domingo, 6 de novembro de 2011

Batendo o ponto

A Folha de S. Paulo de hoje traz reportagem sobre a contratação de homossexuais no mercado de trabalho tradicional. Embora existam empresas modernas e com políticas de recursos humanos bastante avançadas, ainda existem outras muito presas a convenções antigas onde funcionários gays não se sentem à vontade para se abrir sobre sua condição. Estas empresas acabam criando aquelas situações que todos conhecemos das "namoradas fantasmas" (que ninguém nunca viu) e da melhor amiga que aceita passar por namorada na festinha de final de ano da firma. Quem já trabalhou na indústria fora do eixo mais moderno Rio-São Paulo conhece estas histórias muitíssimo bem.

Felizmente a coisa está mudando rapidamente. Eu mesmo já fiz uma tradução de documento interno de política de relocação da Philips que mencionava claramente a expressão "cônjuge do mesmo sexo" nos casos de expatriação ou repatriação de executivos, dando-lhes os mesmos direitos dos cônjuges de sexos opostos. A reportagem da Folha também descreve um caso de funcionário da Procter & Gamble que conseguiu uma relocação para Nova York depois que a transferência do namorado foi confirmada. Algumas empresas já implementam programas de apoio à diversidade para promover a integração.

Nos dias de hoje, 88% dos profissionais de RH das empresas já admitem que não há restrições quanto à orientação sexual do funcionário e apenas 2% afirmam haver ressalvas quanto à orientação sexual. Conforme a reportagem, "Para saber se uma pessoa é gay em uma entrevista de emprego, não será perguntado se ela é homossexual ou heterossexual, mas sim se é casada e tem filhos" segundo Klecius Borges, psicoterapeuta especializado no atendimento a gays, lésbicas e bissexuais e a seus familiares. Mais alguns anos e as namoradas fantasmas poderão ser aposentadas.

18 comentários:

Unknown disse...

Hmmmm... custo a acreditar. Da mesma maneira que afirmam não ter preconceitos em relação a idade mas continuam sem contratar quem tiver mais de 40 primaveras. Mas enfim, já é um pequeno avanço. Mesmo porque não dá pra gente querer tudo "pra ontem".

Anônimo disse...

Sou gay e ocupo um cargo de gestão na america latina.
Nunca fui questionado sobre minha orientação sexual e nunca tive necessidade de falar e me expor.
Na minha empresa competência profissional está acima das questões de forum intimo.
Luca

Unknown disse...

O problema não está na política de contratações de empresas multinacionais, muitas delas adotam o que vem de suas matrizes no exterior. O problema está em quem executa essas políticas.
Um processo de seleção envolve diretamente muitas pessoas, responsáveis por escolher currículos, entrevistar e analisar resultados e fazer recomendações. Basta que apenas uma dessas pessoas tenha algo contra homossexuais para que todo o processo esteja comprometido. E é impossível provar que existe discriminação na contratação porque o tom é de que houve um processo justo.
Quem é homossexual e esconde isso no trabalho, sempre ouve comentários que mostram o que a maioria realmente pensa. Coisas que ninguém, com exceção dos mais chucros, diria para você se soubessem que vc é gay.
Isso acontece fora do Brasil também. É um sistema de dois pesos e duas medidas mesmo, infelizmente. Mecanismos de controle tem que ser implementados para prevenir isso.

Anônimo disse...

ENGRAÇADO, PQ A GRANDE MAIORIA DOS HOMENS QUE TRABALHAM EM RG SAO GAYS, MAS EXISTE O TAL PRECONCEITO INTERNALIZADO, EU SOU CARA INTELIGENTE, COMPETENTE E SERIO (QUANDO NECESSARIO) MAS OUVI DE UM PSICOLOGO GAY AMIGO DE AMIGOS QUE EU NAO ERA PERFIL DA EMPRESA DELE PQ ELE ME VIU SE SOLTANDO EM UMA FESTA COM AMIGOS (TODOS ESTAVAM A VONTADE E BRINCANDO BASTANTE). ENTAO TE FALO, LIDAR COM PRECONCEITO VINDO DE IGUAIS É TRISTE.

