Eu adoro ler o João Pereira Coutinho na Folha de S. Paulo. Este portuguesinho especializado em assuntos brasileiros tem ideias vanguardistas, um olhar inteligente sobre o cotidiano, e escreve muito bem. Mas estranhei muito a coluna de hoje (Marchando com Barbra Streisand, link para assinantes) em que o jornalista se revela contra a extinção da política americana do "Don't Ask, Don't Tell' sob o pretexto que "...se a maioria dos soldados não quer os homossexuais, é absurdo impor quando a sobrevivência está em jogo".
Nunca imaginei que o João Pereira pudesse estar desinformado a tal ponto. A extinção da política americana só se deu depois de as forças armadas realizarem uma pesquisa ampla entre suas fileiras e constatar que a grande maioria dos soldados aprovava e incentivava a extinção da política do preconceito. A anedota do jornalista sobre usar um disco de Barbra Streisand e se fingir de homossexual para escapar à convocação também não me soou de bom gosto. Embora ele afirme que não tem preconceito e que "...o que alguém faz entre os lençois não tem qualquer relevância pública..." mais adiante ele volta com "...é um absurdo perigoso pretender impor os valores "corretos" da vida civil a uma instituição onde a sobrevivência, deles e nossa, se joga a cada momento". Aqui ele esquece que, se não fosse assim, as forças armadas ainda não aceitariam negros.
João Pereira, estás a decepcionar-me!
Essa coisa de fazer sempre uma piadinha sobre gays, mesmo quando o assunto é sério, ainda parece uma linha fina que separa a percepção do preconceito. Não acho que se trata de impor o politicamente correto, mas imagina toda vez que se falasse sobre preconceito racial ou direitos dos deficientes físicos e viesse sempre uma piadinha sobre preto e sobre aleijado? Porque era assim antigamente. O que esse texto dele me pareceu foi isso, algo antigo, datado, piadinha de caserna pra auto-afirmar masculinidade. Nada contra piada envolvendo Barbra, claro.
ResponderExcluirEle esquece 2 pontos muito básicos:
ResponderExcluir1 - o exército americano até hoje sempre teve homossexuais em suas filas e vai continuar tendo. Nem por isso teve a sua sobrevivencia ameaçada, era só uma questão de sairem do armario ou não.
2 - nem todo gay é uma bichinha frágil. Portanto, qualquer gay fortão ou lésbica podem ser soldados. Ele só vê o estereótipo mais clichê do gay.
Realmente, decepcionante para um sujeito de 32 anos apenas...
imperdoável este deslize ... q pena ...
ResponderExcluir;-)
Que parte da sobrevivência pode ser prejudicada pela presença clara de gays no exército? Em termos de conseguir sobreviver - quando boa parte da realidade é adversa - gays têm muito o que ensinar ao mundo... Quanto ao autor do "Marchando com Barbra Streisand", acho que foi bom para seus leitores tomar ciência do que se passa na cabeça dele. A partir de agora posicionamentos em seus textos que pareçam sugestivos de preconceito não deixarão dúvida quanto à sua natureza.
ResponderExcluirEstou furioso e decepcionadíssimo com o Coutinho. Também fiz um post sobre a coluna dele de hoje, e vou dar um jeito de enviar a ele. Vontade de cobri-lo de porrada, o que não deve ser difícil - ele é franzino...
ResponderExcluir@Tony:
ResponderExcluirEu escrevi para ele logo cedo - assim que li o artigo. O e-mail dele está no final do artigo da Folha.
Eu acho que você deveria enviar seu post para ele sim - mais uma vez você escreveu extraordinariamente bem sobre o assunto e ele está merecendo ouvir tudo isto que você escreveu.
Abraço!
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Foi um desprazer conhecê-lo por suas linhas...
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