sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Amor é vida


E de pensar que em julho de 2001 a gente pensava assim.

Enquanto isso...

São Sebastião do Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1814.

O romance Amor à Vida, publicado em fascículos diários que acompanham as edições deste jornal desde meados do ano passado, entregará aos leitores hoje o último episódio da saga em meio a muita commoção. Ao longo da história ganhou projecção o romance proibido de Nicolau e Felícia, um casal de negros. Alguns leitores mais liberais esperam que o autor dê ao casal um merecido final feliz descrevendo, inclusive, o que seria o primeiro beijo de amor de um casal negro na literatura do paiz.

Em entrevistas colhidas de diferentes leitores percebe-se que as opiniões não são unânimes. O Sr. Heráclito Praxedes Romualdo de Albuquerque, entrevistado por nossos repórteres ao deixar a Confeitaria Pão de Ouro com a família no último domingo, apressou-se em esclarecer: "Eu não tenho preconceitos. Lá em casa tratamos todos os pretos com respeito - minha filha mais nova, inclusive, é cuidada por uma mucama preta. Mas pretos se beijando é uma sem-vergonhice da qual precisamos poupar nossas creanças. O Brazil não está preparado para isso."

A ver, no último fascículo, que será publicado hoje.

Beija! Beija! Beija!


Esta é a capa de hoje do Brasil Post (a edição brasileira do Huffington Post recém inaugurada por aqui) . #beijafelix

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Figaro! Figaro!


Ainda me lembro muito bem do impacto que senti na primeiro exibição de O Segredo de Brokeback Mountain em uma sessão especial para a imprensa um mês antes do lançamento oficial. Na época eu escrevia uma coluna na revista Home Theater brasileira sobre lançamentos em DVD e era frequentemente convidado para este tipo de evento de cinema. Lembro-me também de um jornalista conhecido que chorou copiosamente na sessão (mas não vou entregar o nome assim de bandeja).

O conto de Annie Proulx que virou um filme emblemático e tocante recebe agora nova embalagem: a história dos dois cowboys apaixonados terá estreia mundial na Espanha como ópera na próxima semana. E o melhor: a estreia será transmitida pela internet e poderá ser vista aqui no próximo dia 7 de fevereiro às 5 da tarde (horário de Madri). Há várias formas de se contar uma boa história de amor.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O mesmo amor

O ponto alto da entrega dos prêmios Grammy da música americana ontem à noite foi o casamento coletivo de 33 casais em plena cerimônia ao som de Same Love - a música da premiada dupla Macklemore e Ryan Lewis (com vocais da Mary Lambert) que se tornou praticamente um hino da igualdade desde seu lançamento (eu tinha falado da música aqui, no final de 2012, mas também jamais poderia ter previsto a repercussão que ela viria a ter ao longo dos próximos meses). O casamento incluiu casais gays, héteros, jovens, idosos - enfim, uma celebração às várias embalagens em que um casal apaixonado pode aparecer. Como parte da cerimônia Madonna surge cantando Open Your Heart. Melhor, impossível!

Houve algumas críticas antes da apresentação, principalmente pelo fato de Queen Latifah oficiar uma cerimônia que celebra a igualdade mas nunca ter saído oficialmente do armário. Mas quem estava se importando com isso?

domingo, 26 de janeiro de 2014

Pimenta malagueta

Está correndo o mundo o vídeo do beijaço gay organizado na última quinta-feira em frente à Catedral de Málaga, na Espanha, em protesto pelas declarações do Cardeal Fernando Sebastian Aguilar. Este senhor que usa saias, tem cara de pamonha e cabeça oca, comparou a homossexualidade à pressão alta: "Eu tenho pressão alta e não posso me revoltar contra as pessoas que me apontam este problema, que eu tenho que corrigir o mais rápido possível. Da mesma forma, o homossexualismo é um jeito defeituoso de expressar a sexualidade, que tem uma estrutura e uma finalidade que é a procriação".

Bom, se aceitarmos que realmente a finalidade superior da espécie humana é se procriar por meio do sexo, então a primeira medida oficial deveria ser sacrificar todos os padres - que em teoria não fazem sexo nem procriam.



sábado, 25 de janeiro de 2014

Me chama que eu vou

Depois de salvarem o mundo três vezes só hoje, estes fuzileiros navais suecos em missão no Afeganistão ainda encontraram tempo para se divertir fazendo uma paródia de Greased Lightning (de Grease: Nos Tempos da Brilhantina). Quando precisarem, é só me chamar - sei todas as músicas de cor! Quem não gosta de um saradão usando uniforme militar?

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Essa doença chamada burrice

O que mais me irrita não é exatamente a mensagem. Pessoas ignorantes existem aos montes em todos os lugares. O que me irrita é saber que uma pessoa estudou, cursou uma universidade, formou-se num curso instigante como o jornalismo, mas mesmo assim continua um boçal, energúmeno, tapado - com este tipo de ideia abjeta e este estilo propositadamente maldoso de escrever asneiras preconceituosas que tentam disfarçar apoio.

Meu consolo é constatar que, pela cara macilenta do sujeito na foto, ele não deve viver muito. Que morra logo. De preferência lentamente.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Prepara!

