quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Aparecida

Todo mundo deveria visitar Aparecida pelo menos uma vez na vida. É uma experiência surreal. Quase traumatizante.

Eu estive lá duas vezes com o objetivo de fotografar. Imaginei que fosse flagrar instantâneos inspirados que resultariam em belas fotos. No final das contas acabei fotografando pouco, justamente por falta de inspiração. Tudo naquele lugar é feito para deprimir e lembrar a dor, o sofrimento e a expiação. Todo mundo tem cara de muito pobre e que está sofrendo muito. A cidade é muito feia e muito triste. A arquitetura da basílica é pavorosa.

Vendedora de santinhos em Aparecida
No subsolo da basílica tem a sala dos milagres, onde as pessoas deixam lembranças que evocam as graças alcançadas em nome da santa. São centenas de pernas, braços, mãos e outras partes do corpo, moldadas em plástico, dependuradas balançando. Bilhetes, retratos antigos, muita flor de plástico, frascos de remédio vazios, muletas, bengalas... e o povo circulando entre aquilo com o olhar em transe perdido no espaço. Crianças vestidas de anjo correm para todos os lados.

Eu procuro respeitar as diferentes formas de fé, desde que não menosprezem a minha inteligência. No meu caso, uma visita a Aparecida serviu para reforçar a minha visão de exploração da fé pela religião. Eu imaginava que fosse encontrar algo mais parecido com a visão religiosa do céu, mas o que eu vi me lembrou muito mais a descrição do inferno. A fé das pessoas que frequentam aquele lugar dá a elas uma visão totalmente diferente da minha, obviamente.

Sair de baixo da bolha que determina a nossa zona de conforto pode ser uma experiência muito proveitosa para entender melhor o nosso redor.

23 comentários:

Daniel Cassus disse...

Salvo engano, esses membros de plástico em agradecimento a curas milagrosas se chamam "ex-votos".

Anônimo disse...

Excelente post! Mas, apesar da presença negra (a santa em questão), senti falta da presença gay no seu comentário. Nenhuma boate na cidade? Nenhuma sauna? Nadinha?

DPNN disse...

como já dizia o grande linguista Saussure, "o ponto de vista cria o objeto".

Alfredo disse...

Fui umas duas vezes quando criança com a minha avó, então minha visão é dessa época. Precisaria voltar agora para avaliar novamente.
Engraçado como essa prática dos ex-votos é antiquíssima. Quando visitei a Grécia, vi nos museus várias partes de corpo que as pessoas também ofereciam aos deuses como agradecimento por curas.

Thiago Lasco disse...

Com o perdão do trocadilho, "cruzes!"

TONY GOES disse...

A basílica de Aparecida é um dos prédios mais feios que visitei na minha vida, ao lado da Daslu em SP.

marta matui disse...

"Experiência traumatizante" é uma excelente definição para aquilo...

Fernando disse...

Aparecida do Norte está mais para Catedral de São Pedro quando eu lembro de um lindo lugar que eu visitei: Juazeiro do Norte. A cidade é praticamente o argumento em tijolos do "A religião... é o ópio do povo!".

Anônimo disse...

e todo mundo sabe que a santa nao era negra, estava apenas suja de foligem pelo tempo embaixo da agua e fizeram uma santa negra para limpar a cara da igreja pela grande omissao em relacao a escravatura no brasil.

Anônimo disse...

O Santuário de Nuestra Señora de Guadalupe, no México, também é assim e mesmo a Catedral de São Pedro, em Roma, não fica muito atrás, apesar de estar num prédio mais bonito.
O nível educacional dessas pessoas é muito baixo, e elas reamente acreditam nisso, devemos respeitar. O que esse tipo de lugar ensina é que a determinação e fé ajudam a superar obstáculos. Existe toda uma indústria/comércio local que explora isso, mas sem sombra de dúvida, é melhor do que um pastor evangélico que exige dízimos de seus fiéis todo domingo.

Luciano disse...

