domingo, 21 de novembro de 2010

"Sempre que um grupo de seres humanos é tratado como inferior por outro, o ódio e a intolerância triunfam"

A frase que serve de título para esta postagem é do arcebispo emérito Desmond Tutu e faz parte do excelente artigo assinado por Navi Pillay, alta comissária das Nações Unidas para os direitos humanos, publicado na Folha de S. Paulo de hoje. O artigo pode ser lido aqui (para assinantes).

Uma das prioridades de Navi Pillay no momento é a luta pela descriminalização da homossexualidade. "Ainda que importante, a descriminalização é apenas o primeiro passo. A experiência mostra que são necessários maiores esforços para combater a discriminação e a homofobia.
Infelizmente, acontece com demasiada frequência que aqueles que deveriam usar de moderação ou exercer a sua influência para promover a tolerância fazem exatamente o contrário, reforçando os preconceitos." 

Na semana que passou o Brasil desceu a níveis inimagináveis de barbárie e covardice contra homossexuais. Navi Pillay chama toda a população a lutar contra o preconceito: "Compete a todos nós exigir a igualdade para nossos semelhantes, independentemente de orientação sexual e de identidade de gênero".

4 comentários:

Luciano disse...

A íntegra do artigo:

HOMOFOBIA E A VIOLÊNCIA DA INTOLERÂNCIA
por NAVI PILLAY

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Todos temos a obrigação de combater a intolerância e o preconceito e de exigir que os agressores, motivados pelo ódio, respondam por seus atos
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Seth Walsh tinha 13 anos quando foi até o jardim da casa onde morava com sua família, na Califórnia, e se enforcou. Seth é um dos seis adolescentes que sabemos que se suicidaram nos EUA, só em setembro, devido ao que sofreram nas mãos de perseguidores homofóbicos.
Nas últimas semanas, vimos acontecer uma série de ataques contra gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais no mundo. Em Belgrado, no dia 10 de outubro, um grupo de manifestantes atirou coquetéis molotov e granadas paralisantes contra uma parada do orgulho gay, ferindo 150 pessoas.
Em Nova York, em 3 de outubro, três jovens homossexuais foram sequestrados, levados para um apartamento desabitado e torturados.
Na África do Sul, realizou-se em Soweto uma manifestação para chamar a atenção para as violações contra as lésbicas nas "townships", atos que os seus autores tentam justificar como uma tentativa de "corrigir" a sexualidade das vítimas.
A homofobia, como o racismo e a xenofobia, existe em diversos graus, em todas as sociedades. Todos os dias, em todos os países, indivíduos são perseguidos, violentamente atacados ou mesmo mortos devido à sua orientação sexual.
Quer seja explícita, quer não, a violência homofóbica causa um enorme sofrimento, que é frequentemente dissimulado sob um véu de silêncio e vivido na solidão.
Chegou o momento de fazermos ouvir nossa voz. Embora a responsabilidade pelos crimes motivados pelo ódio recaia sobre os que os cometem, todos temos a obrigação de combater a intolerância e o preconceito e de exigir que os agressores respondam pelos seus atos.
A prioridade inicial é descriminalizar a homossexualidade. Em mais de 70 países as pessoas podem sofrer sanções penais devido à sua orientação sexual. Essas leis expõem os indivíduos à detenção, à prisão, até a tortura ou mesmo à execução e perpetuam o estigma, além de contribuir para um clima de intolerância e de violência.
Ainda que importante, a descriminalização é apenas o primeiro passo. A experiência mostra que são necessários maiores esforços para combater a discriminação e a homofobia.
Infelizmente, acontece com demasiada frequência que aqueles que deveriam usar de moderação ou exercer a sua influência para promover a tolerância fazem exatamente o contrário, reforçando os preconceitos.
Em Uganda, por exemplo, onde a violência contra as pessoas com base em sua orientação sexual é comum, um jornal, no dia 2/10, publicou uma matéria na primeira página identificando cem ugandenses como gays ou lésbicas, colocando ao lado de suas fotos a frase: "Enforquem-nos".
Temos que denunciar esse tipo de jornalismo como aquilo que é: incitamento ao ódio e à violência.
No país, os ativistas de direitos humanos que defendem os direitos de gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais correm o risco de serem perseguidos ou detidos.
No mês passado, em Genebra, falei sobre a descriminalização da homossexualidade em um painel promovido por um grupo de 14 países.
No evento, o arcebispo emérito Desmond Tutu manifestou seu apoio, falando apaixonadamente sobre as lições do apartheid e sobre o desafio de assegurar a igualdade de direitos para todos: "Sempre que um grupo de seres humanos é tratado como inferior por outro, o ódio e a intolerância triunfam".
Não deveriam ser necessárias mais centenas de mortes e espancamentos para nos convencer disso.
Compete a todos nós exigir a igualdade para nossos semelhantes, independentemente de orientação sexual e de identidade de gênero.
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NAVI PILLAY é alta-comissária das Nações Unidas para os direitos humanos.

Gui disse...

Lindo artigo. Fiquei tocado.

Fernando disse...

Luciano,

Adorei o artigo, adorei o texto. Mas níveis inimagináveis de violência?

Inimagináveis dentro da bolha que Ipanema e a Paulista representam dentro do Rio e SP. Porque em qualquer cidade do interior, até mesmo qualquer subúrbio de uma dessas duas cidades todo mundo sabe o que acontece periodicamente com travestis e gays mais afeminados. Inclusive de autoridades, como no caso do Arpoador.

Beijos,
Fernando.

Fernando disse...

Correction: Inclusive pela parte de autoridades