Eu tinha 14 ou 15 anos quando passei a ter consciência que os meninos eram muito mais excitantes do que as meninas. A primeira sensação foi de um pavor enorme. Eu achava que a qualquer instante eu ia começar a requebrar, desmunhecar, e falar fino. Comecei a me policiar o tempo todo, andava com as mãos nos bolsos, e monitorava meu andar em algum espelho para ver se não estava rebolando. Uma tortura que eu tinha certeza me acompanharia pela vida toda.
Eu ficava em êxtase quando ouvia alguma notícia sobre alguém famoso que se revelara gay. O rosto viril do Rock Hudson habitou minha cabeça durante muito tempo. Um homem famoso, com cara de homem, jeito de homem, que era gay. Eu tentava me convencer de todas as maneiras que talvez fosse possível esconder aquele segredo hediondo para o resto da vida. Se eu fosse cuidadoso ninguém notaria. O Rock Hudson era meu único modelo, mas estava distante demais da minha realidade.
Acho que minha história não é nem um pouco diferente de milhares de outras de homens da minha idade. Por isso o grande mérito do curta Não Gosto dos Meninos dirigido pelo André Matarazzo e pelo Gustavo Ferri está justamente em apresentar, de uma só vez, uma série de pessoas que vivem em paz com sua sexualidade e conseguem comunicar tranquilidade e orgulho de ser o que são. É um verdadeiro libelo para a conquista desta mesma tranquilidade e orgulho pelos garotos e garotas que estão na fase do pavor causado pela primeira constatação da homossexualidade.
Eu também não entendi o título do filme - imagino que seja uma frase tirada de algum depoimento. Eu teria escolhido um título diferente, mais assertivo, que não fosse uma frase negativa. Sinto-me até mal em fazer esta pequena crítica em face do belíssimo resultado apresentado no vídeo. A exibição deste vídeo deveria ser obrigatória nas nossas escolas. Este deveria ser um dos itens do kit anti-homofobia.
O meu guru-cinematográfico foi Ruppert Everett, ainda acho ele lindo, digno e talentoso. Quando descobri que ele era gay me tornei expert em tudo relacionado a ele.
ResponderExcluirTambém não entendi o título, mas o curta é bacana. Oxalá ajude quem sofre tanto.
ResponderExcluirMinha maior vingança na adolescência foi quando o "machão" Rob Halford, do Judas Priest, revelou que era gay. Não pude rir abertamente pq não era assumido, mas adorei ver a cara de espanto dos meus amigos metaleiros. "Como assim, gay?!". Para eles, foi um choque. Pra mim, mais um pouco de libertação. Abs.
ResponderExcluirAcho que o período da minha descoberta sexual foi o pior possível para um jovem gay, comecei a sentir atração por colegas de escola muito cedo volta dos 10 anos de idade e naquela época (86,87) era o ápse dos casos de AIDS e vi meu grande ídolo de infância e meu primeiro amor platônico morrer em virtude dela. Era o lindo Lauro Corona e a partir daquele momento passei a associar AIDS com homossexualidade e isso complicou ainda mais a minha cabeça que já estava lotada de dúvidas em relação a minha sexualidade. Não tinha exemplos positivos para se espelhar e só comecei a ver que não estava sozinho qdo a Madonna passou a adotar a causa e a tirar do gueto milhares de "colegas" mundo afora. Acredito que hoje em dia para um jovem gay tb não continua fácil, apesar de tantas informações disponíveis os gays estão ainda muito ligados a promiscuidade e ainda falta exemplos positivos a serem seguidos.
ResponderExcluirObrigatória nas escolas eu não sei. Sabe aquela coisa que não dá pra entender algo pelo qual você não passou? Acho que ele teria 0% de efeito em heteros. Em compensação, para os gays... é só vitória.
