quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Tony e Kevin


Eles formam um casal tão bonito que até dói. Fizeram um casamento lindo à beira do lago e emocionaram a família toda com leituras de passagens inspiradoras que tinham a ver com eles - incluindo trechos dos livros do Harry Potter. O casamento foi há quatro meses e agora Tony e Kevin vão ser felizes juntos. Eles parecem um casal de cinema, mas esta é a vida real.


Fala que eu te escuto

Eu fiquei completamente transtornado depois de assistir a este vídeo do Jean Wyllys ontem na Câmara combatendo a proposta da bancada evangélica de instituir a "cura gay" oficialmente como tratamento psicológico no Brasil. É um alento e um grande orgulho ver o Jean se posicionando de forma tão incisiva e afirmativa, mas eu me revolto com a infâmia dos canalhas travestidos de defensores da moral que insistem em afirmar que eu sou uma aberração. Eu me revolto com a necessidade de reafirmar o óbvio e com a torpeza destes pastores desprezíveis. Eu me revolto cada vez que me lembro que é o meu próprio dinheiro suado que sustenta na política estes canalhas da pior espécie.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Café


Tem gente que quando está precisando de consolo espiritual procura uma igreja. Eu sou do tipo que procura um café. Adoro tomar um café bom em um lugar gostoso com bom serviço. Recalibro minha alma, acalmo meu espírito - o tempo para. É o meu templo.

É difícil entender como existem tão poucos lugares bons para se tomar café em um país como o Brasil. Talvez nem todo mundo consiga entender o ritual envolvido no processo e todos os pequenos detalhes indispensáveis. Hoje fui conhecer o Grão Espresso e deparei com o primeiro grande erro ao me acomodar na cadeira e ser saudado com um "tem que fazer o pedido no caixa!". Fazer o cliente se levantar a cada vez que precisar de um copo d'água ou quiser mais um pão de queijo é um verdadeiro pecado. Têm um café passável, mas não entendem nada da liturgia de como servi-lo.

O melhor café que já tomei no Brasil é o da marca Fazenda Pessegueiro, atualmente servido no Havanna. É incomparável no aroma e no sabor. Também gosto do Nespresso que é servido no Brou'nē (franquia de Campinas que começa a se espalhar pela região sudeste) e do café illy que aqui em São José dos Campos é servido no café da livraria MaxSigma. São do tipo que se toma rezando.

Há duas semanas em Buenos Aires fui conhecer o famoso Starbucks que se espalhou por toda a cidade no último ano mais rápido do que notícia ruim. Está em quase toda esquina da cidade. Não será surpresa se os centenários Café Tortoni ou Café La Junta virarem Starbucks nos próximos meses. O Starbucks tem um café delicioso, mas peca pela infalível eficiência americana. É tudo na base do self-service (que não combina com café) e não usa xícaras de louça mas copos de papel encerado - um sacrilégio suficiente para condenar direto ao inferno. Café tem muito mais a ver com a relativa desorganização dos franceses e dos italianos do que com a inabalável eficiência dos americanos.


domingo, 25 de novembro de 2012

Sexo onde não tem sexo

Hoje em dia quase todo mundo fala inglês mais ou menos, o que é bom. Jornalistas podem dar notícias em primeira mão, ler jornais estrangeiros, enfim estar mais por dentro de tudo. O problema é quando o "mais ou menos" atrapalha.

O Globo de hoje traz reportagem com Jane Fonda com o título "Aos 75 anos Jane Fonda diz gostar cada vez mais de sexo". Logo após fazer todo mundo pensar em sexo, uma declaração da atriz: "Dilma, você é meu tipo de mulher". Pronto, está feita a besteira.

O que Jane Fonda disse na entrevista foi, na verdade, "Dilma, you're my kind of woman", que quer dizer "Dilma, você é das minhas!" - expressão usada para indicar aprovação e identificação, sem nenhuma conotação sexual.

Então, calma gente. A Jane Fonda não quer levar a Dilma para a cama. Ela fez um grande elogio à presidente, mas não uma cantada. E O Globo publicou uma grande besteira.

