sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Gays 50ões, 60ões, 70ões

A única forma de manter um corpinho sarado e trincado para sempre é morrendo cedo, e isto ninguém quer. Se você pretende ter vida longa então é bom se preparar para a velhice.

Existem poucos registros de gays idosos. Barrigas flácidas, rostos enrugados, cabelos brancos e ralos não rendem boas fotos. Mas esta é a realidade dos gays que lutaram pelas primeiras aberturas do movimento há décadas atrás. E vai ser a realidade de todos nós que almejamos uma vida longa.

Há quarenta anos atrás a cena gay não era dominada por corpos talhados em academia usando calças jeans justas e sem camisa batendo cabelo na pista da boate. Há quarenta anos atrás não havia cena gay. Os homens gays da época, senhores respeitáveis que usavam calça de tergal e camisa social, identificavam seus pares na rua por meio de uma série de códigos secretos que incluíam olhares furtivos e gestos de duplo sentido.

Tudo isto está relatado de forma fascinante no premiado curta Bailão, de 2009, do diretor Marcelo Caetano, sobre um dos primeiros lugares na cidade de São Paulo onde homens gays se reuniam para namorar e dançar música lenta de rostinho colado. O filme tem duração de 16 minutos e pode ser assistido online mesmo, sem precisar baixar ou instalar nada no computador, por este link, clicando em "Assista". O documentário é uma preciosidade e contém relatos emocionantes de homens gays que viveram em uma época em que os encontros eram marcados pela clandestinidade. Sim, ser gay já foi muito mais difícil.

17 comentários:

DPNN disse...

Nos anos 80 o culto ao corpo sarado era ainda mais forte do que hoje, pelo que me lembro. Era uma febre de academias e anabolizantes, e o mundo gay era isso ao quadrado.

já fui ao Bailão algumas vezes, é bem bacana, ainda mais para quem vai se sentir deslocado nas outras casas e não que abrir mão de sair pra se divertir. O único problema da casa é a superlotação, lá penas duas da manhã (no sábado), é impossível se mover, quanto mais dançar. Pior do que metrô em horário de pico!

Uomo disse...

Luciano vc é tudooooo...
Assisti esse documentario final do ano passado e fiquei louco pra ter acesso a ele, tanto pra assistir novamente como para colocar o link no blog. Vc é fabuloso!
Esse doc foi um murro na boca do meu estomago. Estamos vivendo num mundo que prega que ser gay é ser jovem. E esse documentario além de mostrar o qnto já foi dificil ser gay, mostra que o tempo passa pra todos. Um dia vc acorda e ver que continua gay mas, com mais idade que antes, menos viço, barriga flácida, rosto enrugado e cabelo branco.

beto disse...

depois de discordar bastante do seu texto anterior... não podia deixar de te elogiar por chamar atenção para esse documentário...

e adorei sua frase de abertura do texto!

quase ninguém se prepara para a velhice - acho que mais ainda no mundo gay, onde a falta de uma prole nos permite ser eternos quase adolescentes mentais. mas a velhice chega. e, em muitos casos, sem um companheiro/a ao lado. é bom aprender a fazer limonada, caso a vida te empurre uns limões.

Filipe Meireles disse...

Conheci o Bailão no fim de 2009, e foi como a realização de um sonho (o caipira capixaba na cidade grande...rsrs)

É incrível a sensação de estar num lugar de música e público tão democráticos, e claro, com tantos homens na faixa etária que eu gosto.
Dá pra sentir a importância do Bailão para a maioria deles, como um lugar de aceitação num mundo gay que tanto valoriza a pouca idade e um corpo malhado.

Muito obrigado Luciano, por trazer este assunto e o curta à luz da discussão.

Anônimo disse...

Tem como não amar esse blog? Mais uma vez, um post maravilhoso. Mais uma vez, parabéns pelo seus post's. Abraço.

MM disse...

