17 de junho de 2013. Dia histórico em que os brasileiros saíram em massa às ruas para protestar. Embora muita gente esteja comemorando o fato como se fosse um fenômeno, trata-se do resultado de um processo lento e demorado.
A imagem acima das cruzes fincadas na praia de Copacabana é de março de 2007, e era parte do protesto silencioso organizado pelos integrantes da organização Rio Paz contra a violência bárbara que assolava o Rio de Janeiro (e, diga-se de passagem, todas as grandes cidades do Brasil) há seis anos! Achávamos então que tínhamos chegado no limite com a morte do garoto João Hélio em fevereiro daquele ano. Daí vieram as balas perdidas, as chacinas, os arrastões, os estupros...
Depois vieram as notícias da falta de atendimentos em hospitais do país inteiro. E todo dia víamos gente morrendo nas filas, trabalhadores suplicando por tratamento, idosos deitados nos chãos frios, mães dando à luz em corredores imundos, médicos atarantados com a falta de recursos.
E vieram as escolas sem janelas, os professores sem salários, as crianças sem futuro. Os portos sem saída, os aeroportos sem meios, o transporte público incerto, as estradas sem segurança. O medo. A incerteza. O telefone que não funciona. As enchentes de verão. Os deslizamentos de terra. Os mortos soterrados. Os sobreviventes sem esperança.
Presenciamos a falência de nossas infraestruturas enquanto pagamos nosso quinhão de uma das cargas tributárias mais pesadas do planeta e ainda nos vemos sediando um evento esportivo que rói ainda mais nossas finanças. Um preço muito alto que assolapa nossas economias para sustentar um sistema carcomido pela corrupção endêmica alimentada por políticos podres.
Mas neste ano o povo começava a dar sinais de que não estava disposto a dar a última gota de sangue. Veio o Movimento Fora Renan que conseguiu levar algumas pessoas para as ruas por alguns dias, mas que do próprio Renan só recebeu indiferença e desdém. Veio o Movimento Feliciano Não Me Representa, que de retorno recebeu somente escárnio e desprezo. Continuou o Congresso só se reunindo para salvar seus pares, para negar direitos a homossexuais, para impingir religião, para proteger mensaleiros, e para votar leis de interesse próprio. Vieram os governantes cheios de empáfia e soberba, e os políticos cheios de desfaçatez e descaramento.
Foi pelo João Hélio. Foi pelas vítimas de balas perdidas. Foi pelas crianças estudando em escolas sem porta e sem teto. Foi pelas vítimas das enchentes e dos desabamentos. Foi pela turista estuprada. Foi pelo aposentado esquecido. Foi pela mulher que pega na enxada para sustentar o filho. Foi pelo pai assassinado na frente do filho. Foi pelo filho morto nos braços do pai em um corredor de hospital. Foi pelo Brasil. Não foi por 20 centavos.
12 comentários:
Porra, Luciano, hoje você arrasou.
Realmente o menino João Hélio é um símbolo expressivo de todo o sofrimento que temos passado. A gente procura fazer de conta que dá para aguentar, mas tem sido muita humilhação ser brasileiro nesses últimos tempos.
Parece que o estado de torpor geral está escorrendo pelo ralo...
Claudio
E essa imagem das sombras dos manifestantes projetadas sobre os domos daquelas duas merdas, porra!, foi das mais impactantes que meus olhos se depararam.
Nunca tinha visto esse jogo de sombras e imagino que, como os refletores são acionados à noite, quando não deve ser permitida a visita à cobertura, não devia ser muito conhecida.
Mas é para diretor de arte com Oscar na lareira ficar babando.
Oras, entao a culpa toda e' do governo? Nao mm!!! A culpa e' do proprio povo, deviam protestar contra o povo e nao contra o governo, afinal, quem os elegeu?
esta foto ficou emblemática!!!
As sombras nessa foto também representa o povo anônimo que luta lado a lado daqueles que vão as ruas e dão a cara a bater. Representa inclusive a nós que não estivemos lá, mas que fizemos parte dessa corrente social que ajuda a levar ao país e ao mundo essas imagens de luta, garra e amor de um povo que luta diariamente de sol a sol por uma vida melhor e mais digna. Uma vida com segurança, sem violência, com saúde, com trabalho, com EDUCAÇÃO à altura de uma terra que sempre nos deu de tudo com fartura, mas que infelizmente não recebe de volta o valor devido.
Essa foto deve nos lembrar também, daqueles que dentro dessas cúpulas, nos representam e que no momento de eleição dão a cara e as promessas ao crédulo povo, mas que em manifestações como a de ontem e as que aconteceram ao longo das últimas semanas "sumiram" e se transformaram em sombras intangíveis. Que frente as urnas, e nos palanques, nos próximos anos, nós nos lembremos dessas sombras e de que não queremos sombras nos representando...queremos pessoas comprometidas com o povo e com as necessidades dele.
Fiquei orgulhosa e mesmo não estando nas ruas, a batida do meu coração era tal qual, àquelas das pessoas que reivindicavam "mais" nas ruas do Brasil.
Que esse gigante que acordou, não durma jamais!
Belo post Luciano.... você me representou nele. Gracias
Abraços
O Povo acordou!!! Que tudo isto possa ser o começo de uma nova etapa, pois a atual já morreu!!!! Mudanças a vista em 2014!!!
Estou bem orgulhoso do nosso povo !
Enquanto isso, o Feliciano aproveitou para aprovar a "cura" gay. Ainda há muito o que protestar!
Suas crônicas estão ficando cada vez melhores!
O que me preocupa é que enquanto povo, mídia e redes sociais estão focados no protesto, Feliciano aprova em comissão a "cura gay".
Pronto. O Brasil já pode se orgulhar de parecer com potências econômicas e democráticas como Irã, Uganda, etc.
Meu medo é que se há cura, há doença a ser curada. Se há doença, há combate: Combate ao tabagismo, combate ao alcoolismo, combate ao homossexualismo.
E mais> Feliciano quer criminalizar a "heterofobia", uma entidade fantástica que só existe na cabecinha dele. Na de baixo, pelo visto...
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=363974103725943&set=a.146005402189482.26235.100003400698446&type=1&theater
muito boa :-)
O Feliciano não só aprovou a cura gay na sua Comissão de Direitos Humanos como, quando a ministra de Direitos Humanos disse que o governo trabalhar contra a aprovação dessa, mandou um recado para a presidenta, que '2014 haverá eleição e se ela quiser contar com bancada evangélica - 80 deputados - trate de aprovar a cura gay'.
Melhor é impossível.
Essa foto do povo em Brasília já é épica, virou história. Felizes os que no futuro poderão dizer 'eu estava ali ó' Muito orgulhoso de ser gay e brasileiro e cidadão, não são dias negros coisas nenhuma, são dias de glória.
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