Paul Botha e Albert Marton pouco antes da cerimônia de casamento na Cidade do Cabo, em foto publicada no New York Times |
Um dos fatos que tem causado surpresa é que cerca de 80% dos casais são Afrikaners, a minoria branca que é tradicionalmente homofóbica e extremamente religiosa. A grande maioria negra e pobre que mora nas grandes comunidades ainda não teve a coragem de ficar de pé e se assumir. E ainda há empresas que simplesmente se recusam a prestar serviço nos casamentos homossexuais alegando "princípios religiosos".
Mas a grande vantagem é que a legalização dos casamentos está contribuindo para aumentar o debate e diminuir o preconceito. Todos sabemos que não há lei ou decreto que acabe com o preconceito da noite para o dia - este é um trabalho longo e lento, e ingrato. Até mesmo no Brasil, se a lei fosse aprovada hoje, isso não significaria que a população gay de Sapopemba do Riacho Comprido ou de Jaboatão da Vargem Grande poderia sair às ruas e se sentir segura.
Um comentário:
Não achei esse dado surpreendente.
O mundo gay vísivel na África do Sul é basicamente formado por brancos. É só ir em bar, balada, praia, pegação ou o que for, que praticamente todo mundo será branco, apesar de representarem apenas 10% da população total do país. E os afrikaners são 60% dos brancos, os outros 40% falam inglês como primeira língua.
A explicação que recebi para esse fato é que a cultura africana (negra) é extremamente homofóbica e ser "gay" é um suicídio social-familiar-psicológico para a maioria esmagadora dos negros sul-africanos. É só lembrar da perseguição aos homossexuais em outros países na África, como Uganda. E lembrar que na própria África do Sul muitos políticos negros de altíssimo status negavam a existência de AIDS, diziam que era só tomar banho depois de sexo para evitar o contágio e coisas assim.
(vale lembrar que os altíssimos índices de HIV/AIDS entre os negros sul-africanos - quase 14% da população total! - e nos países vizinhos - passa de 20% em alguns - são resultado de transmissão via relações heterossexuais)
E a explicação que recebi para a legalização do casamento gay foi que alguns gays (brancos) eram muito bem posicionados e participantes na luta anti-apartheid. E conseguiram usar dessa influência para enfiar alguns direitos gays (inclusive algo como união de fato) nas reformas que se seguiram ao fim do regime de apartheid, mesmo sendo a maioria do país extremamente homofóbica. E depois isso evoluiu em 2006 para união civil entre pessoas do mesmo sexo.
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