Ainda se recordam do caso do capitão Matthew Phelps do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, que fez história ao pedir a mão do namorado Ben Schock dentro da Casa Branca durante um evento oficial no final do ano passado? Então...
Matthew e Ben se casaram na semana passada em uma cerimônia animadíssima onde não faltaram nem as tradicionais lágrimas de felicidade do noivo. Pois é, eu fico aqui lembrando daquele tempo em que a gente só ouvia estas historinhas nos contos-de-fadas gays que nossos pais liam para a gente dormir. Não, peraí...
Eu tenho grande admiração por aquelas pessoas aparentemente simples e normais que lutam contra todas as adversidades, movidas apenas pela fé no que acreditam, e como consequência acabam mudando o mundo. Encerrando uma era e começando outra. Como Rosa Parks, a mulher negra que se recusou a dar lugar para um homem branco em um ônibus nos Estados Unidos em 1955 e desencadeou toda a luta pelo fim da segregação racial na sociedade norte-americana.
Hoje foram dois jovens franceses, Vincent Autin e Bruno Boileau, da cidade de Montpellier, que reescreveram a história ao se tornarem o primeiro casal homossexual a se casar na França. A importância do acontecimento é tão grande que entre os 600 convidados havia 2 ministros de estado e mais de uma centena de jornalistas e repórteres. É o começo de uma nova era. É o começo de problemas novos, não há dúvida. E assim o mundo gira.
Já está no ar a música de Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes para celebrar o casamento igualitário. Para salvar em mp3 é só clicar aqui com o botão esquerdo do mouse e escolher "salvar link como" e sair curtindo tribalisticamente no feriado.
E o ministro Fux mandou um lindo e redondo "ó pro cêis" para o PSC, que estava tentando reverter a decisão do Conselho Nacional de Justiça que obriga os cartórios de todo o país a realizar casamentos entre cônjuges do mesmo sexo. E para evitar qualquer nova investida o ministro já despachou que a decisão do CNJ "se qualifica como 'lei em tese'". Em outras palavras, virou lei pela interpretação do judiciário. PSC, deita na BR e chora!
É animador analisar os avanços da causa LGBT ao longo dos anos, mas ainda mais inspirador é tomar conhecimento de trajetórias pessoais vitoriosas. Há cerca de 3 anos eu assisti ao filme De Repente, California (Shelter) e me apaixonei pela história bonitinha dos dois garotos descobrindo o amor, e principalmente pela música do filme. Escrevi sobre isso na época. Logo depois tratei de adquirir o filme e também a trilha sonora, e comprei algumas outras músicas do gostosinho Shane McAnally (que compôs e cantou várias das músicas da trilha sonora do filme sob o pseudônimo Shane Mack). Naquela época Shane McAnally era um cantor/compositor hétero começando a despontar no cenário da música country americana.
Fast forward quatro anos. Hoje vejo no New York Times uma reportagem muito interessante sobre Shane McAnally, agora já gay assumido, que se casou no ano passado com Michael Baum - parceiro de vários anos na vida e nos negócios. O casal já tem um casalzinho de filhos nascidos em dezembro do ano passado. E a reportagem gira sobre o fato de Shane McAnally ser hoje um dos maiores e mais respeitados compositores de música country nos Estados Unidos, mas principalmente sobre o fato de ele ter se transformado em uma pessoa muito melhor depois de ter se assumido. "Foi no momento em que eu parei de esconder quem eu sou que eu comecei a compor grandes sucessos". Que seja assim na vida de todos nós.
Lembram daquele vídeo lindo e emocionante lá de Cingapurahá dois anos anunciando o Festival Pink Dot? Parece que criatividade é o que não falta aos realizadores de lá. Ontem foi lançado o vídeo promovendo o festival deste ano, e é outra pequena obra de arte. Com pouquíssimas palavras o vídeo cobre vários aspectos da luta LGBT por reconhecimento, incluindo as tentativas de reaproximação entre os gays jovens e suas famílias afastadas.
Um dos pontos mais tocantes mostrados no vídeo é o caso bastante comum de afastamento de casais gays nos casos de enfermidades graves em que a família hostil do adoentado não permite a aproximação do companheiro. Do começo ao fim, tocante e singelo.
Neste momento difícil em que convivemos com um congresso podre, é importante contar com ministros simpatizantes no STF, a corte que julga as ações em última instância. Luís Roberto Barroso fez uma defesa brilhante e apaixonada das uniões homoafetivas em 2011, que vale a pena relembrar.