Pra começar, um padre com nome Hewerton, escrito assim com H e com W, já promete. O evento aconteceu durante a formatura de uma turma de Direito em Recife e eu agora fico sem saber se retomo a fé na Igreja Católica ou a perco de vez.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

What have you done today to make you feel proud?


Não foi só pelo grande talento do Mateus Solano e do Thiago Fragoso. Não foi só pelo cuidado com as luzes que fez o rosto e os lindos olhos verdes do Thiago Fragoso praticamente iluminarem a tela. Foi pela delicadeza da cena, da sinceridade dos olhares, da emoção nas falas, da beleza de se perceber a amizade se transformando em um sentimento ainda mais nobre. Foi pela quebra de paradigmas em uma novela do horário nobre mostrando pela primeira vez um carinho tão íntimo entre dois atores consagrados. Esta cena linda de quase 8 minutos exibida hoje em Amor à Vida entra para a antologia da teledramaturgia brasileira. 

O pai da morte


Recebi ontem de uma amiga este texto escrito pelo Fabrício Carpinejar há alguns anos que me tirou do prumo e me deixou muito emocionado. Eu já li outras coisas muito bacanas do Fabrício Carpinejar antes, inclusive um texto muito bom sobre a obsessão dos gays pela forma física e o preconceito contra os próprios gays não sarados - vou tentar encontrar e trazer para cá.

Mas o texto que recebi ontem fala do final da vida dos pais, quando já fragilizados dependem dos cuidados dos filhos. Assim tem sido há gerações, quando de uma hora para outra nos vemos cuidando de nossos pais como cuidaríamos de nossos filhos, num círculo de fases perfeitas que abrem e fecham o ciclo da vida.


TODO FILHO É PAI DA MORTE DE SEU PAI
Fabrício Carpinejar

"Feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia."

Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro. Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro. A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas. Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões. Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente? Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.


Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos. No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:

— Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.

Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro. Aninhou o pai. Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

— Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.

sábado, 11 de janeiro de 2014

O homem que salgou a Santa Ceia

Amor à Vida tem milhares de defeitos que são apontados todos os dias em diferentes artigos e comentários nos jornais e na internet. Tem outros defeitos que ninguém falou ainda, e talvez outros que só descubram depois que a novela terminar. Mas tenho sentido falta de um artigo que realce o lado bom da novela e os caminhos que ela abriu.

Para começar, a novela tirou os gays da zona de conforto com um vilão gay maléfico capaz de jogar uma criança numa caçamba logo no primeiro capítulo. Mostrou um homem gay casado com filho que vivia uma vida dupla e que foi arrancado do armário na frente de toda a família. Mostrou um gay que abandona o companheiro por uma mulher em busca de uma vida social idealizada, para depois se arrepender e descobrir que gostava mesmo era de homem. E vai terminar com uma torcida para o final feliz de um casal gay, em uma história em que os casais héteros são desinteressantes ou estão juntos por interesse.

E quando todos os analistas criticam o autor por ter desconstruído um dos mais notáveis vilões da teledramaturgia brasileira ao aproximá-lo da comédia e encaminhá-lo para a redenção é que eu vejo que ninguém entendeu nada mesmo. Walcyr Carrasco desenhou uma grande jogada de mestre ao atribuir a vilania do personagem à repressão e ao bullying sofrido em família. Félix começou sua redenção depois que foi expulso da mansão e foi morar no subúrbio com a Márcia (Elizabeth Savalla). Não foi a pobreza que o redimiu, mas a aceitação.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Lei do ventre livre

Há algum tempo, discutindo com amigos sobre a relação da Igreja com o universo gay ouvi um "estou pouco me lixando para a opinião da Igreja, não preciso da aprovação deles". Fiquei um pouco chocado com o egoísmo contido numa declaração dessas. Eu também não preciso da aprovação de nenhuma Igreja e talvez você também não, mas não se pode fechar os olhos para a culpa das Igrejas (e entram aqui todas as denominações - sejam cristãs, islâmicas, ou de outra origem) como maiores e mais influentes organizações homofóbicas do mundo atual, que fazem com que milhares de homossexuais sejam perseguidos, assediados, abandonados por suas famílias, e até mortos. É preciso se lixar para a opinião da Igreja, sim, porque tem gente sendo morta por isso.

Por isso tenho visto como alentadora a pequena abertura em direção aos gays que o Papa Francisco tem promovido. É claro que a Igreja não pode e não vai mudar de posição radicalmente de uma hora para a outra em um assunto que só será bem digerido do ponto de vista religioso algumas gerações no futuro. Mas o Papa, que de burro não tem nada, certamente já percebeu que a Igreja não pode ficar indiferente às mudanças rápidas da sociedade moderna ou breve vai virar, mais uma vez, a vilã da História.

A aceitação gradual vai lembrar, em muitos aspectos, a integração racial no Brasil que culminou com a abolição da escravatura. No final de semana o Papa já demostrou preocupação com os filhos dos casais homossexuais, dando um passo para que estes se aproximem da Igreja. Seria a lei do ventre livre?

Agora, mudando totalmente de assunto, vocês viram que o atleta brasileiro Ian Matos se assumiu gay hoje publicamente durante uma entrevista, de forma quase casual? Isso é muito legal, gente!

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014