Aproveito para deixar aqui meus agradecimentos a todos os leitores amigos que se tornaram em amigos leitores e que me têm dado o privilégio da convivência por meio deste blog. Que todos consigamos aprender com as lições de 2012 para transformar 2013 em um ano memorável! Um abraço apertado, um beijo gostoso, e nos vemos em 2013!
O especial Doce de Mãe exibido pela Globo ontem foi apresentado como filme nacional, o que é um bom sinal. Assim talvez a Globo o disponibilize em DVD e o reprise futuramente em uma sessão da tarde, o que não costuma acontecer com as produções apresentadas apenas como especiais de estação. Foi simplesmente deliciosa a história da mãe idosa (Dona Picucha, interpretada por Fernanda Montenegro) cheia de vida que é o centro da preocupação dos filhos que não têm mais tempo para ela. E o especial se despediu do ano fazendo referência a um assunto que marcou 2012: o mendigo magia (aqui interpretado por Daniel de Oliveira, lindíssimo com visual desgrenhado, esfarrapado e sujo - reveja a cena aqui).
O texto leve, bem-humorado e cheio de verdades ditas de forma rápida e casual foi uma preciosidade. Como quando Dona Picucha cochicha com a vizinha: "meu filho mais novo gasta uma energia enorme para ninguém perceber que ele é gay. Mas todo mundo sabe e ninguém está ligando para isto". A relação dela com o filho Fernando e com o namorado dele - que ele insiste em apresentar como "amigo" - rendeu cenas ótimas, como aqui:
Reveja também esta outra cena de Dona Picucha caminhando distraída pela cidade com o discman no ouvido, e tente não se apaixonar por ela.
Não há como entender a realidade do casamento igualitário sem entender uma grandeza física chamada momentum. Momentum de um corpo é, em teoria, o produto da massa pela velocidade, e pode ser melhor compreendido quando comparado com noções simples como o empuxo ou o impulso.
A aceitação do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo atingiu um momentum extraordinário que parece ganhar força a olhos vistos.
Muita gente está começando a perceber que está ficando do lado errado da História. A reação de alguns é o desespero, como é o caso do papa em sua mensagem de Natal. Outros começam a perceber que está ficando cada vez mais difícil remar contra a maré, como o político americano Newt Gingrich, que sempre foi arqui-inimigo dos gays e absolutamente contra a igualdade no casamento, e nesta semana teve que jogar a toalha: "temos que admitir que o casamento igualitário é uma realidade". Quando há massa crítica para manter o momentum, não há força da Natureza que consiga brecar o fenômeno.
As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012) é tudo que A Invenção de Hugo Cabret tentou ser no ano passado e não conseguiu. Uma história cativante com visual estonteantemente belo (até aí o filme de Martin Scorsese também cumpriu o requisito) contada com muita emoção. A emoção que faltou em A Invenção de Hugo Cabret, um filme frio, transborda em As Aventuras de Pi, que tem produção calorosa e emocionante.
O diretor Ang Lee parece estar se especializando em tirar leite de pedra. O Segredo de Brokeback Mountain era um conto de quinze páginas que podia ser lido em uma sentada de menos de meia hora. Ang Lee e sua equipe o transformaram em uma história sublime de amor e renúncia sem deturpar o original. Imagino que com As Aventuras de Pi não deva ter sido muito diferente. Embora eu não conheça o livro que inspirou o filme, é preciso muita habilidade para que tão poucos elementos rendam na tela uma história tão instigante e tão linda visualmente.
Eu tinha lido muitas críticas positivas do filme e fui ao cinema com a expectativa de assistir a um dos filmes mais bonitos do ano. Saí da sala com a certeza de ter visto um dos filmes mais bonitos da década.
Uma movimentação de placas tectônicas no fundo do mar perto da meia noite do dia de Natal de 2004 provocou uma onda gigante que atingiu 14 países e matou cerca de 260.000 pessoas na manhã seguinte. A Tailândia foi o país mais atingido, e nenhum filme vai conseguir mostrar as dimensões reais desta tragédia épica que é considerada um dos maiores desastres naturais de todos os tempos. O Impossível foca na história de uma família inglesa de cinco pessoas em férias em um resort tailandês durante o tsunami, e se baseia na história real de uma família espanhola que sobreviveu à tragédia.