Em tempo: no ponto 13:20 o ministro tem um argumento preciosíssimo sobre porquê as relações entre os homossexuais têm que ser protegidas nos tribunais e não pelo Congresso.
Como agir com aquele namorado gostoso da sua amiga que parece que está te dando bola? E aquele vizinho super atencioso e prestativo - seria só educação mesmo? E quando você encontra com seu chefe super durão fazendo pegação na sauna - cumprimenta ou finge que não viu? Avisa para a prima que o namorado novo dela é gay e que vocês já se pegaram no passado?
Acostumados a se virar durante uma vida inteira de repressão, não é muito difícil para os gays encontrarem saídas criativas para situações inesperadas de saia-justa. Mas os héteros estão completamente perdidos. Mesmo os extremamente simpatizantes podem se ver pisando em ovos em situações corriqueiras do dia a dia, e é para eles que Steven Petrow escreveu o livro Steven Petrow's Complete Gay & Lesbian Manners há dois anos. Em uma sociedade mais avançada como a americana, em que apesar da homofobia e do preconceito há também uma grande parcela da sociedade interessada em fazer a coisa certa, Steven Petrow já tem uma coluna no New York Times duas vezes por mês só para responder dúvidas sobre como melhor se portar no relacionamento com os gays.
Félix Khouri, o vilão interpretado por Mateus Solano em Amor à Vida, que vive dando pinta e parece estar se divertindo com as maldades que faz, já é o novo queridinho do público e já pode deixar a memória de Carminha descansar em paz.
Prova disso é a enxurrada de referências ao vilão nas redes sociais. Já está aprovado, já é tendência. E conforme Mateus Solano for se sentindo mais à vontade na pele do personagem, Félix deve se soltar ainda mais, para nossa alegria.
É a prova mais viva que o país está aposentando algumas ideias e conceitos. Quem não mudar junto estará mesmo fadado a ir para casa, vestir o pijama, e passar o restinho de vida se lamentando de como era verde o vale. Isso não é maravilhoso?
Dá para acreditar que na Bélgica já existem casais gays prestes a celebrar bodas de estanho? Em duas semanas, no dia 1º de junho, serão comemorados dez anos da entrada em vigor da lei que aprovou a igualdade no casamento na Bélgica (a lei foi aprovada em 30 de janeiro de 2003). Os belgas estão se preparando para comemorar a data, e este anúncio de uma empresa que organiza casamentos não poderia ser mais inspirador.
E, não, o país não foi devastado por bolas de fogo nem por pragas de sapos caídos do céu. Pelo contrário, estão muito melhores do que a gente.
Hoje é o Dia Internacional de Combate à Homofobia. E nada melhor do que ouvir um pouco o Jean Wyllys, a mente mais lúcida do nosso Congresso atual. Apesar da aprovação pelo STF e da resolução do Conselho Nacional de Justiça, o casamento gay no Brasil ainda não é legal. Mas é legal!
Dizem que o ministro Joaquim Barbosa é irascível, impaciente, metido, e áspero. E isso para mim não tem importância nenhuma porque eu não preciso acordar ao lado dele toda manhã. O que realmente importa para mim é a diferença que Joaquim Barbosa está fazendo nestes nossos tempos tão carentes de homens com culhões.
Há dois anos Joaquim Barbosa deu voto favorável à equiparação da união estável entre cônjuges do mesmo sexo com o instituto já existente no nosso código civil, e deixou claro que a partir daí era papel do Congresso regulamentar a nova situação. Mas em dois anos não houve nenhuma evolução da matéria no Congresso, apenas tentativas de reverter a decisão do STF.
Mas Joaquim Barbosa tem pressa. E é reconfortante perceber que ele tem plena consciência do retrocesso a que o Congresso pretende submeter nossa sociedade, e não parece hesitar em peitar todo mundo de uma vez só. A resolução aprovada esta semana pelo Conselho Nacional de Justiça, do qual Joaquim Barbosa é presidente, é curta e grossa. Tem apenas uma página, e o primeiro de seus três artigos reza:
Art. 1º É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo.
A resolução foi redigida e proposta pelo próprio Joaquim Barbosa. Ele sabe que está cutucando evangélicos e outros fundamentalistas com vara curta. Mas, como dizemos lá em Minas, está cagando e andando para este povinho.
E eu nem vou falar do julgamento do mensalão para a postagem não ficar muito longa e perder o foco. Joaquim Barbosa é o cara!
