segunda-feira, 18 de abril de 2011

Posso te chamar de veado?

Por muitos e muitos anos palavras foram criadas para achincalhar os homossexuais. Bicha, veado, boiola, e talvez uma centena de outras - todas com uma pesada carga de preconceito. Para diminuir o impacto do escárnio provocado por estas palavras, os homossexuais se apoderaram delas usando-as no trato entre amigos. Assim, não há nada de errado se o gay cumprimenta o outro amigo gay na boate com um "Falaí, bicha, tá boa?". Mas a frase pode ter um significado muito diferente quando é dita em outro contexto. E é justamente aí que o jornalista Rica Perrone erra redondamente quando afirma que não há nada de errado quando a torcida chama alguém de veado.

Rica Perrone parece ser daquele tipo burrinho que para entender precisa fazer um desenho. É uma pena que, apesar de patrocinado pelo Globo Esporte, ele não esteja assistindo a Coração Insensato. A lição está sendo passada direitinho na novela. Natalie Lamour (Deborah Secco) e Roni (Leonardo Miggiorin) se tratam de bicha e veado o tempo todo, carinhosamente. Mas quando o irmão dela (Ricardo Tozzi) chamou Roni de veado o mundo veio abaixo. Roni reagiu com "Repete se for homem!" e Natalie explicou didaticamente com mais uma de suas pérolas impagáveis "Eu posso porque sou veado honorário, só que nasci operada. Na sua boca é ofensivo!"


No último sábado houve outra cena ótima para repassar a lição. Desta vez foi o próprio irmão da Natalie, Douglas - agora já mais bem informado - que saiu em defesa do amigo Roni, explicando ao homofóbico Kleber (Cássio Gabus Mendes) a diferença que a palavra faz dependendo da boca de quem sai. Esta lição deveria ser obrigatória no ensino médio.

E agora, Sr. Perrone, ainda vai precisar do desenho?

12 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Perfeito! Mais q perfeito!

CIELLO disse...

Nem preciso comentar nada! tá Mais q perfeito 2!

TONY GOES disse...

Tem gente tentando suavizar o que o Perrone falou, dizendo que ele é do bem e etc. Por isto mesmo fico com mais raiva ainda, porque ele é jornalista e devia conhecer melhor as coisas antes de falar merda.

ADRIANO disse...

Seu post Luciano, me fez lembrar uma passagem da minha vida:

Minha Mãe não era preconceituosa, mas era uma pessoa simples (porém sábia e amorosa).

Então me dei conta que ela teria dificuldades em lidar com o preconceito alheio, com as conversinhas e com as palavras pejorativas usadas para definir quem não era hétero.

Quando me assumi gay, eu fazia uma brincadeirinha sem ela perceber, para tirar a sua sensibilidade (e minha também...)do tom pejorativo das palavras usadas para nos rebaixar.

Eu dizia :

_Mãe, a senhora sabia que o seu filho "o Adriano" é um... homossexual, gay, veado, boiola, bicha, queima-rosca, baitola, frutinha...

Enumerava um monte de nomes em tom jocoso até tudo terminar em risada. E assim a gente levava a vida fazendo essa "terapia"(ME DEI CONTA DISSO AGORA!), e tudo ficava mais leve e fácil, reduzindo a homofobia ao ridículo.

Anônimo disse...

Concordo, conotação faz uma grande diferença!...mas para alguns realmente é necessário desenhar, é difícil mas desenhamos rs!

Papai Urso do Interior disse...

A globo pensa assim, já que o país não lê cabe a TV catequizar os brutos [e homofóbicos]! Monique Evans é minha Natalie Lamour favorita, dela aceitava qualquer chiste, mas só dela... Mas mudando um pouco a área de cobertura, aquele Roni precisava ser do núcleo humor? Na globo, a gente só serve pra ser circo de hetero? Pouco, pouco, pouco... Luciano sei que sua vibe é mais internacional, mas há uma musiquinha aparentemente inocente do Roupa Nova que diz tudo: Pra Ser Mais Feliz, se ela não foi pensada pra comunidade lgbt, então eu não sei mais o que é. Abços.

S.A.M disse...

É um idiota, que foi rechaçado lá mesmo no blog dele. Infelizmente idiotas como ele sempre haverão, por isso temos de fazer nossa voz cada vez mais ser ouvida.

Parabens pela abordagem.

Abração! ^^

Giuliano Nascimento disse...

Podem me chamar do que quiser, desde que a intensão não seja tentar me diminuir. Nós "pacote combo gay - com suas intermináveis variantes" precisamos saber o nosso exato tamanho, nem mais nem menos o ideal.

PS: Gostei muito do conteúdo e forma do blog, já favoritei.

Bee Shakulta disse...

Posso te chamar de veado? NÃO! Veado é um quadrúpede,corneocéfalo (chifrudo no popular), ruminante e irracional (burro no popular). Uma resposta dessas destrói qualquer senso de humor quaquá de quem pergunta, ha ha ha ha... mas ativa o meu senso de humor... ha ha ha ha... Atóóoóro!

Lobo disse...

Apesar de ter achado as cenas um pouco forçadas, eu concordo inteiramente com o que foi dito.

Pena que eu seja um péssimo desenhista hahaha

Uma Cara Comum disse...

Pois é... nem me dei ao trabalho de postar minha opinião pra esse jornalistazinho... dá uma preguiça mental... Valeu, Lu, pelo excelente trabalho de desenho... rs. Abração!

Paulo disse...

Lendo teu post me fez lembrar de uns lances que ouvia quando estive aí na sua cidade. O povo daí usava muito um termo: "zé ruela". Eu achava ele escroto demais.