quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A liberdade numa encruzilhada

Um dos valores mais sagrados de toda a sociedade americana é a liberdade de expressão garantida pelo First Amendment, uma espécie de aditamento feito à Constituição. Ninguém vai preso por falar mal do presidente ou coisas assim, e não há qualquer ação oficial que tente coibir ou controlar a imprensa. E é justamente amparado por esta liberdade de expressão que existem no país coisas muito vergonhosas como a Westboro Baptist Church, aquela organização que é visceralmente contra os gays e que tem feito manifestações odiosas e desrespeitosas nos funerais de soldados mortos no Iraque e no Afeganistão.

A família de um soldado morto que teve o funeral perturbado pelos ativistas da igreja entrou com um processo contra a organização e recebeu decisão favorável, em primeira instância, à indenização de 11 milhões de dólares. A igreja recorreu e o caso subiu para a Suprema Corte, que estará a partir desta semana considerando o assunto, em um julgamento que tem tudo para ser um dos mais emblemáticos da atualidade.

De um lado a venerada liberdade de expressão da qual os americanos tanto se orgulham. De outro, o direito que toda família tem de enterrar seus entes queridos de forma digna buscando o que eles chamam de "closure" - aquela sensação de paz de espírito no encerramento de uma grande dor ou um grande drama. Dois valores extremamente importantes e marcantes na cultura americana - e um deles vai sair arranhado desta história.

Várias organizações, inclusive o New York Times, têm defendido a liberdade de expressão. Apesar de classificarem de odiosas as manifestações da Westboro Baptist Church, eles entendem que a liberdade de expressão é muito preciosa e não pode ser tolhida ou restringida. Abrir um precedente seria muito perigoso.

A luta dos americanos por algo que consideram tão importante acontece em momento oportuno para que nós, aqui no Brasil, também aprendamos com eles. Quando começaram a pipocar os escândalos recentes na Casa Civil, o presidente Lula voltou a desengavetar uma ideia antiga do PT de colocar rédeas na imprensa, como nos regimes autoritários em que só se pode noticiar o que é do interesse do governo. O ministro Franklin Martins já está cuidando disto na prática (aqui também). Eles esquecem que os escândalos nascem da corrupção na máquina pública e os jornais só cumprem sua função de noticiá-los. Ser obrigado a falar só bem do governo não é fazer notícia - é fazer propaganda.

5 comentários:

  1. Perfeita a observação do último parágrafo.

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  2. americano é assim, pode meter o pau no presidente mas a janet jackson não pode mostrar os peitos no superball.

    no Brasil vc pode ir num programa dominical descer até a boquinha da garrafa mas falar mal do presidente em rede nacional jamais.

    phoda

    abração!

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  3. Meu caro, olha o que o vice do seu candidato disse hoje ao jornal O Dia sobre a lei anti-homofobia: "Indio disse ao Informe que a proposta atenta contra a liberdade de expressão ao prever penas de prisão para manifestações consideradas homofóbicas. Segundo ele, se o projeto virar lei, um dono de restaurante será preso caso impeça um casal gay de fazer sexo em seu estabelecimento." Para ele, liberdade de expressão é isso aí.
    Além disso, é bom lembrar que Maria Rita Kehl foi demitida do Estadão depois de um texto publicado na semana passada em que se mostava contrária ao editorial do jornal. A respeito, comentou um amigo meu, que trabalhou no Ministério da Saúde na época em que o candidato era ministro, exatamente na Assessoria de Imprensa: "lá sabíamos que o Serra pedia a cabeça de vários jornalistas. Não duvido que tenha dedo dele nisso".
    Atenção, se efetivamente existe uma ameaça à liberdade de expressão (confundida, muitas vezes, com liberdade de imprensa), ela vem dos dois lados. Não vale apontar a ameaça de um lado e fingir que não vê a do outro.

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  4. Liberdade de expressão é uma coisa complicada... porque até onde essa liberdade vai, até onde ela pode atingir as pessoas, sem que elas possam fazer nada? E tem aqueles que não levam desaforo pra casa... sei lá. Até que ponto a liberdade de expressão é menos danosa que a falta dela?

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  5. e justamente quem? o Sr. Franklin Martins que parece ter esquecido suas origens acadêmicas.

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