Well, o Bailão é relativamente novo. Antes, havia ali o HS (Homo Sapiens) que foi para onde a cena gay (sim, ela existia e pegava fogo) migrou quando o Medieval fechou. Por lá não se dançava de rosto colado, não. Era o povo pulando muito o sons da disco. Claro que os corpos não eram malhados, porque o padrão de beleza era outro (homens magros e com muito cabelo no corpo). E por volta do meio dos anos 70 a cena gay acontecia nos bares do Largo do Arouche e tb nas imediações do cine Copan e Edifício Itália. Sem falar que a Galeria Metrópole, antes de tudo isso, era reduto gay da cidade. Os senhores bem comportados de roupa social frequentavam o Caneca de Prata, na Vieira de Carvalho, conhecido nas internas como INP - tá lá até hj do mesmo jeito. Enfim, a comunidade gay em São Paulo sempre foi fervida pelo menos desde que eu conheço. Enfim, é interessante ver como os mais jovens enxergam um mundo que não conheceram. E as mitologias que se formam a partir disso.

MM disse...

Oooops, "o Caneca de Prata era conhecido nas internas como INPS".

Kleberlourenco disse...

Dancei muiiiiiito no HS.
Na Corintho tinha sempre meia hora de lentas e a gente dançava de rosto colado!!!!!
OOOO tempo BÃO!!!!!!

Papai Urso do Interior disse...

Adorei! Adorei! Adorei! Não sei o que vc anda fazendo/tomando/vendo/ouvindo, mas por favor keep going on, pois tá lhe fazendo bem demais... Esse texto dos post foi fodástico ao infinito, sou 30ão e acho um absurdo não ver ninguem 50ão, 60ão, 70ão em capas de revista, gravando discos, escrevendo livros e falando sobre suas vivências gays sem essa neurose estética que se abateu sobre todos nós. Só por hj não usarei adoçante, só por hj não puxarei ferro, só por hj ouvirei os que sentiram o que sinto em outros tempos... Quem não envelhece, morre - fato.

Anônimo disse...

Muito bacana esse vídeo e muito obrigado por ter acesso a ele. Beijos a você a a todos! Paulo.

RICARDO AGUIEIRAS disse...

Quero, muito, agradecer ao proprietário desse blog, em primeiro lugar por textos tão bons e essenciais e em segundo por ter postado, aqui esse filme onde eu sou um dos que dá depoimento, sou o tatuado, o velho tatuado num mundo onde acham que velhos não podem ser tatuados nem terem desejos. Mas o Desejo impera e vence tudo! Obrigado, fiquei emocionado, por que adorei participar desse filme do premiadíssimo Marcelo Caetano!
Beijos, Ricardo Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br

Marcus disse...

Hola ! nunca fui ao Bailão quando visitava Sampa, nunca conseguia tempo suficiente entre uma coisa e outra...Como carioca, Sampa sempre me fascinou como Urbe e seus personagens anônimos. Aqui na España o conceito de beleza é mais democrático e o as pessoas chamam " os sarados" de winstrolados !! Assim, que de uma maneira geral os corpos bombados e hipertrofiados nao sao bem vistos por estas terras de Cervantes. Por outro lado, o movimento Urso aqui é um dos mais fortes do mundo e aí se agregam todos, jovens, maduros, gorditos, magrinhos...Aqui, com certeza a estética é plural e bem aceita ! Saludos

Luciano disse...

@Ricardo Aguieiras:
Obrigado pela visita ao blog e por deixar seu comentário. Há muito acompanho sua contribuição para o movimento gay. Sua passada por aqui engrandeceu o espaço.
Grande abraço,
**

Unknown disse...

Interessante que o meu estranhamento ocorre justamente quando leio que o "mundo gay" é feito de aparências, juventude, corpos malhados. Porque não é o meu mundo. Então acho divertido quando vejo a "molecada" estranhando este "outro lado". :-) Muito válido esse documentário e este post! :-)

Uma Cara Comum disse...

Fantástico esse documentário!! Me apaixonei de vez... Acho que eu já nasci velho...

Abraços!!

railer disse...

legal. vou assistir a esse curta!

raileronline

Júlio Paiva disse...

Quando vi escrito bailão pensei de que se tratava do apelido dado ao relançamento do baile da antiga boate, Homo Sapiens, que de início achei genial como terapia para um "bom velhinho" em plena crise existencial, procurando os velhos amigos que teriam a minha idade, só não me dei conta dos inúmeros garotos de programa que é claro estariam na porta, jovens, enchendo a boate, bem, não entrei, apenas por que me dei conta de que um rio que passa só passa uma vez. Eram outros tempos.