sábado, 9 de agosto de 2014

Pai

Foi numa quarta-feira, há algumas semanas. Era um dia de sol, passava das 10 da manhã e eu estava regando as plantas da varanda. Aproximei-me do ficus já pressentindo o cheiro gostoso de terra que costuma subir das raízes, quando meus olhos cruzaram por um breve instante com a foto sobre a estante. E, assim de repente e sem nenhum aviso, me veio a inexorável realização de que meu pai não vai voltar nunca mais.

Fiquei por um instante imóvel. Senti as pernas falharem. Fui me abaixando lentamente e me sentei no tapete num canto da sala. Senti o peso de uma viga de cimento na cabeça e uma dor lancinante no coração.

Meu pai falecera em dezembro, na semana do Natal. Foram dias de providências, viagem, pouco sono, muita adrenalina. A inquietude do sobressalto é seguida de uma tristeza profunda que provoca uma sensação de serenidade e calma quase reconfortantes. Apoiei-me no consolo de que meu pai teve uma vida longa e plena, e uma morte digna. Mas nada me preparara para a saudade que vem com o tempo e que chega sem sobreaviso.

Eu ainda trago na carteira o cartão de agendamento das consultas médicas, às quais íamos sempre juntos. E quando passo em frente da casa eu muitas vezes me pego olhando sem pensar para o banco do jardim esperando vê-lo sentado observando o movimento da rua. A dor da perda vai se tornando em saudade boa, mas alguns dias ainda são mais difíceis que outros.

8 comentários:

Uma Cara Comum disse...

Sei como é isso... Meus sentimentos!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Beijão querido!

M. disse...

Abraço Luciano.

Unknown disse...

Sei como é isso também, não tenho mais pai e nem mãe que foi recentemente. É muita dor mesmo.

Anônimo disse...

Desligar em nossa mente o reflexo da existência de uma pessoa querida é processo que exige tempo, e pode ser bem sofrido. A presença dessas pessoas se revela em nossa vida em milhares de momentos ao longo do dia, de forma automática e inevitável. Ocorre quando observamos na rua, no trabalho e em casa algo de que ela gostava ou detestava, que a gente teria prazer de lhe mostrar ou se preocuparia de que não soubesse, algo que a deixaria feliz ou contrariada. O corte do pensamento abstrato com a realidade -- isso já não é possível! -- é duro, mas aos poucos vai se atenuando até que passa a ser uma referência agradável, e chega a ser uma oportunidade de lembrar como foi bom conviver com essa pessoa, que grandes momentos tivemos juntos. A partir desse daí, essas lembranças boas passam a aparecer em nossos instantes difíceis, para nos apoiar. Espero que você chegue logo nesse ponto.
Anônimo sem cueca

Gera Careka disse...

Admiro aqueles que tiveram seus pais e conseguiram usufruir da boa e edificante presença de um pai. Eu como sou um ser de outra dimensão não sei o que essa palavra representa. Mas que bom tenho pessoas como você que consegue me fazer acreditar que ter pai é bom! Grande abraço com todo respeito e carinho!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Faz tempo, mas ainda sinto falta do meu velho!

Júlio Paiva disse...

Força amigo,eu perdi a minha mãe que era paciente renal faz pouco mais de um ano e o que me consola e dá força é justamente ter cuidado de suas diálises e seu tratamento, fica uma sensação de dever cumprido, mas é claro, quando a saudade aperta...