Ironicamente, Álbum de Família (August: Osage County, 2013) se passa durante a reunião de uma família para o funeral do patriarca. Para quem perdeu o pai há menos de uma semana como eu, as comparações foram inevitáveis. Felizmente o encontro da tela tem muito pouco em comum com a situação que estou vivendo. A família Weston do filme é absolutamente disfuncional, composta por mulheres rancorosas e amargas que transbordam ressentimento.
O filme é baseado na peça teatral que desde 2007 tem sido montada com enorme sucesso em vários países e que ganhou o Prêmio Pulitzer de melhor drama em 2008. O autor, Tracy Letts, participou na adaptação do roteiro para o cinema.
Não se iluda. Álbum de Família não é um filme de família. É um filme de terror. Estas mulheres unidas pelo acidente da genética têm muito veneno para destilar durante o encontro, e quando a gente pensa que a reunião atingiu o porão e o esgoto mais imundo das relações familiares, ainda há muito por vir. Nelson Rodrigues ficaria corado.
O elenco é todo de atores e atrizes de primeiríssima linha, e todos têm a chance de brilhar. Há muito tempo não via uma reação da plateia como neste filme, permanecendo sentada em silêncio durante toda a rolagem dos créditos finais - talvez reunindo forças para sair do cinema depois de ter penetrado de forma indiscreta na intimidade mais escura de uma família tão tóxica.
Um dos grandes problemas do estúdio que produziu o filme vai ser escolher quem, entre Meryl Streep e Julia Roberts, vai ser indicada para concorrer ao Oscar de atriz principal e quem vai tentar o de atriz coadjuvante. No papel de mãe e filha as duas protagonizam o filme com desempenhos de emudecer a plateia, mas não há como partir um Oscar ao meio e a única chance de que as duas venham eventualmente a ser premiadas é indicar uma delas como coadjuvante.
Ao sair do cinema todo mundo vai poder ir para casa com a sensação de que suas famílias são as melhores do mundo.