Que falta que faz um terremoto

Agora é oficial: estou órfão de novelas e passando por uma crise de abstinência grave. Sempre gostei de novelas. Gosto de acompanhar as histórias, sofrer junto, ouvir as pessoas conversando na rua como se os personagens fossem seus parentes. Mas, logo depois de uma safra de boas produções que colocou no ar Avenida Brasil e Cheias de Charme ao mesmo tempo, parece que a Globo perdeu a mão.


Lado a Lado é bonitinha e tem uma reconstituição de época muito bem cuidada. É a única que eu consigo assistir de vez em quando, mas mesmo assim sem nenhum compromisso. Fico um pouco irritado com a liberdade de os personagens de cem anos atrás se portarem e falarem como se estivessem nos dias de hoje. As mulheres são liberadas e independentes demais, e as crianças no colégio usam mochilas nas costas!!! Gente, mochila nas costas não se usava nem na minha época de escola, e eu nem sou tão velho assim.

De Guerra dos Sexos não dá pra se falar nada. A novela parece ser simplesmente uma sucessão de cenas com o Tony Ramos gritando ou o Edson Celulari todo descomposto e atrapalhado. Simplesmente insuportável.

E o quê dizer de Salve Jorge? É cheia de boas intenções que não funcionam. Quem ainda aguenta ver a Neusa Borges fazendo o mesmo papel pela enésima vez? É um déjà vu ruim. E tem muita coisa chata ou mal feita. O papel da Betty Gofman chega a ser constrangedor. A única solução viável seria promover um terremoto matando 90% dos personagens e tentar começar de novo.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pré conceito

Para quem nunca teve contato com o preconceito, um aviso: é um sentimento que pode ser muito mais odioso do que se imagina. Dois eventos desta semana podem dar uma dimensão exata da extensão que o preconceito pode alcançar.

O primeiro vem da Itália e aconteceu durante um jogo de handebol. Um jogador aproveitou a proximidade e tascou um beijo no oponente para desestabilizá-lo. A reação ao beijo é tão instantânea, tão forte, tão violenta - que assusta. O jogador ofendido na sua masculinidade precisa baixar as calças e mostrar o pau para garantir que ainda continua macho. Tem gente assim com a masculinidade tão tênue que acha que pode virar gay por contágio.


O segundo momento foi no show do Russell Brand. Se você ainda não conhece Russell Brand, o ex-marido da Katy Perry, busque outros vídeos no YouTube e morra de rir. Ele tem um raciocínio rapidíssimo, fala o que dá na telha, é muito engraçado, e apesar da aparência bizarra tem um jeito super doce de tratar as pessoas. E um sotaque britânico apaixonante! Pois bem, ele convidou dois brutamontes da Westboro Baptist Church para participar de seu programa, e ao final de toda a sandice que eles disseram, Russell Brand traz ao palco vários amigos gays para dividir a atenção com os dois brutamontes preconceituosos, criando uma saia justa proposital quase explosiva.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Presentão do Christopher Dallman

O Christopher Dallman tem aquele tipo de voz talhada para falar direto ao coração. Eu já curto este cara de montão há tempos, mas não vou falar muito dele para você não perder tempo porque começando neste exato momento, e somente durante esta semana em que se celebra o Dia de Ação de Graças, ele está oferecendo todos os discos dele para download digital absolutamente de graça no site oficial. Clique em cima da capa do álbum que deseja baixar, e ele só vai pedir para você fornecer seu e-mail para enviar as instruções de download e para que ele envie notícias musicais de vez em quando.

Se você ainda tem alguma dúvida se vale a pena, veja os clipes de Over My Head (em que ele contracena com o próprio maridão) e de Ghosts. E corra lá, que este presentão vai acabar logo.


Curta!


Irlanda do Norte, Austrália, França, Estados Unidos, e Canadá são os países de origem destes seis curta metragens que - como diz a reportagem da Out - todo homem gay deveria ter assistido antes de crescer. A forma como a homossexualidade é descoberta na infância vai praticamente determinar como tudo vai acontecer dali pra frente. Na foto, uma cena de Oranges.

domingo, 18 de novembro de 2012

Diversidade


Uma semana depois de ter participado da minha primeira parada gay, ainda estou digerindo a experiência. Eu tinha uma ideia diferente antes - a noção de que era mais importante dar mais visibilidade aos participantes com caras mais convencionais, embora a imprensa sempre preferisse ir atrás dos participantes mais exóticos e chamativos.

