toda a sua essência e representa o cerne de toda a controvérsia do mundo moderno com as religiões: "As igrejas gostariam de uma sociedade em que fosse crime tudo que, para elas, é pecado".
Ele descreve, muito melhor do que eu seria capaz de contar aqui, sobre a hipocrisia dos candidatos a presidente - que, para não perder votos, se vêem na obrigação de satisfazer todas as denominações religiosas em sua campanha. Pois a força das igrejas não é nada desprezível. E, de boazinhas, as igrejas não têm nada. O grande sonho de quase todas as igrejas é ter a força do estado. É poder ter um exército e uma polícia que batam à sua porta e o prendam se você estiver praticando sexo oral, fornicando com alguém do mesmo sexo, ou outras coisas assim. "O sonho escondido de qualquer Roma é Teerã ou a Cabul do Talibã", escreve Contardo Calligaris.
Contardo fala também sobre o casamento gay. E da vantagem de se viver em um estado laico. Pois aqueles que pregam a "santidade" do casamento entre um homem e uma mulher sempre vão estar livres para casar com alguém do sexo oposto e proteger a "santidade" do próprio casamento. Em uma teocracia as coisas não são exatamente assim. Quem vive em uma teocracia deve estar preparado para ser forçado a viver em uma moral que pode ser diferente da sua - e não ter outra escolha. Como, por exemplo, em uma teocracia gay em que todos fossem obrigados a casar com alguém do mesmo sexo. "Quem ambiciona impor sua moral privada como legislação pública deveria sempre pensar seriamente na hipótese de a legislação pública ser moldada por uma outra moral privada, diferente da dele".
ATUALIZAÇÃO: Quem não é assinante UOL pode ler o artigo aqui. Obrigado, Marta!
Ai vai um link para quem não é assinante: http://contardocalligaris.blogspot.com/
ResponderExcluirMandei isso aqui por email para alguns blogueiros. Devia ter incluído você na lista.
ResponderExcluirIsso saiu aqui no Rio na coluna do Ancelmo do Globo de hoje. Apesar da hesitação do autor em concordar com algo que deveria ser óbvio, adorei que reproduziram a afirmação do delegado que é, de certa forma, o mesmo recurso usado pela Cleycianne: levar o discurso da religião tão a fundo de forma a exagerá-lo e mostrar como ele é incoerente.
Calma, gente
Hoje, às 10h, muçulmanos, judeus e integrantes da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) vão protestar em frente à Delegacia do Meio Ambiente, no Rio, durante o depoimento do sacerdote de candomblé Fernando Maurício, acusado de sacrificar bichos em seus trabalhos espirituais. Para Ricardo Rubim, do CCIR, “é preciso garantir a todos os brasileiros liberdade de culto”.
O outro lado...
O delegado de Meio Ambiente do Rio, Marcos Cipriano, diz que a Constituição protege as crenças. Mas, segundo ele, este direito não pode ser absoluto: -O direito existe desde que não se cometa crime. Imagina se aparecer uma seita que permita estuprar virgens? Não pode. É. Pode ser.
Aliás...
A CCIR entra hoje com ação no Ministério Público contra panfleto distribuído no Dia de São Cosme e Damião, no Rio. No papel, a Igreja de Nova Vida afirma que “os santos são amigos do diabo”.
Em tempo:
Lei 9.605/96 (lei de crimes ambientais)
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
Os bichos estão bem à frente das bichas quando o assunto é a defesa dos seus direitos contra aqueles que acham que liberdade religiosa é absoluta.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDaniel e Luciano,
ResponderExcluirpara mim, o pior de tudo é saber que não somos unidos a ponto de haver uma mobilização geral. Se somos 10% da população (é o dizem as pesquisas), temos um poder imenso nas mãos e não o usamos. Se nós deixarmos de comprar em locais que não sejam simpatizantes, se deixarmos de votar em candidatos que não votam a nosso favor, se deixarmos de contribuir à essas associações religiosas, porque precisam do nosso dinheiro, se boicotarmos os programas de televisão que se omitem e melhor, se deixarmos claro essa nossa posição, eu tenho certeza de que conseguiríamos mais benefícios ou maiores conquistas. O problema é que a bicharada está sempre pensando em "com que roupa eu vou", se vou na the week, se o banheirão do shopping é bom para pegação, bla, bla, bla... falta é politização e união... porque nós mesmos seremos beneficiados. Eu fico puto dentro da roupa ao ver essa futilidade da bicharada. Tem uma festa? lá estão... tem parada gay e vai rolar beijaço? só se for putaria... para coisa séria nós nos omitimos... argh...
Eu havia lido este artigo do Calligaris ... perfeito e conciso ... o problema é q estamos vivendo uma nova idade média querido, onde as religiões vão, aos poucos, e com o respaldo de uma minoria ignorante e de uma maioria omissa, adentrando e tomando o poder no Estado ...
ResponderExcluirAí está o grande perigo ... e isto não se restringe a nós gays não ... tem muito mais coisa por detrás ...
bjux
;-)
Depois da aprovação do casamento gay, pelo que o movimentos Gay irá lutar? Só a igualdade de justiça, não será suficiente, foi para a mulher e o negro, mas nós somos PECADORES e isso faz toda a diferença.
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