quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Design para tortura

Existe um novo tipo de câmara de tortura de turistas incautos que atende pelo nome de "hotel design". Teoricamente, um hotel design é um hotel que tem uma linguagem visual específica diferente do convencional. Em português claro, no hotel design o interruptor não tem cara de interruptor, a chave não tem cara de chave, e a pia não tem cara de pia. Os elementos têm um design exclusivo que transformam o hotel praticamente em uma obra de arte. É um efeito realmente fantástico que desafia a mente e agrada aos olhos. Até que você se hospede em um. Aí você descobre que admirar uma obra de arte é uma coisa - tentar viver dentro de uma obra de arte é outra coisa bem diferente.

Eu fiquei hospedado em Buenos Aires em um hotel design. Quando fiz as reservas, foi amor à primeira vista pelas fotos do saguão ultra "clean", as paredes metálicas no salão do café, o piso de vidro transparente na recepção, o quarto com uma parede toda de vidro com Buenos Aires lá embaixo, os móveis minimalistas - tudo muito sedutor nas fotos do catálogo. Mas basta entrar na obra de arte para os problemas começarem...

Chaves em forma de cartão magnético já não são novidade há mais de 20 anos. Mas a do hotel era um cartão quadrado branco com um microchip visível no meio. Entender o funcionamento correto para abrir a porta do quarto leva mais de 10 minutos da primeira vez. A gente tenta passar na frente do painel, deslizar como um leitor de cartão de crédito, esfregar no painel... e nada! Eu estava prestes a dizer "Abre-te, Sésamo!" três vezes em voz alta para ver se funcionava - só não o fiz porque a gente sempre tenta reter um pouquinho da dignidade. Eu tenho certeza que deve ter um monte de câmeras ocultas filmando os hóspedes enquanto um bando de sádicos está rolando de tanto rir na sala ao lado.

Depois teve a pia do banheiro em formato de caiaque - lindíssima na foto, mas nem um pouco prática na hora em que a gente precisa fazer coisas simples como lavar as mãos ou escovar os dentes. Ou a porta do banheiro toda de vidro - que deixa o quarto iluminado se o seu companheiro de quarto está usando o banheiro no meio da noite. Ah, e tem também o vaso sanitário - que deve ter sido projetado para bundas design, que não é o caso da minha.

Um certo dia eu vi um casal apostando se a estrutura metálica ao lado do elevador era um bebedouro ou um cinzeiro. Eles saíram sem entender. Fui verificar - era um cinzeiro mesmo.

Por fim, o cúmulo: a "atitude design". Todo o staff do hotel tem um ar blasé e não olha na cara dos hóspedes. A gente vai chegando perto e eles começam a olhar para o chão. Quanto mais a gente aproxima, mais para baixo eles olham.

O tempo todo eu me lembrava daquele episódio da primeira temporada de Ugly Betty em que ela passa um final de semana em um hotel design em Nova York. Parece piada, mas é assim mesmo:





12 comentários:

SG disse...

"Ah, e tem também o vaso sanitário - que deve ter sido projetado para bundas design"

Huhauahuahuahauhauhauahuahuaha!

marta matui disse...

Odeio hotel design! Já fui obrigada a ficar em alguns e posso te dizer isso, odeio. Também não gosto de hotel muito moderno. Os hoteis que mais gostei foram os com cara de quarto de hospedes. Os que fazem a gente se sentir em casa. Buenos Aires tem vários assim, em Palermo está cheio. Da proxima vez de uma olhada lá.

David® disse...

gente...suas férias não terminam nunca?
volte logo Arlindo Orlando.

bjo

Lobo disse...

É por essas e outras que eu vivo dizendo que a beleza está na simplicidade... hahaha

Beijos Lú!

Anônimo disse...

eu fui trabalhar no méxico uma vez e me colocaram num desses.
o pior era o chuveiro no meio do banheiro, sem nenhum box, nada.
molhava tudo.
Até hoje não sei se eu não entendi e tinha algum segredo ou se era normal ligar a água e deixar molhar tudo mesmo.

Juro que investiguei e não encontrei resposta.

Abs,

Daniel

Anônimo disse...

Luciano, pela foto e pela descrição, acho que fiquei no mesmo hotel que você. Realmente muito bonito mas pouco funcional. Tivemos problemas com a cortina ultra-moderna, com a luz que vinha do banheiro, sem falar que ouviamos tudo que se passava no quarto vizinho. Abraços. Fabio SJC.

Luciano disse...

@Fabio,
A acústica realmente é um problema seriíssimo! No quarto ao lado do meu tinha um casal gaúcho (dava para identificar tudo que eles falavam e até o sotaque!) e eu acordei uma noite com a impressão que tinha alguém conversando dentro do meu quarto. Minha irmã estava no quarto de cima do meu e passou uma noite em claro com o casal do lado que teve uma sessão de sexo selvagem escandaloso.
Quando percebi que as paredes não bloqueavam o som, eu passei a deixar a TV ligada toda vez que estava conversando no quarto.
Abraço,
**

wair de paula disse...

Em Milão, o hotel Design Straff fica em um local ótimo, mas 1)o box não tem porta, e nem um rodinho par apuxar a água dos hóspedes com TOC como eu...a bancada da pia ficava na altura do tornozelo (juro), com a pia suspensa na parede. E a iluminação da cabeceira da cama (que era no meio do quarto) era tão escondida, mas tão escondida, que literalmente não achei. Arranquei a lâmpada da luminária, e pedi informações no dia seguinte, sob o olhar de critério do camareiro ultra chic...

beto disse...

bom saber que não sou o único a desprezar hotel-design, hotel-boutique ou o nome que se dê.

eu chamo esses hotéis de "como fazer idiotas pagarem muito por um quarto mínimo que mal dá pra por as malas dentro"...

nas minhas viagens, eu quero vivenciar o "design", a "boutique", o "charme" etc nas cidades e lugares que visito. o hotel eu quero que seja limpo, amplo, com bom chuveiro e atendimento, e preço justo. nada contra uma cadeia internacional, impessoal, que me ofereça isso tudo. aliás, muito a favor.

Lucas disse...

Passei mal rindo! Hahahahahahahaha!

Anônimo disse...

Sou designer e vou ali esconder a vergonha que sinto agora, volto sei lá quando...

Anônimo disse...

Adoro hotel design!
Eles fazem a gente ver que tudo pode ser diferente.
Quanto a atitude do staff que vc fala, não tem a ver com design, e sim com terceiro mundo.
Só em países que tem complexo de inferioridade, os funcionários com complexo de inferioridade são pouco simpáticos.
Se fosse em Londres, quanto mais design, mais informais e gentis seriam.