Lincoln não é um filme fácil e certamente vai frustrar quem for ao cinema em busca só de diversão. Está mais para uma aula de História, e transborda de diálogos e manobras políticas que podem perder o sentido com a menor distração.
O momento histórico retratado é o fim do primeiro mandato do presidente, quando ele já se reelegeu para o segundo mandato e a Guerra de Secessão está ceifando a vida de milhares de americanos tendo como um dos principais combustíveis a defesa da manutenção da escravidão pelos estados separatistas do sul. Lincoln se empenha pessoalmente em colocar para votação a 13ª alteração da constituição promulgando a abolição da escravatura. Os métodos utilizados para a obtenção da aprovação não são muito diferentes dos usados até hoje e nem são muito honestos, mas mesmo sabendo-se de antemão o resultado o filme consegue criar suspense genuíno com o desenrolar do enredo.
O mais interessante é a oportunidade de analisar o momento histórico em retrospecto. Presenciar a luta pela abolição da escravatura sabendo que o atual presidente é negro. Ver as reações dos políticos à simples possibilidade de que negros e mulheres viessem a votar algum dia. Aprender que naquela época eram os Republicanos os mais progressistas e abolicionistas, enquanto os Democratas eram a oposição que lutava pela manutenção da escravatura.
Abraham Lincoln é considerado hoje um dos três mais importantes presidentes dos Estados Unidos (os outros são George Washington e Franklin D. Roosevelt). Tinha pouco estudo formal mas era extremamente inteligente, lia muito, e achava a escravidão imoral.
Os desempenhos são extraordinários, e Daniel Day-Lewis realmente desaparece sob o personagem. Sally Field (cada vez mais fisicamente parecida com a nossa Regina Duarte) faz Mary Todd Lincoln, a primeira-dama oriunda de família rica e que tinha episódios de desequilíbrio mental. E Tommy Lee Jones faz o republicano abolicionista Thaddeus Stevens também com desempenho excepcional e um simpático segredo doméstico que se revela ao final.
O filme pode ser melhor aproveitado com um pouco de pesquisa de História sobre a época e os personagens antes de sair para o cinema.
Eu adoraria... pois gosto muito de história e documentários.
ResponderExcluirABraços
Já que era ao contrário, vc tem noção de quando os democratas passaram a ser mais liberais e os republicanos mais reacionários?
ResponderExcluir@Anônimo:
ResponderExcluirNa época do Lincoln o Partido Republicano era ainda muito novo; Lincoln foi o primeiro presidente eleito pelo partido e sua principal plataforma era a abolição da escravatura. Até então mandavam os democratas, que precisavam defender os ricos estados do sul que se sustentavam em grande parte com a mão de obra escrava.
A situação se inverteu mais claramente depois da Segunda Guerra, e o movimento de radicalização do conservadorismo (Tea Party) é bastante recente e envolve visões de questões da atualidade (imigração, seguridade social, direitos dos homossexuais, preconceito racial, economia, e até políticas climáticas).
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Dá uma lida na crítica do Pablo Villaça do filme. Muita gente está caindo de cabeça, eu não posso opinar porque ainda não assisti o filme, mas tenho sérios problemas com o Spielberg (principalmente dos últimos tempos). http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=23
ResponderExcluir@Lucas:
ResponderExcluirAcabei de ler a crítica do Pablo Vilaça. Ele tem razão em vários aspectos (principalmente quando descreve a pobreza do artifício de usar alguns personagens fazendo anotação durante a votação - faltam 5 - faltam 3 - faltam 2 - para criar suspense no espectador). Mas a crítica dele está pesada demais. Fica a impressão que ele assistiu o filme com muita raiva e querendo não gostar. Será que ele não conseguiu achar absolutamente nada de positivo nas quase duas horas e meia de filme?
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Lucas & Luciano: assistir AO filme, pufavô!!
ResponderExcluirEu li o seu comentário no Cinema Em Cena.
ResponderExcluirO Pablo escreve muito bem mas parece que tem uma certa dificuldade em aceitar a opinião alheia...
Interessante e para quem gosta de História um prato cheio.
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