sábado, 2 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis


Lembro-me que quando assisti a Evita no cinema, um rapaz se levantou no meio do filme e saiu indignado reclamando "ai, que cantoria chata que não termina nunca!". Azar dele, que pagou para assistir a um musical sem saber o quê esperar. Em um musical há normalmente pontos altos e baixos, números extraordinários seguidos de outros nem tanto, e a história é contada em uma linguagem musical que tende mais para a poesia do que a prosa, requerendo atenção um pouco diferente. O espectador precisa saber o quê esperar.

Eu sempre adorei musicais. Cheguei a Os Miseráveis preparado para as duas horas e meia de projeção, inclusive para aturar um ou outro momento enfadonho quase inevitável numa obra desta duração. Fui completamente arrebatado na abertura com a grandiosidade da cena dos prisioneiros içando um navio para a doca, quando somos apresentados aos personagens Jean Valjean (Hugh Jackman, quase irreconhecível neste momento) e Javert (Russel Crowe). Jean Valjean é libertado em seguida e começa sua saga de sobrevivência, sem conseguir emprego, até ser recolhido em um convento. Os anos passam depressa e cerca de oito anos depois ele já é um homem rico, com outra identidade.

É quando surge na tela Fantine (Anne Hathaway), mulher pobre que luta para sustentar a filhinha Cosette. Fantine perde o emprego e é obrigada a vender os cabelos e a se prostituir para não morrer de fome. A participação dela na história é relativamente curta, mas no momento em que Fantine entoa I Dreamed a Dream, a música mais conhecida da obra, onde descreve toda sua história de sonhos desfeitos e inocência perdida, não aguentei e desabotoei o peito. Chorei feito criança.

Isto tudo é só o começo. O filme ainda traz muita emoção e outros números memoráveis e, surpreendentemente, nunca fica enfadonho. Tem outras atuações brilhantes, como Eddie Redmayne (interpretando Marius, que participa da revolta dos estudantes e se apaixona por Cosette adulta), o jovem ator que já surpreendera em Sete Dias Com Marilyn com seu semblante frágil. E o que dizer então do garoto Daniel Huttlestone, de apenas 13 anos de idade, com uma interpretação impecável do endiabrado Gavroche?

Resumo da ópera: Os Miseráveis saiu muitíssimo melhor do que eu estava esperando. É emocionante e lindamente interpretado. Não fica enfadonho em nenhum momento. O fato de os artistas terem realmente cantado durante todas as cenas e não simplesmente dublado a si mesmos sobre uma trilha pré-gravada contribuiu muito para dar veracidade à emoção. E a cena com Anne Hathaway (atriz que eu já adorava não só pelo talento mas também pelas posições pessoais) sem dúvida alguma vai entrar para a lista das cenas antológicas do cinema e vai arrancar lágrima pelo mundo afora. Os Miseráveis é cinema com C maiúsculo.

7 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Imperdível! #fato

bjão

Unknown disse...

Realmente de arrepiar!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Uma das imagens mais marcantes do livro é a degradação de Fantine, que vende até os dentes pra se vender toda. É o melhor do realismo francês. Já assisti a videos do musical no teatro e acho que o gênero musical esvazia o impacto da degradação (uma atriz muito linda, maquiada, cantando como um colibri, nada de Fantine).
Como é Anne Hathaway que tá no papel e a letra capta bem a perda de esperanças, vou dar uma chance...

Anônimo disse...

Independente de ser uma atriz interessante, a Hathaway é risonha demais o tempo todo, como se a arcada dentária não coubesse na boca, parecendo até muito simpática e relax, meio garotona.
Entretanto, quando baixou o santo da Fantine, sai de baixo, a mulherzinha deixou a Bette Davis se remoendo na tumba.
E o produto Les Mis é um caso de não se saber o que é melhor ali, se a história, a adaptação, as músicas, a gravura da menininha, os atores, a direção de arte... e agora também a fotografia entra na contenda.
Emoção pura.

Unknown disse...

Também adorei o filme, fui ver 2 vezes. Quanto ao resto já disseste tudo aquilo que eu gostava de dizer...

marcelo disse...

Concordo em gênero, número e grau. Vamos assumir que o filme é um espetáculo, né. Já tô ficando meio com preguiça das bichinhas (e não bichinhas também) cult achando defeito, fazendo análise, criticando enquadramento, falando mal de Russell Crowe... aff....nada disso: o filme é uma beleza mesmo, e inesquecível!!

Anônimo disse...

Muito bom mesmo.Mas é uma pasteurização de Victor Hugo.Leiam o livro de Victor Hugo se puderem:uma das grandes obras da literatura mundial.Um livro perfeito.