Ontem finalmente consegui assistir a Shame - o filme sobre um homem viciado em sexo que ficou mais famoso pelos comentários sobre a nudez do Michael Fassbender do que pelo roteiro em si. Eu já sabia que o filme era hermético e meio metido a "filme cabeça", então tentei conter a expectativa e ir sem muita sede ao pote. E gostei muito. Muito mesmo.
Pra começar, não acho que Brandon, o personagem principal, seja viciado em sexo. Eu o vi apenas como um homem de sexualidade exacerbada que adora sexo, como grande parte dos homens normais entre 20 e 30 anos de idade. A atividade sexual frequente não lhe atrapalha a vida e não é a causa de ele não conseguir estabelecer relacionamentos interpessoais de longo prazo. Ele provavelmente não conseguiria construir relacionamentos duradouros mesmo se não gostasse de sexo - para mim são duas coisas diferentes e não necessariamente associadas.
O que faz o Brandon um cara muito interessante é que ele é muito reservado e tímido. Daquele tipo que, no escritório, todo mundo acha que é um bobão. No entanto, ele transa muito mais do que o chefe falastrão metido a gostoso pegador que só espanta as mulheres com seu papo chato de galanteador barato. Um jeito ótimo de mostrar que quem vê cara não vê pinto. Tem muita gente assim por aí, contando loas de conquistador mas que não está pegando nem resfriado, enquanto muito come-quieto faz a festa com a cara de tímido bobinho. Adoro!
Achei fantasticamente bem roteirizadas as cenas em que o Brandon tenta engatar um relacionamento com a colega do escritório. É aí que a gente percebe como as relações interpessoais com base em sentimentos mais nobres podem ser muitíssimo complicadas. Namoro, família, casamento - isto pode realmente ser muito complicado para algumas pessoas, quase inatingível.
Por fim, não tenho dúvidas que relacionamentos puramente sexuais podem ser suficientes para satisfazer uma vida por algum tempo. O problema é que o Brandon, como qualquer um de nós, um dia vai ficar velho e menos atraente, e seu interesse por sexo provavelmente vai diminuir. É aí que os relacionamentos duradouros podem fazer falta. Porque depois dos 60 anos de idade a grande maioria das pessoas muito provavelmente está querendo chegar em casa e encontrar alguém legal para ficar junto e não está mais muito interessada em uma boa transa diferente a cada noite.
Mas o filme não é sobre um velhote de 60 anos querendo alguém para dormir de conchinha. Enquanto se é jovem, bonito, gostoso e cheio de tesão, nada errado em passar o rodo. Ou a rede.