Eu já falei do Ben Cohenaqui, aqui e aqui. Mas um cara destes é realmente difícil tirar da cabeça. Ainda mais agora que ele publicou suas primeiras fotos como modelo da Comfort Zone UK, fabricante de um amaciante de roupas ecológico. E agora vocês me dão licença que eu tenho um tanque de roupa para lavar que depois o Ben vem aqui amaciar...
Sean Hayes, o eterno Jack de Will & Grace volta em breve às TVs americanas com uma série própria, Sean Saves the World. Na série ele é o pai gay de uma garota de 14 anos. Alguns dos teasers já me fizeram rir muito, como esta cena abaixo em que ele explica como um homem gay pode ter transado com uma mulher e ter tido uma filha. Ah, a famigerada "recaída"...
E é claro que na história não poderia faltar a mãe dominadora, feita pela ótima Linda Lavin, rosto bastante familiar para quem é viciado em séries americanas.
Dá para imaginar um sem-fim de situações engraçadas para se explorar neste contexto com potencial explosivo. Nas mãos de bons roteiristas a série tem tudo para vingar e acontecer.
Também não se pode deixar de notar a evolução do tópico gay nas séries americanas. Parece que ontem mesmo Dawson's Creek estava falando de primeiro beijo e de sair ou não do armário, e de repente isso já é tão século passado!
Algumas coisas aconteceram muito rápido na minha vida. Passei direto do terceiro ano do ensino médio para o primeiro ano do curso de engenharia sem cursinho pré-vestibular, e formei-me engenheiro com 22 anos de idade. No último mês do último ano na faculdade me inscrevi para uma vaga de emprego e fui escolhido. Saí da faculdade e comecei a trabalhar em seguida. Dois meses depois montei meu apartamento e deixei a casa dos meus pais. Eu tinha 22 anos, era engenheiro formado, tinha um bom emprego e meu próprio apartamento. Minha família me achava o máximo.
Hoje fui matar as saudades dessa época através do velho álbum de retratos. Fiquei olhando um tempão esta foto aí em cima do meu primeiro apartamento e me lembrei de tanta coisa boa que quase esqueci da vida. Meu apartamento era o ponto de encontro dos amigos. A gente conversava a noite toda, ouvia música, víamos filmes, novos amigos vinham, o círculo crescia. A gente dançava e cantava como se não houvesse amanhã. Meus irmãos, primos, cunhados, sobrinhos, sempre apareciam e sempre se misturaram muito bem com meus amigos. Meus pais costumavam dar uma passadinha no sábado à tarde e eu aprendi a fazer bolo de fubá com a minha mãe. Eu nunca deixei de sentir que meus pais sempre tiveram um orgulho imenso de mim.
Não sei porquê tudo isso me veio à cabeça hoje. Mas eu sei que é por tudo isso que eu sou assim.
Eu só fui descobrir Renato Russo em 1994, dois anos antes de sua morte, com o disco Stonewall Celebration Concert. Foi a partir deste disco, gravado todo em inglês, que passei a pesquisar a obra do trovador solitário e a me interessar por seu trabalho.
Somos Tão Jovens cobre apenas o começo da carreira, antes do sucesso. O filme começa mal, com atores trintões que não convencem como adolescentes de dezesseis anos de idade e cenas tão marcadas e engessadas que tudo soa extremamente falso. Até o texto é artificial. Vai melhorando conforme a história se desenrola, mas gera uma certa má-vontade no espectador por conta do começo canhestro. Os desempenhos melhoram razoavelmente depois da arrancada, mas alguns continuam surpreendente ruins, como Marcos Breda - que interpreta o pai de Renato Russo e passa o filme todo parecendo hipnotizado - e a normalmente excelente Bianca Comparato - que aqui está sub-utilizada e completamente artificial como a irmãzinha do cantor.
Nem tudo está perdido. É animador ver nas telas um capítulo de nossa história recente e entender um pouco mais sobre as bandas de punk-rock de Brasília que injetaram frescor no cenário musical brasileiro nos anos 1980. E vale chamar a atenção para a incrível semelhança do ator Ibsen Perucci com o personagem que ele intepreta: Dinho Ouro Preto, da banda Capital Inicial. Tem-se a sensação de estar frente a frente com um clone mais jovem do cantor.
O filme começa com Renato Russo no final da adolescência, quando ele passa por uma cirurgia na bacia que o deixa preso à cama por um longo período, obrigando-o depois a usar muletas para se locomover. Renato Russo é impaciente, inconformado, vive entediado, julga-se feio, canta mal e toca mal, e tem grilos com a sexualidade mal resolvida - ou seja, é um adolescente absolutamente normal.
