domingo, 8 de abril de 2012

Melancolia árabe


Para um homem notadamente homossexual, principalmente se é efeminado, a vida no Marrocos não é nada fácil. Para a sociedade machista que domina o país, o homossexual efeminado não passa de um ser menor. Os garotos efeminados são frequentemente atacados e estuprados pelos homens mais velhos e não há muito que se possa fazer contra isto.

Abdella Taïa sabia desde muito jovem que era homossexual, mas aspirava a uma vida diferente. Tinha sonhos, tinha planos, mas a realidade sempre o lembrava de que aqueles planos não eram para alguém como ele. Ele nunca conseguiu se esquecer daquela noite enquanto dormia ao lado da família, quando foi acordado pelos gritos de homens bêbados do lado de fora "Vem cá, sua mulherzinha, vem cá que nós vamos comer você!" Ele esperava que seus irmãos e seu pai saíssem para defendê-lo. Mas não, ninguém ousaria contrariar "o jeito que as coisas devem ser". Sua família jamais ficaria do seu lado. Em muitos  momentos de sua vida, Abdella achou que não sobreviveria.

Hoje Abdella Taïa mora em Paris, é escritor, e tem retratado aspectos de sua história em suas obras. Em 2006 ele fez questão de publicar o texto "A Homossexualidade Explicada para a Minha Mãe" em árabe e francês em uma revista do Marrocos, provocando um grande escândalo acompanhado também de pequeno apoio de uma sociedade que começa a sentir a necessidade de mudar. Há duas semanas ele publicou um artigo tocante no New York Times, Um Rapaz Para Ser Sacrificado, em que chama a atenção do mundo para os homossexuais nos países árabes neste período de transição.

9 comentários:

  1. "Agora tenho 38 anos e um sonho que nunca se realizará: O de que alguém irá me salvar. Não fui salvo."
    Luciano, nunca senti uma tristeza tão grande quanto a que senti quando li esta frase. Nossos sonhos a vezes morrem ou desistimos deles, mas ter um sonho morto tão drasticamente na tenra infância é muito doído. Sinto por ele e por todos os que enfrentaram e enfrentam situações como essa.
    Abraços e bom domingo de páscoa.

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  2. @Margot:
    É mesmo muito doído. Principalmente ao darmos conta que esta é a história de centenas, talvez milhares, de outras crianças diferentes.
    Esta história não me saiu da cabeça desde que li há duas semanas.
    Bom domingo de páscoa para você também!
    **

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  3. Olha, tô numa seca tão grande que eu nem ia achar ruim se aparecessem uns homens na frente da minha casa dizendo que queriam me comer, eu ia achar é bom!

    Mas esses homens marroquinos que comem esses rapazes, são tidos como héteros na terra deles? Confuso, hein.

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  4. sim lá ainda estão na idade média e por aqui estamos reentrando nela!

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  5. A humanidade, ao mesmo tempo em que me encanta, me assusta demais. Em nome da fé matam, tripudiam, humilham, corrompem, subjugam. Em nome desta mesma fé resgatam, ajudam, se solidarizam.
    Infelizmente, até o presente momento, mais atrocidades tem acontecido do que pesoas resgatadas. Até quando isso?
    Li o artigo, com os olhos marejados, porque eu tb passei por isso, no interior do BRASIL. Fui tratado como diferente, estuprado, castigado pela minha mãe que, em nome de Deus, colocou pimenta malagueta no meu ânus, quando descobriu que eu tinha tendencia homossexual. E eu tinha apenas 4 anos!!!!!
    Ler que existe uma luz ao final do túnel e que posso manter a esperança de um mundo melhor, onde serei tratado como um semelhante, me dá a sensação de que tudo vai ficar bem. Mesmo que tenha sofrido os horrores do preconceito e da religião.
    Feliz páscoa Luciano. E obrigado, mais uma vez, por partilhar e manter esse blog que tanto nos ajuda.

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  6. Essa realidade é mais perversa quando em uma cultura e sociedade como a de Marrocos, mas tenho visto, no Brasil, o mesmo acontecer a tantas crianças e adolescentes, e mesmo jovens e adultos pela homofobia estrutural, institucional, social e cultural, a partir da heteronormatividade na educação, na cultura, no trabalho e em diversos campos da sociabilidade, levando ao suicídio e assassinatos as vítimas de bullying ou mesmo sendo despedidas de seus empregos ou pedindo transferências quando se pode. Esta realidade preconceituosa e intolerante com diversas e múltiplas diferenças é real aqui e lá, embora aqui vivamos numa aparente democracia e em um Estado de Direitos.

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  7. E há de se considerar que o Marrocos, próximo da Europa e em especial de sua antiga protetora França, com as quais mantém uma forte ligação, e também por ser tradicional porto do Atlântico e importante centro turístico mundial, deve ser uma espécie de Greenwich Village do mundo árabe.
    Imaginem só o que acontece no Chad, Mali, Sudão, Etiópia...

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  8. Realmente muito triste tudo isto, eu acho esses tipos do oriente médio bem bonitos, Arabes, Iranianos, Indianos, tem uns bem bonitos mesmo exóticos pela internet, mas eles vivem ainda na idade média mesmo, e como foi dito pelo Paulo Roberto estamos reentrando nela de novo por aqui, com tantas barbaridades que acontecem.

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  9. Durante muitas décadas, imaginou-se que o ano de 2000 seria um ano em que o mundo estaria muito avançado em vários sentidos: tecnológico, social, político, etc. Estamos em 2012 e as pessoas não possuem nem o básico: PENSAR!

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