segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vivi só. Sem amigo com quem pudesse realmente conversar.

Quando meus primos e eu éramos todos muito pequenos e passávamos as férias na casa do meu avô costumávamos ouvir um disco com a história triste de um aviador perdido no meio do deserto que fica amigo de um principezinho misterioso que aparece do nada. Era a única coisa que fazia com que ficássemos absolutamente quietos e atentos, paralisados até. Ouvíamos aquilo dezenas de vezes durante as férias e terminávamos sempre com lágrimas nos olhos. Só muito tempo depois fui ter contato com a versão escrita de O Pequeno Príncipe que todo mundo obviamente conhece. Não é preciso ter sido miss para se ter lido ou ouvido falar do livro.

A velha casa continua lá. Está mal conservada, escura, com cheiros que já não me são mais familiares - e tudo parece bem menor do que como eu lembrava. Fui revirar uma caixa com coisas antigas armazenadas em um quarto e encontrei exatamente o disquinho com a história que marcou minha infância com tanto impacto. E ao analisá-lo me dei conta do que tinha em mãos: o original da versão dramatizada da obra de Exupéry gravada em 1952 pela turma de teatro do Paulo Autran, ele próprio interpretando o aviador que narra a história. Com trilha sonora assinada por ninguém menos que Antônio Carlos Jobim!

A gravação provocou em mim adulto um outro sentimento. A identificação começou logo na primeira frase do relato: "Vivi só. Sem amigo com quem pudesse realmente conversar." E eu, que quando criança me via no principezinho misterioso, agora me enxerguei no aviador solitário. Mas no final eu chorei do mesmo jeito.


O Pequeno Príncipe (com Paulo Autran) - Parte 1: 


O Pequeno Príncipe (com Paulo Autran) - Parte 2: 

6 comentários:

  1. Papai Urso do Interior18 de outubro de 2010 às 11:42

    Para mim O Pequeno Príncipe está para a literatura como O Magico de Oz está para o cinema, cada vez que se lê ou vê, descobre-se algo novo de novo e de novo.... Como não se emocionar? Primeiro livro das misses e junto com Sítio do Pica-pau Amarelo, primeira leitura 'racional' de muitos menininhos e menininhas de 12 anos, a idade em que já temos o discernimento mínimo p/ compreender vocábulos e conjunções, ajudados pelas gravuras estupendas... Aconteceu comigo, com vc e com muitos mais... Tenho uma edição velhinha, surrada, mas não consegui doar a nenhuma biblioteca pública, deve ser o tal valor sentimental, é clichê dizer que se leu este clássico de Saint-Exupéry, mas que clichê maravilhoso...

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  2. Vou guardar esse post e ouvir a gravação quando eu estiver num momento menos instável emocionalmente do que eu me encontro agora...

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  3. Ooowwwnnnn. Agora você vai me fazer revirar todos os meus disquinhos coloridos com historinhas.
    ainda bem que eu tenho vitrola. :P
    PS.: me senti idoso agora.

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  4. Papai Urso do Interior18 de outubro de 2010 às 13:19

    Acabei de escutar os dois aúdios do post... Tb chorei seu malvado! Como vc pode colocar um troço desses numa segunda-feira... Agora tô que nem manteiga em frigideira quente... Como é que vou me recompor e voltar ao trabalho?... Literatura infanto-juvenil é foda, me lembrei até da minha vozinha fofa que já partiu, seu malvado...

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  5. @Papai Urso do Interior:
    Esta dramatização é realmente um primor, é impossível não ser tocado. Eu já ouvi centenas de vezes e nunca fico indiferente.
    Abraço,
    **

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  6. Nunca tinha ouvido esta gravação. Aliás, nem lembrava dos disquinhos coloridos - bateu um flashback imediato. Agora, com musicas do Tom...reparou como o começo do acorde lembra Triste Canção...Preferi a versão do disco. Tks!!!!!!!!!!

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