sexta-feira, 9 de março de 2012

Sem segurança


O Conar acatou a denúncia de racismo e decidiu que o anúncio do azeite Gallo deve parar de circular na mídia impressa. Até eu que sou mais burro associei "o vidro escuro é o segurança" com a cor dos ternos pretos dos seguranças das celebridades (men in black) e nem pensei em cor de pele. Mas nada disso teria a menor importância se não estivesse acontecendo na mesma semana em que o Ministério Público Federal determinou que o verbete "cigano" fosse retirado da versão digital do dicionário Houaiss por conter referências preconceituosas.

O absurdo não poderia ser maior. Um dicionário simplesmente registra o idioma, inclusive indicando se o verbete é de uso vulgar (palavras tabu) ou erudito, mas não acrescenta juízo de valores. A se vingar esta ideia estapafúrdia, nossos dicionários e nosso idioma automaticamente se reduzem a cerca de um terço de seu tamanho. Palavras como "vândalo" (originada do nome de um povo germânico) e "judiar" (de 'judeu') seriam automaticamente proibidas.

O excesso no politicamente correto está ficando insuportável. Pelo andar do jinriquixá, já imaginaram como será impossível no futuro contar uma história que envolva um aleijado, um mongoloide, um anão, um negão, um veadinho e uma paraíba?

18 comentários:

AutorAma disse...

Ué mas quando o taxista chamou os gays no aeroporto de veadinhos todos os gays aprovaram a porrada que eles deram, ooops, levaram.

Luciano disse...

@AutorAma:
O preconceito está na intençāo de ofender. Dizer "vem cå, seu veadinho" de forma jocosa é ofensivo. Dizer " veado é uma palavra de cinco letras" näo é ofensivo.
Um dicionário näo pode ofender ninguėm.
**

ivan disse...

o que não se escreve, não se pensa. Se eu fosse judeo eu lutaria para que o verbo "judiar" sumisse do dicionário mesmo. E "baitola" é apenas uma palavra de 7 letras?

eh sim, eu sou gay.

ivan

Aldo disse...

Isso tem haver com o marketing da empresa.
Esse azeite agora vai bombar.!!

Aqui em casa tem 2 dicionários. Nos dois tem palavras que o Luciano citou, inclusive tem outras como fanchono, pederasta, sodomita, sapatão e boiola, mas tem explicando que os termos são chulos e/ou gírias sociiais

Será que é necessário tirá-los do dicionário???
....

Anônimo disse...

Nada a ver mas assunto relacionado, no curso de inglês meu irmão ensinou para o professor, que morou nos EUA por muito tempo, que aqui o termo politicamente correto é negro e não preto por que lá niger é ofensivo e não black. Pq disso? Vc saberia?

Guilhermino disse...

loira gelada, que é explicito não tem problema? Conheço um japonês que qdo falam isso para ele, se ofende e responde que é brasileiro,pois japonês não é raça e sim nacionalidade... o pessoal sem tolerância! Acho que dá para notar se a intenção foi ofender ou não

Paulo Alt disse...

Luciano,

O pior é a 2ª definição do Michaellis para amor. Ja viu? acho q nem vo precisar falar nada. Isso sim devia ser divulgado aos 4 cantos da internet.

a.mor
(ô), s. m. 2. Forte inclinação, de caráter sexual, por pessoa de outro sexo.

Lucas disse...

Acho que "o vidro escuro é o segurança" se refere a vidro de carro com pelicula.

Luciano disse...

@Anônimo:
O significado das palavras muda às vezes com uma velocidade incrível em línguas muito dinâmicas. "Nigger" foi criado exatamente para ser um termo neutro, e deriva exatamente do espanhol "Negro". Mas foi criando conotação pejorativa ao mesmo tempo em que o termo aceitável para se referir aos negros foi mudando de "colored" para "black" para "African American". Hoje "Nigger" é extremamente pejorativo e ofensivo.
Abraço,
**

Lucas disse...

