terça-feira, 29 de novembro de 2011

As esposas de Brokeback Mountain

Eu cresci achando que o propósito de todo homem era namorar, noivar, casar e ter filhos - independente de seus sentimentos. Não tive, na minha infância e adolescência, modelos de gays bem sucedidos que pudessem despertar alguma dúvida quanto à "ordem pré-estabelecida" das coisas.

Hoje a visibilidade dos gays é enorme - e é mais difícil para um homem não seguir seus instintos por falta de informação. Mas há quarenta ou cinquenta anos tudo era muito diferente. Por isso não são incomuns os casos de mulheres como Jane Isay, por exemplo, que publicou um texto bastante tocante na coluna Opinião do New York Times na semana passada (aqui). Jane estava casada há 15 anos quando o marido lhe disse que era gay, e ela descreve no artigo como o casal decidiu manter o casamento "pelos filhos" (que na época tinham 10 e 14 anos) e pelo medo da execração dos amigos e também por não entenderem muito bem sentimentos tão controversos.

Eles conseguiram adquirir a maturidade necessária para resolver o problema e superar os traumas. O mais bonito é que ela abre o artigo comentando sobre a festa de casamento do ex-marido com seu companheiro atual. Os dois vivem juntos há 30 anos e puderam finalmente se casar com a legalização do casamento no estado de Nova York. Quem organizou a festa foram os próprios filhos, e os netinhos serviram de damas de honra e levaram as alianças. Em uma família de verdade, o que importa é a felicidade. Como bem diz ela no texto, "a verdade vence a mentira sempre".

13 comentários:

((ADRIANO)) disse...

Eu tenho meus "draminhas" particulares,
só me assumi aos 25 anos(pra mim) e aos 27 anos(pro mundo) e passei minha pré adolescência em meados dos anos 80, morando numa cidade pequena onde não tinha nenhuma informação(a não ser as deturpadas) sobre homossexualidade, era o inicio da aids.

Nem bissexual sou, mas planejava me casar com mulher(não consegui nem namorar uma), mesmo assim fazia troca-troca com garotos e tive experiências mais sérias depois, mas dai vinha o arrependimento, a culpa IMENSA (achava que era questão de um mau hábito a ser corrigido, um vício...).

Dois homens namorando? Vivendo junto? Tendo uma vida sexual saudável? Se amando??!!
MAS NEM DE LONGE EU IMAGINAVA A POSSIBILIDADE DA EXISTÊNCIA DISSO...
(e os malditos programas de humor na TV não ajudavam em nada.)

Naturalmente só me masturbava pensando em homens, mas dai eu resolvi me condicionar a pensar em mulheres(quem diz que conseguia!? mesmo fazendo um esforço hercúleo...),
OLHA O ESTRAGO NA CABEÇA DO RAPAZ...

Mas dai veio a INFORMAÇÃO e tudo mudou... :)

Anônimo disse...

Adriano,
Por um minuto achei que eu tivesse escrito o seu comentário... A única diferença entre nossas histórias é que a minha adolescência foi em meados de 90.
Realmente a informação faz toda diferença: me encontrei, me aceitei e me tornei mais feliz depois que conheci os blogs do Luciano, do Tony Goes, do Thiago Lasco, entre outros. Encontrar referências ajuda bastante.
Certamente minha vida seria bem mais difícil sem as oportunidades que a internet proporciona.

Abs,
Rodrigo

Anônimo disse...

Que lindo! Mal da pra acreditar. Imagino que a ex-esposa tenha que ter tido muito desprendimento e tolerancia pra fazer o que ela fez, inclusive escrevendo um artigo para o NYT. Eh aquela coisa, ninguem pode dizer quem vc pode ou nao amar.

O filho da Chiquita. disse...

Que liiiiiiiiiiiiindo.
Minha arquirrival devia ter essa maturidade.
kkkkkkkkkk

Luciano disse...

É admirável como todos temos histórias muito parecidas. Felizmente hoje em dia temos como compartilhá-las. É isto que vai ajudar os garotos das novas gerações a não se acharem tão errados para poderem crescer sem culpa.
**

Aldo disse...

Pois é, eu 26 anos, ainda sinto uma quase não-aceitação da minha homossexualidade, tipo - meu deus, sou gay, o que vai acontecer? -, daí eu fico pensando se irei encontrar um cara, se as pessoas me aceitariam, enfim, são vários pensamentos.

Aí, vou pra internet e fico buscando as ''referências gays'', histórias que deram certo, e aí eu fico mais aliviado!

até...

((ADRIANO)) disse...

RODRIGO,

Um forte abraço pra você.
Essa vida é engraçada(as vezes da maneira mais cruel).
Eu achava que era o ÚNICO ser humano no mundo inteiro a viver esse drama bem escondido dentro de mim.

Dai aparece outra pessoa com a mesma história, e surge outro e mais outro.
A homofobia a que somos submetido é cruel. Cruel sem limites.

A felicidade, a paz está ali mas você não consegue alcançar.

Não tem coisa melhor do que sair do armário,
se você é financeiramente independente então melhor ainda!!
VOCÊ CHUTA O PAU DA BARRACA...
E DEPOIS...
CHUPA O PAU NA BARRACA!!

Anônimo disse...

Realmente Luciano todas as nossas histórias são parecidas. Tanto que quase chega a ser desnecessário o meu comentário. Para ilustrar vou pegar exatamente o primeiro parágrafo do seu texto:
"Eu cresci achando que o propósito de todo homem era namorar, noivar, casar e ter filhos - independente de seus sentimentos. Não tive, na minha infância e adolescência, modelos de gays bem sucedidos que pudessem despertar alguma dúvida quanto à "ordem pré-estabelecida" das coisas."
É incrível não precisar trocar uma palavra se quer. Literalmente faço minhas as suas palavras.
As vezes fico pensando como teria sido bem melhor se eu tivesse, na época da adolescência, toda essa informação que temos hoje. Teria me poupado muito sofrimento. Nasci e cresci numa cidade do interior do Rio Grande do Sul. Tenho 26 anos, ainda estou no armário e não faço idéia de quando vou sair. Tenho tudo o que um cara da minha idade podria querer, mas não tenho alguém ao meu lado a quem possa compartilhar uma vida. Apesar de assustado com os atuais acontecimentos (os bons e os ruins), o mais importante já aconteceu. Assumi para mim mesmo que sou Gay. E nisso o seu blog me ajudou muito. Por isso, cara, obrigado. Mesmo.
Francisco.

Red disse...

Ótimos textos, tanto o seu quanto o linkado.
Acho que a geração atual tem exemplos muito melhores de homossexuais do que nós mais antigos (eu tenho 26 anos). Comparo os gays de Glee com o Jack de Dawson's Creek, é algo que pra mim parece tão diferente.
Só fui me aceitar mesmo lá pelos 18-19 anos, e tive meu primeiro namorado aos 20 (e estamos juntos até hj). Triste como é tão difícil aceitar algo tão... natural. E inescapável.

Lucas disse...

Tem que ser muito macho pra se aceitar diferente da maioria e redefinir concepções, projetos, expectativas e, às vezes, até o sexo biológico.
Eu me identifiquei muito com os relatos e achei surpreendente a história de Jane Isay, difícil uma ex-mulher de gay não espalhar intrigas depois do divórcio.

Soteropolitano disse...

Nossa!Os comentários estão tão bons quanto o post, e fazendo coro:Como nossas histórias são parecidas!

Rubia disse...

ótimas histórias... queria mais desses 'causos' com a visão dos filhos acho muito importante

Uma Cara Comum disse...

Mais um com uma história parecida aparecendo por aqui... ^^