Há algumas semanas a desocupação do Pinheirinho em São José dos Campos gerou uma celeuma a nível internacional amplamente inflada por interesses políticos. O acontecimento foi aumentado para muito além da proporção que merecia principalmente pela rede de ativistas a serviço dos interesses de partidos políticos. Ninguém fala mais no Pinheirinho e nem ficou sabendo do desenrolar da história. Até o senador Suplicy esteve aqui há duas semanas para ver tudo in loco e ficou surpreso por não ter encontrado o que tinham dito que ele encontraria.
Mas este é um problema de vários pesos e várias medidas. O New York Times já abriu os olhos para a desocupação desenfreada que está acontecendo no Rio de Janeiro pela necessidade de livrar a cidade da "feiura" da pobreza para não assustar as hordas de turistas que chegarão para os Jogos Olímpicos. A ordem é desaparecer com algumas favelas que ocupam lugares estratégicos. O jornal traz fotos interessantes das comunidades que estão sendo riscadas do mapa, e até um vídeo sobre o quê está acontecendo.
Inalva Mendes Brito, uma maratonista feliz pelos Jogos Olímpicos mas que está sendo despejada de sua casa, resumiu com "tornamo-nos vítimas de um evento que não queremos". E desta vez trata-se de terras devolutas que pertencem ao Estado e que não têm um proprietário privado, o que é ainda pior. Mas, considerando-se os interesses políticos envolvidos, desta vez os pobres desalojados certamente não contarão com o clamor conveniente da rede de ativistas de sofá.
10 comentários:
Na verdade, se a terra é do Estado, aí mesmo que ninguém pode se apropriar ou usucapir.
E sim, boa parte do parque olimpico vai ser na Zona oeste, há muito abandonada à própria sorte e (des)ocupação.
Cabe aos interessados correr na Defensoria Pública do RJ (a melhor do país) e tentar dar uma freada nisso, ou receber a justa e prévia indenização.
Essa notícia não corresponde de forma alguma à realidade. Não existe nenhuma favela carioca sendo erradicada para limpar a paisagem e, ao contrário, há um plano [pretencioso] de urbanizar todos os assentamentos expontâneos até a realização das Olimpíadas. Os assentamentos que estão sendo removidos encontram em trechos do terreno do futuro Parque Olímpico, na Baixada de Jacarepagua e não são de pequeno porte.
Finalmente alguém vai fazer o que já deviam ter feito há décadas, não importa o que detonou o movimento! Chega de bandalheira, chega de pobre achando que pode tudo, que invade e vai ficando, chega de oba-oba, só assim vamos aprender que viver assim amontoados só impede o país de oferecer uma vida digna a todos. Não se constrói nada decente partindo desse tipo de cidade, de moradia, de coletividade.
Parte 2
Muito mais significativas em porte e população são as áreas urbanas antigas e estruturadas do subúrbio a serem despropriadas para a abertura de novas vias de integração Norte/ Oeste e para sistemas BRT.
Outros processos de retirada de moradores existem, mas com características particulares, como as antigas casas de funcionários do Jardim Botânico que, embora dentro do parque e com todos os funcionários-moradores já mortos, têm hoje suas construções e moradores multiplicados em muito, impedindo a expansão do arboreto.
Parte 3
As iniciativas relativas à realização das Olímpiadas têm sido
exaustivamente discutidas na mídia, em entidades profissionais e outros espaços pertinentes, os projetos têm sido escolhidos em concursos públicos. A política relativa a assentamentos populares no Rio, de longa data, reconhece sua permanência e a necessidade de transforma-los em bairros e integra-los à cidade. Por mais que haja interesses excusos na coisa pública, não serão os desapropriados/ removidos que agora serão lesados.
Parte 4
A retirada de assentamentos populares para limpar a paisagem não é hoje considerada, mas não devemos dizer 'nem morta!`.
O patrimônio paisagísitico é bem maior da cidade e dos cariocas e não pode ser de forma alguma comprometido [mas diferente dos tempos de Haussmann e Pereira Passos, há hoje responsabilidade social em relação aos eventuais desalojados].
São Paulo, em sua expansão urbana, eliminou a paisagem natural e toda a memória do passado, colonial, eclético, art-nouveau, mas nós cariocas não gostamos de ser assim.
Uai, mas pelo que eu me lembro, você se manifestou a favor da desocupação do Pinheirinho... foi só pra ser do contra? Assim, todo mundo contra Pinheirinho, e você resolveu ficar a favor, agora, no Rio, como não tem ninguém falando, você fica do lado dos pobres?
Coerente. Só que ao contrário.
Quero que NYT vá cuidar das mazelas dos sem teto de lá nos deixe cuidar dos nossos.Se estamos fazendo certo ou errado somos nós que temos que fiscalizar e tentar agir coerentemente e não fazer auê pra aparecer depois se lichar pra quem tá sem casa, sem comida e sem trabalho. Nossa casinha e nosso trabalho estão garantidos, né? Só falta um pouco de holofote que a gente pode conseguir levantando essa bandeira na frente das cameras mais uma vez usando os pobres de escada sem fazer efetivamente nada pra mudar essa situação.
Marcelo, sou inteiramente pela justiça social, mas abomino a manipulação política dos problemas sociais. De tudo o que havia lido sobre o Pinheirinho - confirmado aqui pelo Luciano, morador de SJC e um gajo bastante equilibrado - me pareceu ser esse o caso. E me perdoe, mas os argumentos apresentados aqui no blog contra essa decisão da justiça foram muito entre o desinformado e o histérico.
Marcelo, durante o governo Brizola, eu vi políticos do PDT promovendo a ocupação da íngreme encosta sobre o Túnel Rebouças por seus protegidos, ultrapassando inclusive a cota 100, onde a construção é restrita. Vinte anos depois esse assentamento, adensado e ampliado, teve de ser desapropriado pois era área de risco e qualquer deslizamento bloquearia o túnel, única ligação entre as Zonas Norte e Sul do Rio através do Maciço da Tijuca. Acho que o Pinheirinho não foi uma ocupação muito diferente.
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