Pessoas pobres, sofridas, precocemente envelhecidas pelo trabalho árduo e buscando conforto na fé: Aparecida é a cara do Brasil. Achei o seu texto um tantinho preconceituoso, de quem esperava, sei lá, encontrar uma Catedral de Granito e mármore, decorada com ouro, feito algumas igrejas européias, mas encontrou algo completamente diverso.Enfim... Eu assisti uma missa dentro daquela igreja e me emocionei com as pessoas pobres cantando afinadinho o hino da padroeira. Beleza não é só plástica e aparência exterior e as experiências são diversas.

Anônimo disse...

Lidar com a feiúra, a dor e a miséria alheias tambem pode ser uma forma de crescimento humano. Nem tudo é belo e a exploração economica não se estende à religiões apenas.

Thiago de Assumpção disse...

gostei da postagem.. muito boa...

Lucas disse...

Excelente post. Aparecida está no TOP 10 lugares que eu JAMAIS vou pisar.

Alexandre Lucas disse...

Quase? Traumatizante!

Dimas disse...

Quando criança na minha pequena cidade de S.José dos Campos, quando ainda nem tinha luz elétrica e água encanada na minha rua- as romarias para Aparecida eram esperandas por todos.

Minha mãe tinha uma promessa de todos os anos visitar Aparecida, e eu gostava de ir mais interessado nos brinquedos pendurados nas barracas de rua - do que na chatice das missas que nunca acabavam .

E naquela época , tinha 07 ou 08 anos, já sentia a energia pesada e triste da cidade, voltava sempre chateado da viagem anual.

E o sofrimento sempre presente nos rostos sofridos, enrugados precocemente?

E a fé cega, na estória criada para fazer aquela cidade horrorosa se tornar conhecida em todo o Brasil?

Por isso , mais uma vez Luciano, assino em baixo...

Anônimo disse...

tem lugares religiosos bem mais feios nessa America Latina... também visitei Aparecida algumas vezes e gostei da basílica, nem tudo lá é tão feio e tão triste. Acho que depende do estado de espírito da gente. Ja á Fé, esta é cega

coisas e coisas disse...

Não aquilo lá não é o roteiro de Roque Santeiro como sugerem alguns comentários tendenciosos.

Exploração sempre aconteceu dentro e fora da religião, não à toa cunhou-se o termo "o homem é o lobo do homem". Igreja (católica) já foi o cão em outros tempos mas hj não tá mais c/ essa bola toda, evangélicos puxaram muito do poderio original, logo é muito simplista jogar tudo no colo da religião e dizer que são todos, todos, todos hipócritas, extorquidores... Nem tão à terra, nem tão ao mar. E se alguem realmente obteve bençãos e curas? São experiencias pessoais e intransferíveis, não são? E se a gente deixasse essa gente "sofrida" e "enganada" em paz da mesma forma que queremos que eles nos deixem?

E se?

Uma Cara Comum disse...

Ultimamente, estou dispensando esse tipo de experiência...

Papai Urso do Interior disse...

Não faz mal, gosto mesmo duma gente diferenciada, um dia ainda vou por lá me perder no meião dessa gente humilde (que vontade de chorar). Saindo um tercinho em desagravo ao emperramento satânico da PLC-122, um dia desencalha, mas c/ uma forcinha up in the heaven fica mais fácil SEMPRE.(...)Me dê a mão, cuida do meu coração, da minha vida, do meu destino, do meu caminho, CUIDA D MIM(...)

Estoy pronto p/ conocer el paredón del fuzilamento em ...4, ...3, ...2, ...1!!

Anônimo disse...

A casas de sexo e os cinemas pornôs também são muito feios e sujos. Mas tem gente muito rica que também vai e gosta muito.
Vai entender, né?

Anônimo disse...

"Tivesse a vida pra escolher, e era talvez ser DISTRAÍDA o que ela mais queria ser..."
KKKKK! Adoro essa ingenuidade!

Anônimo disse...

Concordo com a questão da exploração da fé! é um dos maiores pregos da cruz!
Mas no que se refere a arquitetura, acho que vc não teve uma experiencia boa! Dez anos atras era sofrível o que se via, realmente! Mas recentemente vem sendo feito um trabalho riquíssimo em simbologia, feito pelos melhores artistas sacros contemporâneos que se tem no Brasil!
Abraço!