O filme é impressionantemente chocante, e há muito tempo eu não via uma plateia assistir a um filme no mais absoluto silêncio; tanto que nos momentos mais tensos era possível ouvir a respiração nervosa do espectador do lado. Em poucos minutos a história apresenta a simpática família chegando à Tailândia para as férias (Naomi Watts, Ewan McGregor e três garotinhos lindos com desempenhos bastante convincentes), atravessa os festejos do dia de Natal, e chega à manhã ensolarada do dia 26 quando estão se divertindo à beira da piscina e são subitamente pegos pelo que parece ser o fim do mundo.
A partir daí o filme foca na tragédia pessoal desta família na luta por sobreviver a algo cuja dimensão é impossível de se avaliar, e principalmente na busca pelos outros familiares em uma região do país completamente destroçada.
O diretor espanhol Juan Antonio Bayona optou por descrever uma saga familiar, e acertadamente não caiu no erro de tentar explicar uma tragédia de dimensões incompreensíveis. O impacto e a desorientação pela tragédia são tão grandes que ninguém questiona o quê está acontecendo. É quando o ser humano volta àquele estágio mais primário da vida onde o essencial é apenas reunir forças para se juntar aos seus e continuar vivendo.
Um conselho: não esqueça de levar um lenço. Bem grande. Eu esqueci o lenço em casa e acabei encharcando o carpete do cinema. Mas o filme valeu cada lágrima.
Apesar de não ser religioso, acho o Natal uma época bacana. Tirando o excesso de fofurice das mensagens cheias de frases de autoajuda que todo mundo se acha na obrigação de divulgar nesta época, o resto é muito bonito. O desejo das pessoas se encontrarem, o hábito de presentear quem se gosta, os ajuntamentos familiares, as comidas especiais. O Natal serve como uma espécie de balanço do ano, e como a origem da festa é o aniversário da chegada do profeta dos cristãos, a data é normalmente associada à paz, ao perdão, ao amor, ao recomeço.
Por isto é de se estranhar muito que a mensagem natalina oficial do papa, a autoridade suprema dos católicos, tenha vindo carregada de preconceito, de ódio, e de acusações. Mais uma vez o papa aproveita para destilar todo seu preconceito homofóbico sobre os cidadãos homossexuais e culpá-los pelas tragédias do mundo. Justamente o papa, o chefe de uma organização que proíbe a formação de famílias e que está atolada até o pescoço em acusações de pedofilia, se acha no direito de defender a família apontando o dedo para os homossexuais.
Uma informação interessantíssima e superútil que aprendi em Eastsiders é que, para um casal gay, um gato corresponde a mais ou menos 2,8 filhos.
Eastsiders é a nova série sobre relacionamentos gays que está bombando na internet. Dois episódios já foram lançados e os outros estão vindo por aí. O primeiro episódio pode ser visto aqui, e o segundo aqui. E o trailer está aí embaixo. Programão para quem estiver achando este feriado um saco. Eu recomendo.
Mas eu vejo alguns pontos que merecem reflexão: relações extra-conjugais intra-familiares acontecem no Brasil desde o dia em que Cabral aportou nestas terras. Relações extra-conjugais intra-familiares com familiares de sexo diferente também. A diferença é que no futuro mais pessoas devem ter coragem de assumir este tipo de relação. Não é fácil para ninguém envolvido, mas no futuro a filosofia do "eu vou ser feliz e o resto que se foda" deve ganhar muito mais adeptos. Este caso certamente daria um bom filme.
É uma grande conquista e me faz sentir muito melhor. Muita gente não entende isto, e julga que a medida só tem importância para quem pretende se casar. Não poderiam estar mais errados. A luta por direitos não pode ser limitada pelo egoísmo do interesse apenas pelos direitos que pretende usufruir. Eu nunca QUIS casar. Mas eu sempre quis PODER casar. Agora eu tenho escolha.