Marcus disse...

Bueno...eu vivo na Espanha desde 2005 e no meu trabalho um Hospital Universitário, minha Chefe, Uma Enfermeira Supervisora do Serviço de Emergência, sempre soube que eu era gay...aliás, eu e outros tantos Enfermeiros, Médicos, Auxiliares, Técnicos de Manutençao Hospitalar, Engenheiros Biomédicos, enfim...somos tantos... O mais engraçado de tudo é que minha chefe me dá dias livres e me pergunta para qual gay pride eu vou ? hahahah Agora o campeão é um Médico de Família, que é uma amigo querido e Romeno. Dá pinta horrores e o povo o adora ! desde pacientes aos médicos mais conservadores. Aqui, ser homofóbico, é sinônimo de pessoa vellha e ultrapassada, parada no tempo. E aqui, o povo nao quer ser identificado de maneira nenhuma, com a velha e conservadora Espanha, inclusive os mais católicos ! Saludos

Lucas disse...

Bom saber que há avanços pelo menos no eixo Rio-São Paulo. Aqui no Nordeste, última fronteira da homofobia, prevalece nas grandes empresas (estatais e de economia mista inclusas) a política do Don't Ask, Don't Tell. E assim você convive com os colegas numa boa.
Já no serviço público a ordem é armário total, salvo raras exceções.

Aldo disse...

Adorei o artigo
Luciano, queria saber quem são os caras da foto?
abraço!!

Luciano disse...

@Aldo:
A foto é só ilustrativa; catei na Internet uma foto que representasse homens de terno para dar um ar executivo. Tirei a foto daqui.
Abraço,
**

Bit disse...

Namorada fantasma.... nunca mais \o/

Uma Cara Comum disse...

Concordo com o Edu, com o Unknown , com 2º anônimo e com o Lucas.

Há 4 anos, pedi demissão de um emprego em que a empresa fez uma pressão enorme pra eu me demitir. O fato de ser gay pesou com certeza. Eles preferiram mandar embora o gay a repreender os outros 9 funcionários do setor... É claro que eles não tiveram coragem de fazer isso, então tornaram a situação insustentável ao ponto de eu ter que pedir demissão... No meu caso, ficaria muito difícil provar que homofobia foi motivo da minha demissão porque envolvia outros fatores também.

Um amigo ano passado foi demitido porque tinha duas colegas evangélicas no setor dele que não o aceitavam. A chefe, descaradamente, disse que estava o demitindo porque ele não contribuía para a harmonia do setor. Eu falei pra ele processar a empresa, mas ele não quis.

Nos dois casos eram empresas privadas de tamanho médio para grande e todas duas sediadas na região metropolitana de BH.

Enfim, ainda há muito a caminhar...

Marcos Rocha disse...

Há que se pensar na relação sexualidade x empregabilidade. Sou funcionário público e só na minha coordenadoria tem cerca de 20 gays (que se tem notícia, é claro).
Eu imagino que o problema não esteja exatamente na sexualidade do indivíduo, mas na forma como o indivíduo se comporta e a maneira como ele quer colocar sua sexualidade goela abaixo dos colegas. Não quero ser tratado como diferente, portanto, me comporto de maneira uniforme, falando acerca da minha sexualidade, mas não dando detalhes da minha vida íntima, tampouco fazendo da minha empresa meu personal gay pride.
Ainda acredito que respeito se conquista e não se impõe... espero estar certo disso...

Luciano disse...

@Marcos Rocha:
Faço minhas suas palavras. Eu talvez seja um caso raro de pessoa que nunca se sentiu vítima de discriminação em toda a vida; sempre fui muitíssimo respeitado e me senti muito querido em todos os meus trabalhos. Atitude conta muito sim.
Abraço,
**

Roberto disse...

