Quando os telefones fixo e celular tocaram ontem exatamente no mesmo momento, e vi que minhas duas irmãs estavam tentando falar comigo ao mesmo tempo, já pressenti que alguma coisa grande havia acontecido. E foi falando com as duas ao mesmo tempo, um telefone em cada orelha, que eu recebi a notícia do falecimento de um tio muito próximo e muito presente em nossas vidas. Nos minutos que se seguiram experimentei um certo atordoamento até as ideias se clarearem, joguei algumas coisas essenciais dentro de uma mochila sem pensar muito, e menos de uma hora depois já estávamos na estrada rumo à minha cidade natal no sul de Minas. As mais de quatro horas de viagem foram suficientes para irmos processando a situação. Quando chegamos, tudo estava absolutamente calmo e sob controle. Minha família é toda muito prática e objetiva nestas situações.
Estas situações inesperadas sempre unem família e amigos, e eu revi parentes e colegas de infância que não encontrava há muitas décadas. Mas acho que o momento mais forte foi o reencontro com as babás que ajudaram minha mãe a cuidar de mim e meus irmãos quando éramos pequenos. A Pira, a Nâni, e a Luzia estavam lá (a Ana faleceu há cerca de dois anos). Três mulheres negras ainda muito fortes apesar da idade, de voz grave e rouca, com aquele mesmo abraço seguro de mãe que ainda estava muito vivo na minha memória apesar do tempo. Elas, surpresas de ver que o menino mirradinho virou um homão, e eu, meio atônito com a sensação de que ontem mesmo elas me davam comida na boca e me levantavam quando eu caia.
Na viagem de volta para São José dos Campos não me saía da cabeça o filme Histórias Cruzadas (The Help, 2011) que vi há duas semanas, sobre o preconceito e as humilhações a que foram submetidas as empregadas americanas negras que serviram as famílias brancas no início dos anos 60. O filme é lindo e tocante, e tem atuações magníficas. É extremamente dolorido, principalmente quando mostra as crianças brancas que inexplicavelmente se tornam adultos preconceituosos mesmo depois de terem sido criados com muito amor por babás negras que renunciavam a qualquer vida própria para servi-los. Impossível sair indiferente do filme.
E eu estou até agora pensando o quanto do que é mostrado no filme pode ter acontecido também por aqui. E minha vontade é correr de volta e envolver de novo em um abraço forte aquelas mulheres que cuidaram de mim. E ter a certeza que elas sabem do meu amor. E nos braços delas sentir de novo aquela sensação de que tudo vai ficar bem.
7 comentários:
Estamos sempre com nosso grito de help pronto para soltar ...
engraçado que antes de terminar de ler o texto, eu pensei pq ele nao foi la e disse obrigado ou pelo menos demonstrou afeto e carinho com os olhos ou um sorriso, pq as pessoas se vao, ai lembrei de uma musica do cazuza feita para a avo interpretada pelo ney ...um coisa morna e ingenua que vai ficando no caminho....
Viola Davis, a principal atriz negra, é excepcional. Em 'Doubt' ela aparece em uma única cena, com a grande Meryl Streep, e arrasa total. Meryl é a rígida freira diretora de um colégio que buscava provas para denunciar o padre da paróquia por abusar sexualmente de um menino negro. Viola é a humilde mãe do menino que, ao fim, pede-lhe que não o faça, pois o menino - entende-se que seria efeminado - era rejeitado por todos, inclusive pelo pai, e apenas o padre lhe dedicara atenção.
Amei... tanto o post quanto o fato de vc ser da "terrinha", rsrrsr. Não perca tempo, ligue pra elas e diga-lhes o que teve vontade de dizer e não o fez. Nunca é tarde para expressar a afeição sincera.Ab.
Nossa deve ser muito bom, gostaria de assistir no conforto de minha casa, mas na tela do cinema o efeito é melhor, perde-se tanto quando se assiste em casa, a não ser que tenha um home bem legal, eu não tenho é na tv mesmo 35 polegadas de tubo ainda.
Eu já tinha ouvido falar nele, mas nunca havia nem prestado atenção. Gosto dessa atriz, vou assisti-lo por ela.
Realmente é uma pena por seu tio, espero que você esteja bem.
http://umgurientregurias.blogspot.com/2012/01/o-guri-ve-maria-antonieta-de-sofia.html
Deu um embargo na voz aqui. E olha que eu nunca tive babá...
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