sábado, 22 de setembro de 2012

Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais

Só na última semana eu li pelo menos três artigos diferentes exaltando a qualidade da música brasileira produzida por volta dos anos 70 e lamentando o vazio musical do presente. Embora eu concorde em parte com todos eles, não posso deixar de notar que todos foram escritos por analistas com mais de 40 anos.

A evolução faz mesmo com que tenhamos cada vez mais dificuldade para entender e aceitar o novo, ao mesmo tempo em que transforma as experiências vividas na mocidade em algo extremamente visceral e profundo. Eu também sou assim. Para mim também a música brasileira do final dos anos 60 até meio dos 80 não encontra paralelo em nada que foi feito depois. Mas meu pai não pensa assim. Nem meu sobrinho de vinte e poucos anos.

Para o meu pai, nada de bom surgiu depois de Lamartine Babo, Noel Rosa, Vicente Celestino ou Francisco Alves. Ele não consegue gostar muito de Elis Regina porque na opinião dele nunca haverá intérprete melhor do que Dalva de Oliveira. A Tropicália ou a Jovem Guarda aconteceram quando a geração dele estava ocupada demais criando filhos. Eles não tinham tempo para estas bobagens de gente jovem reunida com muitas ideias na cabeça e vontade de mudar o mundo. Para eles, era coisa de um bando de desocupados cabeludos com caras de sujos.

Já o meu sobrinho nem havia nascido quando tudo aquilo acontecia nos anos 60 ou 70. Não dá para exigir dele que tenha qualquer relação com aquilo. E, embora achemos que esta garotada de hoje não tem nada na cabeça, esta geração que nasceu no final dos anos 80 já terminou a faculdade, já está casando e tendo filhos. São jovens adultos que sabem muito bem o que querem sim, mas expressam isto de outra forma mais condizente com os tempos que estão vivendo.

Em resumo, período musical realmente relevante e efervescente é aquele que vivenciamos em nossa mocidade, quer ela tenha acontecido nos anos 50, 70 ou no início deste novo século. Por isto é sempre bom analisar qualquer cenário cultural pela relatividade da idade. Conforme envelhecemos, nossa memória afetiva se fixa na mocidade e cria uma efervescência que talvez só tenha existido para os nossos olhos.

8 comentários:

TingLing disse...

Não posso concordar com você Luciano. Até a década de 90 ainda havia um certo equilíbrio entre o lixo e coisas de qualidade na música brasileira. Com o advento da internet e o fim das rádios como referência musical houve uma transformação. Hoje só quem realmente está antenado sabe que há muita coisa boa rolando por aí, mas para as massas é o que toca na TV comercial que define seus gostos (ou desgostos...). Abraço

Vinicius Valente disse...

Oi, muito prazer! :)

Achei interessante esse post, porque eu só escuto música brasileira antiga. Quando coloco CD da Elis pra tocar, minha mãe até dá risada e fala que eu pareço mais velho que ela...rs

Realmente não dá pra comparar os artistas daquele tempo com os de hoje. Michel Teló, Luan Santana e Restart não podem ser levados a sério...rs Mas tem um pessoal muito digno sim. Vanguart, Clarice Falcão, Maria Rita... Todos muito legais, mas nem esses superam os gênios da nossa música das décadas passadas. :(

Um abraço.

Anônimo disse...

Placar 3x0 [por enquanto, pois a Margot ainda não acordou]. Por falta de conhecimento/ discernimento e excesso de energia, os jovens tendem a se entregar de forma 'visceral' ao que produz mais auê perto deles, independente de qualidade e valor. Foi assim e assim será, com Celly Campelo, Presley, Menudos, Bieber, The Wanted ou mesmo, dependendo da pátria-mãe, Mozart e Verdi. O Valente acima, pode-se dizer, é caso especial. Essa distorção é naturalmente corrigida, ou não, pela vivência e informação buscadas por cada um. Para uma visão minimamente ampla é preciso acumular algumas porradas no couro e mente e por isso 'analistas' devem ter 40 ou mais anos. Nem o Valente, que promete, - pela foto mostrada - pode analisar ainda, mas só curtir e incorporar os fluidos.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Amo tudo o q foi produzido pela geração de nossos pais, pela minha geração, pela sua, e vou até os anos 80 ... depois ... bem! o depois, com raras exceções, é uma M* ... #fato

rs

bjão

wair de paula disse...

Lu, escrevi recentemente sobre a falta de qualidade do que é veiculado da produção contemporânea da MPB. Sim, tem coisa boa, mas o que ganha as redes - e consequentemente a mídia - é muito ruim. Deve ter coisa nova muito boa por ai, mas somos inundados do pior que se produz, fenômeno q não ouso explicar pois não entendo. Claro que a idade te influencia, mas não limita.

Anônimo disse...

Essa discussão é profunda. Requer um exercício de alteridade. Hugo

Anônimo disse...

Não sei se está realmente vinculado à fixação na fase de juventude. Infelizmente a cultura no Brasil é relegada ao lixo e ninguém recebe informação sobre acontecimentos importantes na área cultural. Como dizer que Caetano é mais importante que Ari Barroso ou que Luiz Tatit, ou que Tom Jobim, ou que Guinga? Como dizer que Elis é mais importante que Carmen Miranda ou que João Gilberto, ou que Ná Ozzetti, ou que Mônica Salmaso? Todos são grandes em sua arte e importantes no momento histórico em que estão inseridos. Falta a gente conhecer o impressionante panorama da música brasileira, coisa que só acontece se depender do interesse de cada um. Há momentos de grande efervescência, como o desabrochar do samba nos anos 30, a bossa nova nos anos 50, a tropicália e época dos festivais entre 60 e 70, a vanguarda paulista dos anos 80, em que jovens geniais aparecem com uma nova proposta, mas este é o país da boa música, embora uma apreciação superficial, feita pelo que a mídia impõe, nos faça suspeitar do contrário.
Fernando

M. disse...

Anonimo querido(rsrr) as 11:51 hs eu já estava de pé a muitas horas, com almoço pronto e pronta pra dormir de novo!!! kkkk

Mas, quanto ao post, concordo com o Luciano em tudo. As músicas que ouvi em criança/adolescente/juventude, não se equiparam as de hoje. E por incrível que pareça cresci ouvindo mais música italiana que as brasileiras. Mas, tanto as de fora como as daqui eram e serão eternas, nas mentes dos que as viveram, assim como as de hoje serão na mente da juventude de hoje...infelizmente!

Estou atrasada nos coments.... tenho dormido demais...kkkk

Abraços Luciano.