Amigos, me desculpem, mas emprego público não é parâmetro para este tipo de discriminação. Como todo mundo sabe, contratações públicas são feitas por concurso, onde o fator decisivo é uma prova, e não uma entrevista. Além disso, funcionários públicos não podem ser mandados embora sem um motivo muito forte. O serviço público tem uma proporção muito maior de gays exatamente por causa desses fatores.
Eu nunca me senti vítima de discriminação no trabalho porque escondo minha sexualidade dos outros no escritório. Mas percebo a dicriminação velada e não-velada de gays por parte de meus colegas, e isso me faz mal. Dizer que isso não existe ou que é o indivíduo que impõe o respeito é ser muito ingênuo.

Anônimo disse...

Sou estudante de Engenharia Civil. Estou me preparando para sair do armário. Não sei exatamente em que momento isso vai acontecer, mas vai acontecer, é o próximo grande passo depois da conquista profissional. Porém, fico pensando se seria mesmo uma decisão correta, pois apesar de na minha faculdade (e no meu curso que é "tradicionalmente hétero")existem colegas gays (aquele tipo de gay que não tem como esconder que é gay, sabe) e eu ouço comentários nas rodas de amigos direcionadas a eles. Algumas piadas, algumas observações homofóbicas, coisa do tipo. Inclusive entrou um professor novo que está na cara que é gay. Mas é como disse o Roberto, é emprego público, profissional concursado, alunos gays que entraram na faculdade por mérito próprio, mas no mercado de trabalho o buraco é mais embaixo e a realidade pode ser cruel. Meus colegas acham que sou hétero. Não sei se eu seria aceito se fosse aberto em relação a minha sexualidade. Tenho um pouco de medo do que pode acontecer no futuro, apesar dos avanços. Por exemplo: será que eu seria aceito por uma construtora? Será que seria respeitado pelos operários de obras. Engenheiros, às vezes precisam trabalhar em lugares distantes da cidade onde convivem só com operários. Será que isso não seria um risco para minha segurança? Pois estaria vulnerável... Não sei, tenho reservas quanto a essa questão colocada pelo texto. (Leonardo)

Dan disse...

eu sou assumido no trabalho e já consegui mudar muitas posturas por isso. Hoje a quota gay da empresa só aumenta. ahahah

Gui disse...

Pois é, eu tenho vivido muito isso. Depois de muito matutar a dificuldade de me inserir no mercado de trabalho, mesmo como estagiário, comecei a pensar se isso tem ou não a ver.

Que ainda existe, a gente sabe. O que a gente não sabe é onde. E como.

João Pedro disse...

Ia comentar dois pontos, mas eles já foram perfeitamentes expostos pelo Unknown... É tão estranho, parece que alguém leu a minha mente e postou antes. =p

"Um processo de seleção envolve diretamente muitas pessoas, responsáveis por escolher currículos, entrevistar e analisar resultados e fazer recomendações. Basta que apenas uma dessas pessoas tenha algo contra homossexuais para que todo o processo esteja comprometido. E é impossível provar que existe discriminação na contratação porque o tom é de que houve um processo justo.

Quem é homossexual e esconde isso no trabalho, sempre ouve comentários que mostram o que a maioria realmente pensa. Coisas que ninguém, com exceção dos mais chucros, diria para você se soubessem que vc é gay."

Anônimo disse...

"Conforme a reportagem, "Para saber se uma pessoa é gay em uma entrevista de emprego, não será perguntado se ela é homossexual ou heterossexual, mas sim se é casada e tem filhos" segundo Klecius Borges, psicoterapeuta especializado no atendimento a gays, lésbicas e bissexuais e a seus familiares. "

ALGUÉM ME EXPLICA AS ALTERNATIVAS E OS SEUS INDICADORES? SERÁ QUE SÃO BASEADOS NAS IDEIAS DO PSC?