domingo, 8 de maio de 2011

Minha mãe

Minha mãe e eu, no começo
dos anos 60.
Eu não sei dizer exatamente quando percebemos que poderia ser um problema sério, mas logo notamos que minha mãe tossia mais do que o normal, estava constantemente sem fôlego e se cansava muito facilmente. Os primeiros exames revelaram uma mancha enorme no lugar de um dos pulmões. Exames mais cuidadosos revelaram uma fibrose avançada, o pulmão havia se petrificado de forma irreversível. Nunca vou me esquecer do momento em que os dois médicos reuniram-se comigo e meus irmãos em uma salinha e explicaram que não havia muito a ser feito, e que minha mãe provavelmente não viveria mais do que 6 meses.

Isto foi há onze anos. Acho que os médicos não contavam com o fato de que minha mãe decidira que não estava na hora de morrer. Ela se dedicou de corpo e alma às sessões de fisioterapia, começou a fazer caminhadas, mudou a alimentação. Hoje, aos 83 anos de idade, ela continua cheia de vida. Às vezes precisa parar e recobrar o fôlego ao subir uma escada ou fazer um esforço maior, mas não reclama, não lamenta, não se lastima. Ela está muito ocupada em viver para se preocupar com estas coisas menores.

Somos seis filhos e uma infinidade de genros, noras, netos, e agregados. E hoje ela fez questão de organizar mais um almoço de dia das mães. E eu me peguei olhando para meus irmãos ao redor da mesa, e me perguntando se porventura eles teriam algum ressentimento pelo fato de minha mãe sempre ter me tratado como o filho favorito. Foi então que subitamente eu me dei conta que meus irmãos provavelmente estavam pensando o mesmo. Minha mãe soube fazer cada filho se sentir o predileto.

21 comentários:

Pedro Bitencourt disse...

Queria que as minhas tivessem toda essa vontade!!!

não sei... mas também acredito ser o favorito... das duas!!!


Feliz dia das mães pra todas elas!!

Mauricio Fabricio disse...

Adorei o texto.

o idiota feliz disse...

Bonito texto.

Dimas disse...

Como sempre bom texto, trazendo lembranças de minha mãe (que se foi há 18 anos).
Agora, 1:40h. da madrugada, aqui na sala de embarque do aeroporto de Manaus, esperando o voo para Fortaleza, após ler seu texto , é inevitável -chegam as recordações dos almoços de dia das mães.

Saudade...

Marcus disse...

Conheci teu blog através do blog do Toni. É sempre um prazer poder ler bons textos e boas estórias. Me vi refletido no texto na mesma maneira com que me relacionava com minha mãe. Ela sempre me fez sentir o preferido. Claro, isso nunca foi comentado entre irmaos e penso o mesmo que você, cada um era tratado de uma manera única e especial.

Saludos, desde Tenerife.

marta matui disse...

Lindo!

TONY GOES disse...

Nunca tinha ouvido falar de fibrose pulmonar até meu pai ser diagnosticado com ela, depois de 10 na UTI. Ninguém sabia o que ele tinha e os médicos demoraram a descobrir.

Mas, ao contrário da sua mãe, ele achou que estava na hora. Não reagiu ao tratamento e se foi. Amanhã faz 6 anos.

Nao sei como concluir este comentário.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Parabéns a ela e a todas as mamys ...

Daniel Cassus disse...

Meu avô também foi diagnosticado com fisbrose pulmonar (virou epidemia isso?) há uns 11 anos, mas só agora, aos 84, é que ele já começa a sentir a falta de fôlego para fazer as coisas.

Também não sei concluir este comentário. Já podemos fundar uma associação.

CriCo disse...

Eu sou o filho predileto da minha mãe por livre e espontânea pressão: filho único :D

Felix Madah disse...

Aprecieo o seu texto, principalmente o trecho onde citas que sua mãe está ocupada em viver, achei genial. Percebo tantas pessoas relcamando, mas tabém não saem do comodismo! Vamos viver!

Felipe Medeiros disse...

Perfeito!
Ter uma mãe assim é um sentimento que dura toda uma vida! Tenho a honra de ser filho de um ser assim! Feliz Dia Das Mães pra todos nós!
bjO doll

Uma Cara Comum disse...

Ow, que bom q vc tem um relacionamento bacana com sua mãe... Vc e todos os seus irmãos... Pode acreditar q isso não é tão comum...

Abraços!!

Well | Castro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Well | Castro disse...

Lindo texto!

Como sempre um primor, você emociona à todos nós com suas palavras. Saiba que sou imensamente grato por dividir um pouco da sua vida conosco!

Espero que tenha tido um ótimo dia das mães com ela que te criou e incutiu valores tão nobres!

Beijos!

Lobo disse...

Gostaria muito que minha mãe tivesse essa habilidade...

Não dá para ter tudo né? XD

Beijo Lú.

D.a.v.i.d disse...

Meus irmãos acham que eu sou preferido... eu tb!!! rs rs rs, mas ela nega veementemente...

Anônimo disse...

Nossa que lindo, força de vontade mesmo, observo que as mulheres de antigamente são muito mais fortes que as mulheres de hoje, minha mãe é assim.
Saudações a sua mãe e a todas as outras mães guerreiras.

Murillo disse...

Você escreveu esse texto de forma brilhante. Realmente pensei que ela tivesse morrido. O desfecho foi lindo. O texto me surpreendeu duas vezes de forma agradável. Parabéns a você pelo texto e a sua mãe por ter contrariado as expectativas dos médicos.

Anônimo disse...

OU REALMENTE ELA TE PROTEGEU ( MEU CASO) POR SENTIR QUE VC ERA DIFERENTE DOS OUTROS.BEIJO

M. disse...

Hoje estou mais que sensível Luciano e ver no seu relato um retrato de minha própria mãe está me fazendo chorar. Minha mãe também não quer morrer. Isso me deixa muitas vezes humilhada, porque é uma vontade que já tive muitas vezes, morrer. Elas tem uma força que não conseguiremos ter nunca. Nunca.
Abraços.