Com o tempo o guri (como a mãe o chamava) começa a adquirir a segurança e experiência que o transformariam no ícone da música que é até hoje. Mas o filme termina antes, em sua primeira apresentação no Rio de Janeiro em 1985, limitando-se à fase em que Renato Russo era quase desconhecido fora do planalto central.
Televisão é tão 2012! Se as emissoras já estavam preocupadas com a queda da audiência, imagina agora que o YouTube acaba de lançar dezenas de canais pagos especiais com conteúdo de video on demand, para você assistir ao que quiser, quando quiser, onde quiser, como quiser - no computador de mesa, laptop, tablet, telefone, ou até mesmo na tela da sua televisão! Alguns canais de TV já oferecem algum conteúdo online, mas ainda de forma irregular.
VOD (video on demand) é o formato do presente. Significa você chegar em casa às 11 da noite e assistir ao Jornal Nacional desde o início, ou aos capítulos da novela que perdeu durante a semana ou finalmente ver aquele especial que passou tarde da noite num dia que você precisava ir pra cama cedo. Tudo isso sem precisar gravar nada. Toda a videoteca do canal está à sua disposição 24 horas por dia.
Que delícia esta série do artista Paul Richmond com mocinhos sapecas reproduzindo poses imortalizadas pelas pin-up girls do passado. Nomes famosos posaram para algumas das ilustrações.
É para ser um vídeo de humor, mas é tão verdadeiro que deveriam usar como documentário e exibir no horário nobre. Oposição ao casamento igualitário é uma doença - atente para os sintomas!
Caro Emerald tem formas voluptuosas que evocam as mulheres da Renascença. Holandesa natural de Amsterdam (o nome real é Caroline Esmeralda van der Leeuw), Caro Emerald ficou famosa quase por acaso, ao ser descoberta por meio de um demo postado no YouTube. Na Holanda, o primeiro álbum (lançado em 2010) ficou 30 semanas em primeiro lugar na parada, derrubando a hegemonia de Thriller (Michael Jackson).
Eu descobri Caro Emerald com a música A Night Like This. Acho uma delícia esta pegada meio anos 40 que mistura tango, jazz, mambo, e este é praticamente o clima em todo o disco Deleted Scenes from the Cutting Room Floor, de 2010, um álbum com jeito de filme antigo.
Na próxima semana ela está lançando The Shocking Miss Emerald, e bastaram os primeiro acordes do prólogo e de One Day para eu ficar contente com a constatação que Caro Emerald resolveu seguir o mesmo caminho bem sucedido do disco anterior. A faixa nº 3 é a divertida Coming Back as a Man que descreve a vida de uma mulher enfadada que resolve se vestir de homem. A sensação de filme antigo continua neste álbum, e isso é uma coisa muito boa.
A votação tem grande chance de passar uma vez que a Comissão de Direitos Humanos é agora mantida somente por evangélicos depois da saída de todos os outros deputados. Sendo aprovada deve ser apresentada em plenário para ser votada e virar lei, onde certamente será apoiada por toda a bancada religiosa e pelos deputados com medo de perder o voto dos evangélicos nas eleições do ano que vem. Está aí a receita clara de como se faz uma grande merda.
A saída do armário do atleta Jason Collins continua causando ondas gigantescas de costa a costa dos Estados Unidos e foi saudada inclusive pelo presidente Obama, que telefonou pessoalmente ao atleta.
Parece que o quê pegou muita gente de surpresa foi a quebra de estereótipos. Espera-se que homens gays sejam fracos, frágeis e ultrassensíveis. E Jason Collins tem 2,13 metros de altura, porte atlético e postura considerada muito viril. "Como um homão destes pode ser gay?" é a pergunta que muitos héteros não conseguem processar.
Em um debate promovido pela NBCNews, Dan Savage cobre bem o aspecto dos estereótipos do mundo gay. Claro que há gays efeminados, e não há nada de errado com isso, mas a questão não é tão simples assim. Num mundo em que os homossexuais sempre tiveram que esconder sua orientação sexual, é provável que uma grande parcela de homossexuais que escapam dos estereótipos mais comuns tenha passado completamente desapercebida. Muitos homens gays certamente nascem, crescem, vivem a vida toda, e morrem sem que ninguém deles suspeite por um único segundo.
É surpreendente a tranquilidade com que Jason Collins respondeu às perguntas do repórter logo após haver se declarado gay, principalmente ao descrever os estágios do complexo processo de se assumir. Jason Collins já está ajudando muita gente.