Foi quando vi as travestis lindas e exuberantes que percebi que elas representam o ápice do movimento - a ponta do iceberg que fica fora d'água. São elas que mais contribuem para diminuir a sensação de estranheza frente ao diferente, para apresentar a diversidade em sua forma mais clara e sem disfarces. É como em um desfile de moda em que as modelos desfilam roupas extravagantes que ninguém usaria na rua, mas que servem para representar os traços fortes da tendência do autor.

Vi crianças pequenas e famílias querendo ser fotografadas junto delas e sendo atendidas com toda a paciência e educação. Um gesto bonito e cheio de significado, das duas partes. Depois de algumas horas de festa parece que as diferenças tinham desaparecido. Éramos todos só seres humanos.

sábado, 17 de novembro de 2012

Peru com brilhantina

Agora só falta a Tracey Thorn também lançar um álbum de músicas de Natal para este se tornar oficialmente o fim de ano com maior número de lançamentos de discos de músicas de estação de toda a história da indústria fonográfica. Peraí, a Tracey Thorn já lançou o disco natalino no mês passado!

Este Natal da crise já é o mais movimentado no setor de lançamentos de músicas de estação. E a cereja do bolo é o lançamento do CD natalino do John Travolta com a Olivia Newton-John. O disco não escapa do óbvio e assumidamente brega com um setlist bastante previsível (tem Baby, It's Cold Outside, Auld Syne Lang, White Christmas, Silent Night, e I'll Be Home For Christmas entre as treze faixas). A novidade fica por conta da reunião da dupla quase 35 anos depois de Grease - Nos Tempos da Brilhantina transformando as canções de Natal em deliciosos duetos e das participações muito especiais de Barbra Streisand, James Taylor e Tony Bennett. Tradicional, previsível, careta, e inesquecível, como devem ser os Natais.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Casal real


É muito bom sinal o fato de o embaixador da Bélgica Josef Smetz ter feito a apresentação formal de seu marido Cristophe Degraeuwe aos diplomatas durante a cerimônia de posse em Brasília no começo da semana. Eles vivem juntos há mais de três décadas e estão oficialmente casados há 9 anos. A apresentação foi precedida de uma sondagem ao Itamaraty para evitar ferir suscetibilidades - afinal, a especialidade dos diplomatas é exatamente evitar melindres.

O Itamaraty sempre foi das agências mais abertas do governo brasileiro em relação a costumes. Formado normalmente por funcionários de nível intelectual alto e experiência com culturas diversas, o próprio Itamaraty costuma facilitar que funcionários homossexuais transferidos para outros países sejam acompanhados de seus parceiros.

Para mim, a exibição de casais reais como Josef e Cristophe é o melhor argumento que se pode utilizar no combate à homofobia. Já é tempo de no Brasil as celebridades da mídia televisiva também comparecerem aos eventos de mãos dadas com seus cônjuges como já é relativamente comum nos Estados Unidos, e que parem de perder tempo desmentindo rumores óbvios. Dariam grande visibilidade ao sentido de orgulho com um simples gesto, e nem precisariam dizer uma única palavra.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Confissões de um homem suave

É até irônico que na mesma semana em que a Veja publica um artigo homofóbico lamentável, a revista Época traga um artigo agradecendo aos gays por tudo de bom que têm feito pelos homens heterossexuais assinado por Ivan Martins, jornalista e editor-executivo da Época, um homem suave.

 

Homo sapiens

Dos pontos de encontros para homens gays eu sou do tipo que prefere sauna a boate. Não sou da noite, gosto de dormir cedo, prefiro papo a música alta, e não me impressiono por carão em roupinha de grife. Sem contar que na sauna what you see is what you get.

Aqui em Buenos Aires já conheci várias saunas. Todas têm um aspecto decadente como a cidade. Mesmo as que tinham uma cara melhorzinha como a Full Spa estão atualmente gritando por socorro.

Ontem fomos conhecer a Homo Sapiens, na rua Gascón, em um lugar tranquilo de Palermo. Estava super curioso quanto à frequência, que é o que normalmente define a atmosfera do lugar. A Energy Spa, por exemplo, é frequentada por homens mais velhos com cara de casados fazendo arte escondido e a Full Spa é frequentada por garotões sarados que nem te enxergam se você tiver mais do que um grama de gordura no corpo e não tiver sinais de modernidade como brinquinhos e tatuagens.