Há 23 anos chegou oficialmente ao país a ideia de Estado Democrático de Direito. A nova Constituição não admite que sejam ditos absurdos como "negro não come, negro lambe", mesmo que disfarçados de piadas em shows de humor.
O problema é que todo início de algo padece de exageros. Muita água vai rolar até que veados, mongolóides, negros, aleijados, ciganos, judeus, etc. entendam que o artigo quinto não corrige injustiças históricas e que não precisam estar constantemente armados contra ameaças invisíveis, ou seja, pra se chegar ao bom senso e diferenciar claramente o que é ou não ofensa.
Enquanto o bom senso não vem, ainda vamos assistir a episódios quixotescos como a luta contra o Houaiss. Quixotesca porque há quem pense que deixando de ser publicada a pejoração deixa de existir. Doce ilusão.

AutorAma disse...

Já nos filmes pornôs gays americanos, os negões americanos adoram se chamar uns aos outros de nigger (niga).

Ah esqueci que entre eles pode.

Que nem os gays que entre eles pode chamar de viadinho, bee etc.

Dênis disse...

vc fala isso porque vc eh branco. Se vc fosse negro, vc teria a mesma opinião?

DPNN disse...

todo tipo de censura é burra, não importa se é pra o "nosso" bem. Acho que o verdadeiro racismo está na cabeça do pessoal que fica caçando estas coisas.

Alguém lá em cima falou do verbo "judiar" Sou meio-judeu (por parte de pai), o verbo não vem de "judeu", mas de Judas.

Carlos disse...

Acho que as minorias deveriam ser mais solidárias umas com as outras. Por exemplo, vc sempre coloca questões referentes aos direitos dos gays. Mas toda vez que outra minoria reclama de alguma discriminação, vc diz que é um exagero. Acho que a pessoa mais autorizada pra dizer o que ofende e o que não ofende é o próprio ofendido. Se os negros e os ciganos reclamaram, é porque se sentiram ofendidos. Os gays não são a única minoria. E os Direitos Humanos não se resumem aos direitos dos gays.

Anônimo disse...

É só não contar "histórias" na verdade piadas como essas que geralmente são sem graça, velhas e carregadas de preconceito.

Achei a propaganda extremamente idiota.Mas não acho caso de processo já que existe a interpretação que você mesmo citou.

Já quanto a alteração das palavras sou a favor.Essas "besteirinhas" demonstram o quanto está enraizado o preconceito na sociedade.

Quando por exemplo se fala: Ele é gay mas é muito mais homem que muito hétero,se está inferiorizando a mulher sem que isso seja percebido.Homem e mulheres machistas veriam isso como uma besteira, e falariam que homem está sendo utilizado no sentido de ombridade e blá, blá, blá, pois são conformistas.

Mas a verdade é que poderia-se usar uma palavra que não ligasse necessariamente o conceito de caráter ao homem somente.

A cultura e o comportamento influenciam uma linguagem e vice-e-versa.

Tentar mudar a sociedade mesmo que levemente e a longo prazo desencorajando o uso de certas palavras pra mim é válido.

Melhor do que tentar ser "cool" e
"politicamente incorreto" (a nova moda) e ver tudo como se não fosse nada demais.

railer disse...

gostei da abordagem.
realmente o politicamente correto precisa ser melhor avaliado.

fui comprar um presente, o livro da agatha christie 'o caso dos dez negrinhos' - um dos meus preferidos dela - e descobri que agora se chama 'e não sobrou nenhum', por causa do politicamente correto, mesmo que a história tenha dez figuras de negrinhos que são a base de todo o mistério. vai entender.

Anônimo disse...

Viver com este excesso de politicamente correto já encheu e como já encheu.

Antonio Carlos disse...

Hoje nao seriam feitas musica maravilhosas como "nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia", ou então "o teu cabelo não nega mulata", jamais cantaríamos para uma criança "atirei o pau no gato" pq poderiamos ser processados pela sociedade protetora dos animais. Vc caminhar pra qualquer extrema é muito perigoso