sábado, 15 de janeiro de 2011

A tragédia gráfica

   Cena de salvamento em Nova Friburgo, da galeria de imagens do G1
Uma das coisas que chamam a atenção na catástrofe da região serrana do Rio, e que também pode ser observada nas últimas grandes tragédias que afligiram o mundo, é a quantidade de fotos e vídeos detalhados, tanto de amadores quanto dos profissionais da mídia, que possibilitam que qualquer pessoa tenha uma visão exata da dimensão do desastre. Como quase todo mundo tem um celular equipado com câmera nos dias de hoje, os grandes eventos podem ser cobertos por cinegrafistas amadores - muitas vezes protagonistas ou participantes que acabam cobrindo o próprio drama.

Uma tragédia muito parecida aconteceu em março de 1967 em Caraguatatuba, que oficialmente só contabilizou menos mortos porque não havia registros da população rural que desapareceu. Vilas inteiras foram soterradas com suas populações, e até um ônibus lotado de passageiros simplesmente desapareceu. Como as comunicações na época eram mais precárias, de imediato ninguém se deu conta do que estava acontecendo. Pessoas que tentavam acessar a cidade e topavam com estradas ou pontes caídas voltavam com a notícia que o acesso estava impedido, mas ninguém tinha a menor ideia sobre o que estava se passando do outro lado. A inquietação começou a aumentar depois de alguns dias, até que começaram a chegar alguns relatos transmitidos por rádio-amadores que começavam a desenhar o tamanho da tragédia. As notícias chegavam em doses homeopáticas que suavizaram o impacto do evento. A hecatombe aconteceu no dia 18 de março, mas só no dia 13 de abril é que um carro do DER e outro do grupo Estado conseguiram pela primeira vez chegar até a cidade saindo do Vale do Paraíba.

Um dos primeiros grandes eventos da nova era da mídia que eu me lembro foi a operação Tempestade no Deserto. Era a guerra transmitida em tempo real. A guerra online. E de lá pra cá as coberturas ficaram ainda mais eficientes. Todo mundo viu o vídeo do exato momento do terremoto no Haiti com a cidade virando poeira vista do alto de um morro. Há na internet cenas espetaculares do tsunami da Ásia feitas por turistas e moradores. O desabamento das torres gêmeas do WTC em Nova York pode ser visto de vários ângulos. O vídeo impressionante da senhora sendo salva da enchente por uma corda em São José do Vale do Rio Preto foi parar na capa do New York Times no mesmo dia. Até desastres menores, como o caso das agressões homofóbicas na região da Paulista, tiveram impacto e reviravoltas por conta das imagens gráficas inquestionáveis.

Neste mundo cada vez mais plugado qualquer sala de estar com uma TV e uma conexão com a internet se transformam em uma espécie de "sala de situação" de guerra.

3 comentários:

Daniel Cassus disse...

a guerra do golfo foi a 1a grande guerra do mundo via satélite (e o boom da CNN). Depois veio a do Kosovo e o boom de internet. No Afeganistão e Iraque foi a vez das videochamadas e equipes cada vez menores.

ManDrag disse...

e como sempre tudo vira espectáculo na sociedade do entretenimento.

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Eu: Alemberg Santana disse...

Como praticamente tudo na vida, esse fenômeno tem dois lados: notícias em tempo real e o fim da privacidade. Agora equipados com câmeras e afins, qualquer pessoal, torna-se um alvo em potencial para um grande escândalo, notícia bombástica ou um simples video casseta: ATENÇÃO BIBAS que curtem pegação em parques - vocês estão sendo filmadas kkk!