A Homo Sapiens me surpreendeu pelo ecletismo. É feia na entrada, que mais parece a bilheteria de um cinema velho, e o bilheteiro tem cara de quem já estava morto há algum tempo. Depois atravessa-se umas cortinas de palco vermelhas que dão acesso ao bar. Para quem está chegando pela primeira vez, tudo parece muito estranho.

Depois que a gente se acostuma com o labirinto de corredores, escadas e passarelas (pareceu-me que eram várias casas que foram sendo emendadas), dá pra começar a curtir o lugar. E aí a surpresa: é realmente a sauna mais eclética que eu já vi. Tem homens maduros, garotões, muita gente absolutamente normal - num movimento incrível o tempo todo. O pessoal é simpático, receptivo, e o ambiente do bar é ótimo para um bate-papo assistindo a videoclipes projetados em um telão. A diversidade da fauna com tantas tribos convivendo juntas sem divisões torna o lugar mais interessante

Nestas horas, ser estrangeiro carne nova no pedaço é uma grande vantagem. Conversei com gente interessante, diverti-me bastante e relaxei nas sanas seca e a vapor para curar o corpinho das longas caminhadas dos últimos dias. Saímos de lá renovados.

 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Cabrón de mierda

Devo ter sido uma das poucas pessoas que gostou do artigo do J. R. Guzzo publicado na revista Veja de domingo passado. Por que o artigo é tão ruim, tão mal escrito, tão imbecil, tão incoerente, tão errado, tão preconceituoso, tão ilógico - que funciona de forma contrária à pretendida pelo autor, e ninguém precisa ser um gênio para perceber isso.

Estou achando que ele usou ironia e sarcasmo para chamar a atenção para a luta pelos direitos civis dos gays. Afinal, um jornalista do conselho editorial da Abril não deve ser tão burro, idiota e tacanho assim.

 

La prueba

O domingo, dia do meu aniversário, começou com o principal compromisso da viagem: a corrida YMCA-UTN de Buenos Aires. Eu não corro nem para fugir da chuva, mas já acompanhei o Mr. Ed a muitos eventos esportivos de corrida e natação. Já estou familiarizado com toda a dinâmica do processo, e sempre aproveito para exercitar um do meus hobbies favoritos: fotografar gente. Não há nada mais gostoso do que admirar um homem em sua melhor forma.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 10 de novembro de 2012

Marcha del Orgullo

Uma das coisas que mais me surpreendeu foi a quantidade de organizações principalmente políticas participando da Marcha: Juventud Izquierda Socialista, Movimiento Evita, PTS por la Igualdad, Visibilidad Lesbica, e outros mais de vinte nomes. A grande quantidade de famílias com crianças chamava a atenção. Cada organização tem seu tema, sua música - mas a animação era uma só. O tema recorrente era o protesto contra a ingerência da religião no estado. A marcha se organiza na Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, atravessa toda a extensão da Avenida de Mayo, e desemboca na Plaza del Congreso.

A primeira parada do orgulho gay a gente nunca esquece.

 

 

Hoy

Depois da tempestade de ontem que mais parecia o fim do mundo, o dia começa hoje com céu azul e calor. Vai ser um grande dia, e não é só por ser a véspera do meu aniversário.

 

 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Re Re No!

Sendo quase fanático por corridas, o Mr. Ed estava chatiado de perder a Prueba Aerobica de Buenos Aires, que este ano cai exatamente no dia do meu aniversário. Então ele me convidou para comemorarmos meu aniversário no meu restaurante portenho favorito, e cá estamos em Buenos Aires desde ontem.

A surpresa ficou por conta da demonstração contra o governo da presidente Cristina Kirchner ontem à noite. A multidão foi estimada em meio milhão de pessoas, simultaneamente em diversos pontos da cidade. Eu nunca tinha me visto bem no meio de uma multidão tão grande e tão ordeira. Homens, mulheres, idosos, crianças - um mar de gente.

O grito de ordem era RE RE NO! para protestar contra a ideia de re-reeleição da presidente, que começa a tomar corpo entre partidários de Cristina. Por que será que os partidos que nos governam confundem tão facilmente governo com poder?