2012 termina em duas semanas. O ano que foi o último de Whitney Houston, de Donna Summer, e de tantas outras personalidades deve mesmo ficar conhecido como o ano em que o mundo não acabou. E esta é aquela época em que as pessoas começam a fazer listas retrospectivas - talvez para se certificarem que valeu mesmo a pena ter passado por mais estes 365 dias.
Eu já não tenho muita paciência para ler listas dos melhores disto ou daquilo no ano, mas sempre aguardo com ansiedade a montagem de filmes do genrocks, que tem edição primorosa e é realmente uma obra de arte. Ele consegue roubar as cenas dos filmes e fazer algo novo que ultrapassa o conceito de simples colagem. Filmography 2012 é uma nova viagem.
Os deputados do Uruguai aprovaram ontem a lei da igualdade no casamento. Exatamente os mesmos direitos e obrigações, com os mesmos nomes. A lei agora vai para apreciação do senado, onde não deve encontrar nenhum empecilho, e estima-se que esteja em vigência já no começo do próximo ano. Agora, o mais impressionante: dos 87 deputados, 81 votaram a favor!! Exemplo ótimo de homens públicos que legislam para a população e não em causa própria.
No mesmo dia, no Brasil, país situado ao norte do Uruguai e tido como potência do futuro, o projeto que muda a resolução do Conselho Federal de Psicologia para institucionalizar a "cura gay" recebeu aprovação do relator, deputado Roberto Lucena (PV-SP), e continua avançando no Congresso Nacional.
Somos muitos, e somos muito diferentes. Alguns têm a sorte de viver em lugares mais civilizados como o Canadá ou a Dinamarca, outros têm que lutar a cada dia para sobreviver em Uganda ou no Marrocos. Mas, em muitos aspectos, somos muito parecidos. Quase iguais.
Esta é a conclusão a que chego ao olhar este trabalho maravilhoso da fotógrafa Maika Elan, que passou um ano fotografando casais gays no Vietnã. Foi há apenas três meses que o Vietnã viu a primeira parada gay de sua história, quando aproximadamente 100 pessoas desfilaram pelas ruas de Hanoi de bicicleta.
As fotos são lindas. Em cada detalhe, uma história. Em cada rosto, uma batalha. Veja aqui.
A luta pelos direitos dos homossexuais é o lance atual da eterna guerra pela garantia dos direitos humanos. Os avanços conquistados nos países mais civilizados do planeta têm sido mais rápidos e mais abrangentes conforme a população que apóia os homossexuais cresce e prevalece sobre a parcela conservadora cada vez menor.
A Suprema Corte dos Estados Unidos anunciou hoje que analisará no próximo ano dois casos relacionados com os direitos dos gays. A notícia está sendo bastante comemorada. Ser escolhido para análise pela Suprema Corte nos Estados Unidos é mais ou menos como ganhar na loteria. A Suprema Corte elege pouquíssimos casos para serem analisados, e as decisões são normalmente históricas. Ninguém pode prever o resultado, principalmente se tratando de uma Corte que normalmente toma decisões conservadoras, mas pela velocidade com que a população americana tem abraçado e aceitado a igualdade dos gays, é muito possível que a Suprema Corte surpreenda com uma decisão iluminada. As matérias serão examinadas possivelmente em março, e as decisões deverão ser conhecidas no final de junho.
E no Brasil o caso da agressão covarde ao André Baliera teve, pela primeira vez, um tratamento diferente do que vinha acontecendo a acontecimentos deste tipo até então. Houve uma indignação generalizada, um apoio maior da imprensa (o fato continua notícia de destaque quase uma semana depois), uma condenação sem ressalvas das atitudes homofóbicas, e uma certa sensação de que agora chegamos ao limite. Até o blog da Folha Para Entender Direito, ótima fonte que sempre explica fatos do momento sob uma perspectiva jurídica, aproveitou para explicar hoje porque os dois agressores estão absolutamente ferrados e sem saída ao discorrer sobre como a lei enxerga a teoria das reações razoáveis e proporcionais. Vale a pena a leitura.