ResponderExcluirLuciano,
ResponderExcluiracho q o título tem a ver com essa não-aceitação que o próprio indivíduo lida qndo se torna ciente de que é homossexual. talvez uma frase que ele mesmo falaria pra si para se afirmar hétero e não precisar passar pelo choque q todos passam no começo. eu acho, talvez. mas concordo com vc que não transmitiu tanta clareza pros outros hehe.
grande abraço!
Luciano,
ResponderExcluirÉ até um pecado fazer uma crítica ao vídeo que é tão digno, mas esse título não ficou bom, muito confuso. Isso para nós gays, imagine para os héteros que verão o vídeo.
Apesar que os héteros não são o público alvo , mas é de grande importância que o assistam e entendam.
Talvez o título venha de uma fala de uma das lésbicas, vou rever com mais atenção.
A QUEM FEZ O VÍDEO, DE MIM TERÁ ETERNA GRATIDÃO.
É INCRÍVEL, MAS UM POUCO DA MINHA VIDA, E EXPERIÊNCIAS ESTÃO NO SEU POST, NO COMENTÁRIOS DOS COLEGAS, NOS DEPOIMENTOS...
DÁ A IMPRESSÃO DE UMA VIDA SÓ EXPERIMENTADA POR VÁRIAS PESSOAS ESPALHADAS PELO TEMPO E ESPAÇO.
concordo...tb nao entendi o pq do nome do video.....
ResponderExcluirdas inúmeras atitudes, frases e pensamentos dispersos nos depoimentos, cai como uma verdade absoluta quando dissera: "manter-se no armário é fomentar o preconceito"...
bjo e otima terça!
O filme é fantástico...isso é que importante. Grande projeto, parabéns para os idealizadores.
ResponderExcluirSobre o titulo, não estou dando a minima.
abs
Vivi parte da experiencia de Troublemaker, só que entre 88-89, Madonna foi mesmo de grande valia numa época de muitos medos, pais não falavam de sexo nem hetero quiçá homo, e aos 12 me deram um livrinho educativo 'De onde vem os bebês?' (que devorei página por página, adorei as ilustrações), mas o tal livro não dava pistas sobre menino que sentia coisas por meninos (pirei), a TV não ajudava porque só mostrava travestis de show de calouro e ser gay era 'só' aquilo na minha cabecinha, aí veio aids e fodeu tudo de vez, lembro de ouvir coisas como 'castigo divino' e 'peste gay' associados a aids... Depois de Lauro Corona, partiu o Cazuza. Na vitrola (tataravó do cd-player, rsrs) do meu quarto só dava Madonna, tb. Ouvindo discos dela e acompanhando suas declarações pró-direitos gay que todos achavam um absurdo hj vejo que até nisso ela foi visionária, essa mulher tem o nome escrito no meu coração. De agora em diante todos terão Não Gosto dos Meninos e outras coisa mais no nosso idioma, com nossa cara, isso que é evolução.
ResponderExcluirDepois de mais de uma semana sem a dose diária de net, me assumi para meus pais e minha irmã, as reações foram diversas porém todas foram positivas e estimulantes.
ResponderExcluirE isso eu só posso agradecer a Deus, porque cada problema que eu vivi e cada instante de negação valeu a pena para ter mais orgulho de quem sou e do que sou.
Independente do tempo que diriam que perdi, foi necessário para aprofundar minhas raízes e ter o maior apoio que alguém pode contar: Deus, pois foi somente com ele ao meu lado que consegui ter paz e prazer por seguir minha vida sendo gay, que para mim era a pior coisa que poderia me acontecer.
E esse vídeo só me deixou mais feliz por tudo...
Talvez a dificuldade que nós homens sexuais temos em entender o título do filme é que essa frase seria dita por uma mulher homossexual. Só que estamos tão autocentrados no masculino que não nos demos conta disso. Por isso é genial a escolha do título justamente porque não entendemos isso em função de achar que a homossexualidade é campo só do masculino.
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