Eu li uma notícia no jornal de ontem que me tirou do prumo e me deixou enojado durante o dia todo. Era sobre um caso acontecido perto daqui, na cidade de Lorena, envolvendo o estupro de um garoto de 3 anos de idade. Não, você não leu errado. Uma criança de 3 anos de idade foi estuprada e barbaramente torturada até a morte. A notícia está aqui se você tiver estômago para ler.
Mas o que aumentou a minha perplexidade foi ler que os responsáveis por esta barbaridade inominável foram a própria mãe e o padrasto do garoto, e uma amiga do casal. Ou seja, o cenário de pais heterossexuais que é a única conformação recomendada para a criação de uma criança segundo a visão tortuosa das igrejas. Esta restrição descabida e leviana das igrejas se baseia na falácia que a heterossexualidade é uma condição natural.
Divagando sobre as implicações da atrocidade desta notícia me vi pensando no artigo do Prof. Leandro Colling da Universidade Federal da Bahia publicado na Folha de S. Paulo da última terça (aqui para assinantes) sobre a desnaturalização da heterossexualidade. O artigo do Prof. Colling leva a reflexões interessantes sobre a constatação que uma grande parcela do padrão heterossexual é composta de construções culturais e não de traços inatos. Resumindo, a heterossexualidade é bem menos natural do que fazem crer.
E isto tudo me levou a refletir sobre um outro assunto intimamente relacionado: no Canadá uma família decidiu não revelar o sexo de seu bebê para ninguém (notícia aqui). A criança se chama Storm e os pais pretendem criá-la livre de padrões comportamentais masculinos ou femininos para que a criança exercite suas escolhas sem pressões e desenvolva sua sexualidade com naturalidade. Isto sim é desconstruir o padrão de sexualidade dominante em prol de uma sexualidade realmente natural. A ideia é formidável, principalmente considerando que a maioria dos pais começa a construção da "sexualidade pretendida" bem antes do nascimento com a escolha da cor e do estilo das roupas do bebê.
Colocando tudo isto no mesmo pote e adicionando o sentimento de orgulho cada vez mais forte e sólido da comunidade homossexual, é natural concluir que em um futuro não muito distante a heterossexualidade pode perder seu caráter de "invejável" ou "desejada" mesmo que continue sendo o padrão sexual numericamente prevalecente. No futuro muitos pais conscientemente desejarão ter filhos gays.
Sou leitor do seu blog a muito tempo, mas nunca tive vontade de comentar nada. Mas como estou tão de saco cheio de igrejas e comentários babacas de pessoas q só pensam em si e só querem aparecer na mídia e acham q vão ganhar algum mérito no cemitério onde serão enterrados. Meu Deus, aquele q eu acredito não seleciona pessoas por estar em sua lápide um adendo de milionário, ou engenheiro, ou médico, hétero, homo e bi, tri ou tetra e/ou que vc quiser q seja. Meu Deus não seleciona, abraça a todos, pq não importa o que foram, são seus filhos. Uns mais malvados outros bonzinhos...Isso que nos coloca em equilíbrio e nos faz querer ser pessoas espirituais melhor. Qto ao post acima, meu desejo seria uma sociedade sem Homo ou Hetero, uma sociedade de pessoas q se apaixonam por pessoas e não por preferências...
ResponderExcluirPrecisamos do bom e do ruim, pq os ruins nos fazem pensar que pretendemos ser um ser enquanto humano melhor enquanto eles estão aqui para nos atrapalhar e nos tentar a ser igual a eles. Um bando de pessoas sem AMOR.
Que assim seja Luciano. Que assim seja...
ResponderExcluirLuciano, em um artigo de 1994, Jurandir Freire Costa revela tudo: "Na Grécia não existiam palavras para designar o que chamamos de "homossexualidade" e "heterossexualidade" porque simplesmente não existia a ideia de "sexualidade". A sexualidade é uma construção cultural recente, como mostrou Foucault."
ResponderExcluirÓtimo post. Abs.
Tomando o caso do estupro que você citou como exemplo, vemos que um "casal normal e aceitável" perante a comunidade religiosa é capaz desse tipo de coisa.
ResponderExcluirAgora se um casal homossexual quiser adotar uma criança, eles dirão que estes pais serão uma má influência para a criança e vão induzí-la a ser homossexual, e aquele monte de merda que eles sempre falam e que só os gays batem de frente porque, para muitos, religião ainda não se discute, por mais absurdos que seus seguidores fanáticos façam ou digam. Daí fica aquela pergunta: um casal gay, sem condições de gerar o próprio filho faria isso com uma criança? NÃO! No entanto, parece que o amor que os gays podem sentir assusta e é reprovável, a não ser que eles virem heteros, como uma pessoa "normal".
"-Está grávida? que maravilha! Devo comprar roupinhas azuis ou rosas?
ResponderExcluir-Compre amarelas, a sexualidade vai aparecer com o tempo :)"
Fico imaginando como as coisas serão num futuro próximo...
E o caso de Lorena mostra que a podridão do mundo está alcançando os frutos mais puros da Terra.
Eu juro que eu queria ser tão otimista nessas coisas de tendência do futuro quanto vc !!! rs
ResponderExcluirAbração!!
Vc conhece a Judith Butler? Ela afirma que as identidades sexuais não são estruturais, mas performáticas, ou seja, a gente não age, sente assim ou assado porque somos homens ou mulheres, mas o fazemos para nos tornarmos de acordo com o que se espera de cada um dos gêneros. Dá muito pano pra manga.
ResponderExcluirBj