terça-feira, 19 de julho de 2011

Um pai e um filho

Eu ainda não consegui processar direito a notícia do ataque ao pai e filho que estavam abraçados e foram confundidos com um casal gay. Passado o choque, algumas dúvidas ainda ecoam na minha cabeça:

A notícia teria tido a mesma repercussão se os dois realmente fossem um casal gay?

O que assombra mais a população: o fato de um pai e seu filho terem sido atacados covardemente, ou o fato de eles terem sido confundidos com gays?

Não é interessante, apesar de cruel, que outras pessoas sintam na própria pele o drama dos gays? Imagine sua vizinha religiosa com medo de sair à rua com a filha e ser espancada por serem confundidas com um casal de lésbicas. Será que ao expandir o círculo de possíveis vítimas não teremos um argumento adicional para a aprovação da lei anti-homofobia?

16 comentários:

Mr. Ácido disse...

Isso foi o fim do fim da pikada!!! Que absurdo pai e filho serem confundidos com gays. Devia haver uma lei que obrigasse os gays a andar com uma marcação bem visível para que isso não se repetisse. Algo como uma coleira, ou um adorno na cabeça. Isso é culpa destes gays que querem tudo igual aos héteros. Uns gays tem até a cara de pau de se vestirem como homens de verdade. Até confundem algumas mulheres ingênuas. Daqui a pouco vão entrar com ações na justiça pedindo para serem considerados pessoas. É um absurdo!!! (IRONIA MODE ON, pra deixar bem claro àquelas bees com problema de interpretação)

Tico disse...

Luciano, todas essas questões que vc levantou são importantíssimas de serem pensadas e debatidas. Algumas tbm passaram pela minha cabeça, mas só passaram, pq desde o primeiro momento q eu vi a notícia na TV, na hora em que almoçava, só consegui perder o apetite e me alimentar de ódio, pensar ódio, sentir ódio, muito ódio.
Não sei se foi pela orelha arrancada, se foi pelo fato de serem pai e filho, se foi pela covardia de serem 7 contra 2. Não sei e não quero saber. Hoje eu só quero me dar o direito de não pensar em nada e aceitar o ódio q estou sentindo.
A única decisão que tomei é que vou requerer a minha arma a qual faço jus devido ao meu cargo, pq homofóbico filho da puta nenhum vai me matar de porrada. Pelo menos não antes de levar pelo menos um deles comigo.

FOXX disse...

na verdade, os héteros sempre foram passíveis de sofrerem ataques, eles agora tiveram o primeiro exemplo na TV.

Pedro Bitencourt disse...

Por mais cruel que possa ser, eu sempre pensei dessa forma: é preciso que as pessoas sintam na pele antes agredir/julgar/excluir...

Adoro a parte de QAF onde Justin monta uma armada pink contra os héteros... Seria bastante útil agora!

Uma Cara Comum disse...

Foda, né? Mas penso que muita gente acredita que esse é um tipo de bullying corretivo, à moda da personagem Cleycianne, né? Só pode ser esse o motivo de não aprovarem leis anti-homofobia...

Abraços!!

Flávio Amaral disse...

Nenhum fenômeno, por si só, gera exatamente uma mesma experiência. A coisa em si é tão ruim em tantos níveis. Pela violência em si, pela covardia do ataque, pelo fato de pessoas se sentirem no direito de agredir fisicamente outras pessoas apenas porque decidiram que o farão.

A gente torce para que a coisa resulte numa compreensão melhor do que significa ser gay numa sociedade assim, mas não é impossível que as coisas se passem exatamente como já ironizaram aqui nos comentários: a culpa é dos gays, que se não fossem o que são hetero nenhum seria confundido nem sofreria deste modo.

Por outro lado, é horrível pensar que parte da perplexidade venha do fato de - aparentemente - não serem gays (bom, são pai e filho mas quem garante que não sejam gays, também). É como me sinto quando leio "foi morto por engano", como se o alvo fosse o pretendido então estava certo matar/ter morrido.

Mas não vamos sonhar. Em seu maravilhoso livro (And the Band Played On: Politics, People, and the AIDS Epidemic) sobre o início da AIDS na São Francisco imediatamente após Harvey Milk, de quem era amigo, Randy Shilts nos informa que após um ano e cerca de 1000 mortes por AIDS, o alerta sobre a doença só ocorreu em um grande jornal como notícia importante porque uma mulher heterossexual contaminou-se em uma cirurgia onde recebeu sangue. Até então, como aparentemente só homossexuais tinham sido vítimas, ninguém nem tchuns. E ainda acho que é assim que a banda toca.

o Humberto disse...

Muito vergonhoso tudo isso, muito.

Muito interessante sua análise. Fica mesmo a pergunta, o que na verdade chocou tanto?

Acompanhemos até onde vai isso.

obs: que fim teve aquele caso da lâmpada fluorescente na Paulista, alguém sabe?

[ joe ] disse...

Seria um mal que veio para o bem? Tomara, né. Se já ocorreu, esperemos que dë algum bom resultado. Claro, uma lástima tudo que sofreram o pai e o filho. But then again, podia ter sido um casal gay, e ai? Seria tão lástima quanto, com a diferença de que a comoção coletiva seria bastante menor. É mesmo pra se pensar.

[j]

Alan Fins disse...

Oi, Luciano!

Também achei um grande absurdo o que aconteceu, mas pensando pelo seu ponto de vista, concordo que os "outros" deviam sentir mesmo na pele o drama dos gays para que tomem uma atitude a favor de direito humanos de verdade e para todos.

S.A.M disse...

Ótima análise sua, espero que pelo menos isso sirva pra sociedade compreender o tamanho do problema e que isso possa ajudar pela criminalização efetiva desse tipo de crime.

Anônimo disse...

Pois é ao ler a notícia em outro lugar , lá contava inclusive que pai e filho estavam ambos com as namoradas que teriam ido ao banheiro naquele momento. E pai então deu um abraço rápido no filho o convidando para tomar cerveja. Foi a hora da agressão.
Enfim, espero que isto mobilize a sociedade.

Papai Urso do Interior disse...

Sim expande mesmo esse limite e dá ao senso comum a ponta do iceberg do que a nação homo experimenta dioturnamente. Já que não há um mal que não traga um bem que seja esse fato o propulsor pra todos convergirem de vez pra criminalização dessa vergonha nacional que é homofobia, único crime que conheço que conta com conivência popular e amplo apoio de igrejas. Vergonha da raça humana cada vez mais.

Anônimo disse...

Nossa daqui a pouco todos(as)independente de raça, cor sexo, religião, idade, estarão andando como andrógenos pelas ruas sem se quer se olharem para não correr o risco de serem agredidos, era da robótica, ou seja os filmes de ficção científica vão virar realidade. credo!!!!

Dimas disse...

- Diante disso - nada a declarar - só lamentar...

CIELLO disse...

perfeito novamente... é a palavra... como eu gosto de passar meu tempo por aqui!

Alexandre Lucas disse...

Revoltante. Este país não vai pra frente nunca?