No primeiro dia de expedição de licenças de casamento para casais do mesmo sexo no estado de Washington após a recente aprovação da lei, algumas fotografias contam histórias emocionadas. Em cada rosto os sinais de quem tem vivido batalhas diárias há vários anos. Até o ativista Dan Savage, que já havia casado com o maridão Terry Miller no Canadá em 2005, apareceu para oficializar a união em seu estado.
Um documentário super hiper mega blaster legal sobre a nova geração gay do Brasil. É esta garotada que vai mudar este país e não tem nenhum bispo homofóbico que segure esta onda.
Nos dias de hoje parece não existir mais limites para as "pegadinhas" que os programas de TV ou rádio inventam na busca por audiência. A última delas foi feita por dois apresentadores de um programa de rádio da Austrália que telefonaram para o hospital onde Kate Middleton está internada e se passaram pela rainha Elisabeth e pelo príncipe Charles. Impressiona a facilidade com que eles obtiveram informações sobre o estado de saúde da paciente, e é visível a emoção da enfermeira chefe ao falar com a "rainha". E, é claro, as imitações ficaram muito engraçadas, com direito aos reais cães corgis latindo ao fundo.
O hospital confirmou o acontecimento e se desculpou por ter caído em uma pegadinha tão boba.
Só agora a história foi revelada, mas em outubro último, a futura rainha da Noruega, Princesa Mette-Marit, que já vive em um mundo parecido com o de um conto de fadas, resolveu agir como a própria fada-madrinha. Muito amiga de um casal gay que trabalha no palácio real, Mette-Marit também estava super animada com o filho de barriga de aluguel que o casal logo conheceria. Os bebês gêmeos nasceram antes do tempo e estavam sozinhos em uma maternidade da India, e os pais impossibilitados de viajar com urgência. A notícia pode ser lida aqui e aqui.
Mette-Marit não pensou duas vezes. Usou seu passaporte diplomático e pegou o primeiro avião para a India. Apresentou-se no hospital como babá das crianças com uma procuração dos pais, e ali passou vários dias cuidando dos bebês até que a nova família pudesse chegar. Ninguém ali sabia que ela era uma princesa de verdade, e na Noruega sua viagem foi mantida em segredo.
Mette-Marit é casada há dez anos com o Príncipe Haakon Magnus e têm dois filhos.
Poucas histórias conseguem ilustrar tão bem o significado de uma amizade verdadeira.
Meus pais têm 166 anos (83 cada) e, obviamente, nos preocupamos muito com eles. Quando ligo lá e ninguém responde, normalmente espero uns vinte minutos e ligo novamente e, se continuo sem resposta, começo a ligar para meus irmãos e um vai ligando para o outro numa espécie de teia até descobrirmos o que está acontecendo. Normalmente minha mãe estava no portão conversando com alguma vizinha e não ouviu o telefone enquanto meu pai tirava uma soneca. Mas, é claro, como somos dados a um melodrama, normalmente já imaginamos os dois caídos no chão estrebuchando sem conseguir se levantar.
Eles têm a mesma idade da Fernanda Montenegro - embora não tenham a mesma vivacidade, e também a mesma idade que tinha a Hebe Camargo. Talvez por isso eu tenha me identificado tanto com a entrevista da Fernanda publicada na Folha de hoje. Na entrevista ela conta esta mesma história da preocupação dos filhos, que a gente pensa que os pais não percebem ("Quando toca o telefone e não atendo logo, um telefona pro outro, que telefona pra produtora, que telefona pro secretário. E eu só estava no banho. Como amor de filho, isso me toca."). Ela fala também sobre a realização de estar na fase conclusiva da vida, e a dor de ver sua geração toda morrendo.
Mas o que mais me chamou a atenção foi sua posição tão precisa sobre a idealização que costumamos ter da infância. "Criança sofre muito. É todo um processo de civilização, de coerção e de enquadramento em cima delas. E isso é uma agressão violenta. Quando ouço alguém dizer que a infância foi a parte mais feliz de sua vida, olho com muita desconfiança. Deve ter sido tão terrível que nem se lembra." Li isto várias vezes e a ideia não me saiu da cabeça. Todos costumamos ter uma memória afetiva muito forte da infância, mas, principalmente para um indivíduo gay, o processo de tentativa de conformação na infância deixa marcas profundas para toda a vida.